Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 23: URBIS I E II, OS GÊMEOS

Só os moradores destes dois bairros conseguem distinguir um do outro, pois são geminados
Tasso Franco , Salvador | 26/04/2023 às 08:55
Área do URBIS I em frente a BA-409
Foto: BJÁ
                                                                                                 
      Os bairros URBIS I e URBIS II são geminados. Digamos, assim, para melhor entendimento, gêmeos. Uma combinação de casas construídas num único terreno o Conjunto Habitacional Serrinha à margem esquerda da BA-409, a estrada estadual Serrinha a Coité, nesta direção. Na direção inversa, Coité à Serrinha, margem direita.

     Nasceu uno e depois de repartiu em URBIS I e URBIS II, mas, ainda hoje, é muito difícil distinguir um do outro. Francilene Carneiro, moradora antiga do URBIS II, ex-companheira de Mário Bento de Souza (Mário do judô aquele que foi assassinado, crime ainda impune) diz que o URBIS II começa no “Barretão” (quiosque DK) um “traille” fixo nas proximidades da Praça Renato Nogueira (URBIS I).

    O certo é o seguinte: a testada do conjunto onde se situa a Panificadora Maria do Carmo, desde a linha do trem (após o antigo Clube Locomotiva de Genebaldo Queiroz) é URBIS I; e o URBIS II nasce no “Barretão” (outros dizem que é na rua L) como divisa no Clube da Adelba.     
  
    Oficialmente (ambos) era o Conjunto Habitacional Serrinha e vai completar 40 anos de existência. São bairros consolidados e surgiram a construção de um conjunto habitacional da antiga URBIS financiado pela Caixa numa área, hoje, sem locais de expansão, uma vez que ao Sul passando a linha do trem faz divisa com o Novo Horizonte; a Leste com Caseb e/ou Vista Alegre; ao Norte com a Av ACM e o bairro Rodoviária e a Oeste com a BA-409 e o bairro Estádio.

   Vale observar o seguinte: o URBIS I faz divisa com o URBIS II a Leste; e o URBIS II nesta mesma direção faz divisa com o bairro Caseb; e uma outra área deste bairro, ao Sul, com o bairro Vista Alegre. Ademais, os moradores do URBIS II dizem que o Complexo Esportivo da Sudesb fica no seu bairro. 

  A HISTÓRIA 

  A Habitação e Urbanização da Bahia (URBIS) foi criada pela Lei no. 2.114, de 4 de janeiro de 1965, como uma empresa de economia mista, para operacionalizar a política habitacional do Governo do Estado, vinculada estruturalmente à então Secretaria do Trabalho e Bem Estar Social.

  Pela lei nº 7.435 de 30 de dezembro de 1998, a Habitação e Urbanização do Estado da Bahia S/A (URBIS) foi liquidada e as políticas governamentais responsáveis pelos conjuntos habitacionais e expansão urbana na Bahia foram transferidas à CONDER, que passou a ser chamada de Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, seu atual nome.

  O Conjunto Habitacional Serrinha - nunca pegou esse nome - e o bairro é conhecido como URBIS nasceu no início da década de 1980 quando a estrada para Coité ainda não era asfaltada. Lembra o caminhoneiro Moacir Elias dos Santos, que "vim morar em 1984 quando Zé Roberto Vilella, o qual tinha 5 ou 6 casas na URBIS, cedeu-me uma das casas, pois, eu dirigia uma carreta para ele, e me encontro ainda hoje no Caminho 1, que é a rua principal, paralela à estrada para Coité".

  A irmã de Zé Roberto, Dialeni Oliveira Vilella, ex-presidente da Associação de Moradores (criada pelo Senhor Dermeval) e também antiga moradora do bairro, vizinha de Moacir, conta que seu irmão adquiriu um corredor de casas - da atual Panificadora Maria do Carmo onde ela mora - e o bairro, que era eminentemente residencial, aos poucos, foi incorporando casas comerciais e de serviços, especialmente no Caminho 1 e na Rua F, as principais, recebeu urbanização - calçamento - na primeira gestão do prefeito Claudionor Ferreira da Silva (Ferreirinha) 1993/1997 e foi se organizando com o passar das décadas.

  "Eu, meu ex-marido Marlon (já falecido), meu filho Yuri e outros moradores fomos nós que plantamos as algarobas que existem no bairro, em todas as ruas, mudas que nos foram fornecidas pela Vale do Rio Doce". Lembra a ex-presidente da Associação que o bairro foi se estruturando graças aos moradores e a luta permanente da comunidade. "Trouxemos também com a ajuda da Vale um posto de saúde para o bairro, hoje, considerado um dos melhores dessa zona da cidade", frisa.

  Já a atual presidente da Associação de Moradores do URBIS I, Marilene Silva Santos de Jesus, explica que a entidade comunitária passou por dificuldades com gestões tumultuadas após Diaelni, e somente agora, a juíza de direito Lisiane Souza Alves Duarte nomeou de direito, em 16 de setembro de 2021, uma administração provisória para voltássemos a trabalhar. Marilene diz que essa descontinuidade no trabalho da Associação prejudicou o bairro e situa que, mesmo tendo trabalhando políticamente para a eleição do atual prefeito Adriano Lima, "o bairro está abandonado, com muito mato nas ruas e praças e sem qualquer tipo de melhorias, o que é péssimo", frisa.

  Percorremos algumas áreas do bairro e constatamos que, de fato, há um abandono com as principais praças - a das Algarobas e a Rubem Nogueira, ao lado da Av ACM - com a fonte d'água repleta de lixo e mato no entorno e a do Quiosque (URBIS II).

  Segundo Francilene Carneiro a pracinha do quiosque onde ela mora na URBIS II, ao lado de lojas de emplacadoras de veículos querem colocar o nome de Mário Bento, mas eu não aceito que isso ocorra diante do abandono em que está o local. “Se limparem tudo e arrumarem aí tudo bem”.

  Marilene, esposa do sargento PM Laurindo, residente há muitos anos com a familia numa casa da rua F, quase ao lado da capela Nossa Senhora do Pilar (URBIS I), diz que com a regularização da Associação vai reivindicar os direitos da comunidade junto a Prefeitura e outros órgãos públicos para obter melhorias no bairro. 

  Moacir diz que, mesmo assim, o URFBIS I (ou AMUS I) "é o melhor bairro de Serrinha e daqui não saio de jeito algum", frisa. Marilene e Dialeni também acham que o bairro é muito bom, hoje, perto de tudo, ao lado do Estádio, da UNEB, do Fórum Luis Viana Filho, so Shopping Serrinha, tudo isso fez com que se tornasse ainda mais valorizado.

  Já Franciene acha que o URBIS II é melhor do que o URBIS I por sua tranquilidade. 

  JÁ TEVE ATÉ UM BREGA

  "Toda essa área pertencia ao filho de Sêo Novaes, José Novaes, onde existia um matadouro, curral e salgadeira", aponta Marilene para um trecho próximo de sua residência que, com as casas da URBIS tudo se modificou.

  - A luta foi grande - narra Dialeni - pois nessa praça (das Algarobas) funcionava uma casa de prostituição de um homem conhecido como Deca Cearense, o qual arregimentava jovens novinhas da cidade e dos distritos para atender seus clientes. Nós brigamos muito, fomos a Justiça, colocamos a boca no trombone e a casa foi fechada. Posteriormente, o que a gente sabe é que Deca foi embora - creio pro Ceará - e mataram ele por lá.

  Conhecemos também Neném um dos principais empreendedores do bairro proprietário da Padaria Maria do Carmo - rua F - que tinha negócios do outro lado da estrada e mudou-se para o URBIS I, e, hoje, seu negócio é um dos principais do bairro (e da cidade) no gênero. 

  UM ATELIÊ DE ARTE

  No Caminho 1 se situa a Casa do Artista de Sirlândio Mattos - pintor, desenhista, escultor e artista da madeira - natural do Araci residindo há 15 anos em Serrinha e com seu ateliê no URBIS I desde 2020. "Moro na Av Getúlio Vargas com a familia e escolho o URBIS I porque dá mais visibilidade ao meu trabalho e os resultados que tenho alcançado são bons", comenta.

  COMO ESTÃO OS BAIRROS

  São bairros estruturados, quase todo com calçamento em paralelepípedos, residencial, porém, como muitas casas comerciais e de serviços, área de lazer com concha acústica na praça Rubem Nogueira e próximo ao Centro Esportivo da Cidade Nova (URBIS II) – recém reformado. Fica também próximo ao Colégio Estadual Rubem Nogueira, ao Colégio Estadual Normal de Serrinha e a UNEB o que atende seu alunado.