Cultura

HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 18; TREZE NASCE NA LINHA DO TREM

Entre 1880 e 1900 a estrada de ferro (chemin de fer) seguiu de Serrinha para Bonfim e nasceu o bairro dos Treze
Tasso Franco , Salvador | 22/03/2023 às 09:30
Bairro dos Treze nasce com a linha do trem
Foto: BJÁ
     O bairro dos Treze - há quem escreva 13 numeral - é um dos mais singelos de Serrinha, localizado na zona Sudoeste da Cidade com rua principal à beira do trilho dos trens da Atlântico, antiga Leste Brasileiro. A rua principal é a rua Treze ou 13 e há indagações como teria surgido o nome desse bairro - na origem, ainda sem ser bairro, um dos logradouros mais antigos da cidade, porque nasceu em função da linha do trem, da construção da terceira etapa da estrada entre Serrinha e Bonfim (1880/1900), se representa o KM-13 da estrada férrea ou se surgiu um aglomerado de 13 casas.

  A versão mais aceita é KM-13, mas, ainda assim, fica a dúvida, pois, entre a Estação Rio Branco - sede da Atlântico em Serrinha - e a localidade dos Treze não atinge 13 km; nem considerando-se a distância entre a Estação de Barrocas (ex distrito de Serrinha) e a Rio Branco. É provável - versão mais plausível - que os primeiros habitantes desse logradouro no início do século XX diziam em suas andanças no centro de Serrinha, que moravam nos Treze. Daí, o nome pegou e se consolidou. 

  Essa consolidação se deu, sobretudo, quando o comércio de Serrinha - entre as décadas de 1970/1980 - estabeleceu a venda de produtos em materiais de construção e eletrodomésticos no crediário. Assim, nasceu a rua dos Treze com cep e a instalação de energia elétrica e água encanada. Era preciso, portanto, dar aos moradores um local de morada identificável para que o crédito fosse assegurado nas lojas.

  A estruturação do bairro deu-se no governo Osni Cardoso de Araújo, em 12 de junho de 2009, depois que a Câmara Municipal aprovou a lei 794/2009 modificando e instituindo a nomenclatura dos logradouros dos Treze, com 15 ruas, sendo as principais, a Aluízio Carneiro - que desce a BA-411 -, a professora Rainilda Araújo, a padre Nicássio Fernandes Pozuelo, a Emírio da Cruz, a padre Luiz Ademir Ferreira, a Manuel Nunes, a Continental, a dos Treze - principal, margeando a estrada de ferro, recentemente calçada com paralelepípedos.

  E mais, a Nossa Senhora da Anunciação, a Alfredo Mota, a Maria Pia de Jesus, a José Matias dos Santos, a Alfredo Mota, o Largo dos Treze - antiga baixa e fronteira com o Vila de Fátima -; a Ana Suzana Oliveira - antiga via de ligação entre a Getúlio Vargas e o Largo dos Treze - e a professora Miralda Macedo - cruzamento com o largo do Treze seguindo em linha reta ao antigo campo de futebol, margeando o açude da Bomba até a Getúlio Vargas.

  Essa é a configuração do bairro, atualmente, muitas dessas áreas - mais em direção a Fazenda Aluízio Carneiro, ao morro - integravam o loteamento Ninho do Poeta. A população dos Treze - a inicial - era de pessoas de baixa renda - carroceiros, ajudantes de pedreiros, barbeiros, auxiliares de alfaiate, etc - mas, hoje, na direção ao antigo loteamento Ninho do Poeta estão surgindo residências da classe média e alguns estabelecimentos comerciais.

  O QUE DIZEM OS MAIS VELHOS

  Conversei com o morador mais velho do bairro Faustino Pereira, 90 anos de idade, e contou-me que quando chegou no bairro tinha poucas casas e a rua era um caminho dentro do mato beirando o açude da Bomba. Quando o açude enchia causava medo de alagar tudo. Ele não soube me falar nada da origem (nome) do bairro e sua história. Natural que assim fosse uma vez que as pessoas populares não têm o hábito de fazer anotações.

  Entrevistei, também, José Modesto Rodrigues - conhecido como Sêo Branco ou o homem da casa em formato de avião - que chegou aos Treze em 1982 e cuja casa é uma das primeiras da rua - quase ao lado do início da Bomba. Marceneiro de mão cheia - trabalhou anos na Serraria de Dedé - diz que não sabe nada da história do bairro, mas, vivenciou seu crescimento e quem conhecia era um cidadão chamado Zacarias.

  Sêo Branco é um artista da madeira usa um carrinho de mão - feito por ele - para ir às compras na feira livre de Serrinha e diz que retirou a estrutura do avião da casa porque estava chamando muito a atenção. Hoje, só tem um catavento pequeno. 

 O QUE DIZEM OUTRAS PERSONALIDADES 

 (Maria Miralda Alves) - Este bairro tem uma representatividade muito importante em minha vida. Exerci cargo de professora na Escola de primeiro grau Aluísio Carneiro durante 20 anos, quando foi inaugurada. Deus abençoe a toda essa comunidade querida, que tanto amo. Bairro esquecido pelos políticos. Carente de projetos que visem o bem estar.

 (Sandra Santos) - Minha raiz. 

  (André Oliveira) - Não desmerecer. Mais para somar a história. Tem morador ainda mais velho no bairro que tem mais informações para completar a linda e sofrida história desse povo que teve várias décadas esquecida e abandonada a própria sorte pelo poder público.

(Jean Oliveira Lima Oliveira) - Lembro muito do São João dos anos 90.

   RIACHINHO DA BOMBA

  Quando eu era criança, na década de 1950, ia tomar banho no açude da Bomba numa área próxima aos Treze que a gente chamava de riachinho, uma língua d'água que formava num bom local para aprender a nadar. Um outro ponto era o riacho do Tiro de Guerra - este na baixada da Santa - que enchia com as águas que desciam do sitio do Oséas e iam desaguar na Bomba. Essas áreas foram aterradas e viraram esgotos. Creio que o riachinho da Bomba é, hoje, onde existe o larguinho dos Treze com a Vila de Fátima.

  Para chegar a esses locais, os garotos do Largo da Usina - onde hoje está a catedral - desciam por uma área rural atrás do posto fiscal do estado - nas proximidades do ponto do Araci - pulavam uma cerca e chegavam na baixada da Santa. Daí era só seguir a trilha da água por dentro do mato até chegar na Bomba. Menino não tem medo de cobra; nem da morte.

  Ainda na década de 2000 esse era o caminho que faziam para ir até a subida do Morro na sexta-feira santa: Descia a rua Bela Vista, pegava uma viela onde hoje existe um posto de gasolina, passava pela Rua dos Treze - a principal - e mais adiante havia um beco que dava na Vila de Fátima, daí até a 1º de Janeiro, seguindo para o Morro. (TF)

   LOCAL DE MORADA DO LOBISOMEM 

  Há um folclore no local dando conta de que o Lobisomem de Serrinha - um dos filhos do lubi original que morava no bueiro de Oséas, na Transnordestina, entre o sitio de Oséas e do meu avô Jovino Franco - morava numa oca no Pontilhão da Bomba, inclusive esse lubi se dava com muita gente tanto na Rua dos Tamarineiros; quanto nos Treze e pescava na Bomba. Era um lubi civilizado que gostava de carne - especialmente galinhas alheias, raposas, etc - mais apreciava peixes, as traias da Bomba.

  E mais, que frequentava a missa da matriz na época do padre Demócrito, comungava e para não assustar as pessoas com sua juba usava uma capa colonial. 

  O pontilhão ainda hoje existe, porém, o lubi se mudou do local porque o local virou um esgotão. Nesse pontilhão - nós, crianças da década de 1950 e outras gerações - pulavam na água do açude da Bomba, na época de cheia, como Tarzan, de cabeça. A Bomba - de uma forma geral - virou um pinicão e suas áreas estão sendo invadidas. (TF)