Cultura

A VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS, COLUMBINE E O ANTES TARDE DO QUE NUNCA (TF)

Abrem-se os olhos na Bahia e no Brasil para um problema antigo nas escolas do planeta
Tasso Franco , Salvador | 20/04/2023 às 11:13
Escola Segura, antes tarde do que nunca
Foto: Antonio Queiros
      Estamos vendo e ouvindo com frequência declarações do presidente da república, de ministros, governadores, juristas de renome da corte máxima e políticos de todos os partidos falando sobre a recente onda de violências nas escolas do ensino fundamental públicas no Brasil, falas as mais estaparfúdias, a maioria com viez político, ora apontando em direção do ex-presidente Bolsonaro, o qual teria incentivado à cultura do ódio; ora culpando os jogos eletrônicos; e ora creditando as novas tecnologias da internet como indutores da propaganda geradores de violência. Poucos falam da permissividade reinante na maioria das unidades escolares.

   Os educadores que estudam esse fenômeno há anos e o marco desses ataques com a morte de 14 pessoas, 12 estudantes assassinados por dois menores de idade, os quais também deram fins às suas vidas, aconteceu na Escola Columbine, Colorado, nos Estados Unidos, que completou 24 anos nesta quinta-feira, 20 de abril. A partir desse atentado - a tiros - os programas exibidos nas midias eletrônicas e nos provedores da internet foram exaustivamente analisados, pois, teriam sido apontados como fatores impulsionadores desse massacre, mas, não houve mudanças significativas nas telinhas - dos cinemas e dos computadores - e o culto (quase isso) a violência seguiu adiante.

   Naquela época, 1999, estreou a franquia Matrix, vivido por Keanu Reaves, o herói Neo, o qual adota roupa preta e usa óculos escuros, um traje que torna ainda mais impactantes as elaboradas cenas com tiroteios. O fato de os assassinos do Colorado também vestirem roupas escuras e fazerem parte de um grupo autointitulado “Máfia do Sobretudo” foi suficiente para uma associação com o massacre, relembra O Globo, hoje.

   Uma parte das  autoridades dos EUA apontou para os malefícios dos games. Há dois dias, o presidente Lula argumentou que os jogos eletrônicos são um dos fatores que aumentam os ataques violentos às escolas brasileiras. O chefe do executivo discursava sobre a responsabilidade dos pais na educação dos filhos quando defendeu que os jogos influenciam de maneira negativa as crianças.

  “Não tem game falando de amor. Não tem game falando de educação. É game ensinando a molecada a matar. E cada vez muito mais morte do que na Segunda Guerra Mundial. É só pegar o jogo que essa molecada [joga]. É o meu filho, é o filho de cada um de vocês. É [sic] os meus netos, é o neto de cada um de vocês”, declarou durante encontro com governadores, ministros e representantes dos poderes judiciário e legislativo.

  No massacre do Colorado os dois criminosos eram fãs de jogos de mortes em série, em particular de “Doom”. Mas também nesse caso o que mais surpreendeu foi a descoberta de que pelo menos um dos atiradores alardeava seu ódio a professores e colegas em chats e sites associados ao jogo. Chegou a ser denunciado, mas nada foi feito, segundo reportagem recente em O Globo de Alexander Freelander.

  No Brasil, os mais recentes ataques foram com machadinhas e, em Salvador, na ação desencadeada pela Polícia - previamente - houve apreesnsão de armas brancas (facas, facões, etc), de correntes e machadinhas e vários menores apreendidos. Esse, nos parece, o caminho mais apropriado para combater esses crimes, o uso da inteligência da Polícia para detectar os casos latentes e muitas vezes denunciados às direções de escolas e que não chegam a autoridade policial, até por medo que têm de falar.

  Então, de nada adiantam declarações creditando ao bolsonarismo a violência nas escolas, nem diretamente aos games e de forma isolada porque o furo é mais embaixo e há vários fatores em cena, em especial no campo da psicologia e o Brasil não está preparado para enfrentá-los adequadamente. Veja, por exemplo, que as escolas públicas da Bahia não tem psicólogos em suas grades docentes e que existem casos e mais casos de violência nas escolas, que são de conhecimento de diretores e professores e que não chegam a Polícia. 

  O governador Jerônimo Rodrigues instalou ontem o Comitê Estadual Intersetorial de Segurança nas Escolas e nos Espaços Educacionais da Bahia (Cise), durante reunião realizada no auditório do Centro de Operações e Inteligência (COI) da Secretaria de Segurança Pública (SSP), em Salvador. O objetivo é integrar órgãos, entidades da administração pública e representantes da sociedade civil, para uma atuação conjunta de políticas de segurança em unidades escolares. 

  Esse, sim, é o caminho adequado: ter informações de váras fontes para combater a violência agindo de forma preventiva. Lembrando, ainda, que, diante de problema que já existe há tantos anos, somente agora os governos do Brasil e da Bahia abriram os olhos para essa realidade. É de se dizer, antes tarde do que nunca. (TF)