Cultura

ESPORTE É BRINCADEIRA E INSTRUMENTO EDUCAÇÃO, p RENATO PAES DE ANDRADE

Renato Paes de Andrade: Psicólogo, Mestre em Saúde Coletiva e Diretor executivo do Instituto Fazer Acontecer
Renato Paes de Andrade , Salvador | 08/03/2023 às 10:15
Renato Paes de Andrade
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  Tem um ditado entre surfistas que diz que o melhor surfista não é o mais habilidoso, mas aquele que se diverte mais. Nada mais natural. O que eu acho interessante é que os praticantes de todos os esportes não pensem assim. Afinal de contas, todos esportes, em suas origens, são brincadeiras.

  E quando falamos dos esportes como atividades para adolescentes, este aspecto tende a ser ainda mais importante. Os esportes, quando encarados como diversão tendem a ser inclusivos. Quem pratica esportes apenas a título de brincadeira, sem compromisso com performances e resultados, dando risada até de gol contra, ganha muito mais que partidas e títulos.

  É claro que o esporte de rendimento tem seu lugar e cumpre outras funções, mas enquanto instrumento educacional, pode não ser a melhor opção, posto que exclui os menos aptos e divide os praticantes por categorias, gêneros e graus de habilidade. O esporte encarado apenas como brincadeira permite a integração até dos que têm deficiências físicas, ou de qualquer outra ordem. Sob o ponto de vista de servir como laboratório para solidariedade e tolerância, por exemplo, são muitas as vantagens.

  No entanto, parece que sempre que se fala em esportes para os mais jovens, em especial para os adolescentes, a maioria das pessoas pensa em esporte de rendimento, em descobrir novos talentos olímpicos que levarão o nome do país aos pódios. O problema é que até para esta finalidade, pensar em esporte de alta performance como um fim em si está errado.

  Nas últimas Olímpiadas de Inverno, a equipe da Noruega foi a grande campeã. E seus técnicos e representantes, ao serem indagados sobre qual o segredo do país, tão menor em área e população que outros competidores, foram taxativos, o segredo é um programa nacional chamado “A Alegria do Esporte Para Todos”.

  A premissa do programa norueguês é simples, incentivar todos a participarem dos esportes sem a pressão da competição. Inclusive, é proibido contar pontos em jogos de crianças abaixo de 13 anos e não há rankings individuais para esta faixa etária. A ênfase é priorizar a experiência agradável e a diversão que todos devem ter ao pisar numa quadra ou campo. E para os adolescentes, não se exige o foco em uma determinada modalidade, todos devem aproveitar o universo esportivo da forma que acharem melhor. Os resultados virão naturalmente, como consequência natural do prazer da diversão. Foi assim que a Noruega foi campeã olímpica.

No caso brasileiro, em que temos grandes diferenças sociais, altos índices de violência e poucas oportunidades para os mais jovens, proporcionar a nossos adolescentes a possibilidade de praticar esportes meramente pelo prazer de brincar pode ter grande valor na formação de cidadãos mais tolerantes, mais solidários e mais dispostos a fazer amizades. O fator diversão é importante até para reduzir a evasão escolar. Em resumo, esporte é brincadeira. Esta visão pode nos levar a sermos campeões em cidadania.