Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 46 - CAPELA DE N.S. DA MEDALHA MILAGROSA

Uma área especial em Paris com comércio e residências de alto padrão
Tasso Franco , Salvador | 02/02/2023 às 08:16
Templo de fé na Rue de Bac, 140
Foto: BJÁ
   A visita a Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa é feita em silêncio absoluto. Trata-se do lugar onde a Bem-Aventurada Virgem Maria apareceu a freira noviça Catarina Labouré (santa desde 1947), em 1830, e pediu a criação da medalha que veio a ser conhecida como Medalha Milagrosa. 

   Irmãs da Caridade de São Vicente de Paulo orientam os visitantes e as mulheres que estiverem usando shorts e só entram no local depois que é coloca um pano azul - tipo saia. Os homens não podem usar chapéus ou bonés no interior do templo e fotos só são permitidas sem flash e em determinadas áreas.

   Diariamente, milhares de pessoas fazem orações nesta capela que fica localizada na Rue de Bac (estação do metrô tem esse mesmo nome) à margem esquerda do Rio Sena onde se situa a loja de departamentos Le Bon Marché, a primeira do gênero na cidade, ainda hoje uma das mais concorridas.

  Catarina Labouré era uma irmã do seminário (noviça) lá quando teve suas aparições por três dias sucessivos. Segundo relatos da Igreja Católica, São Vicente de Paulo mostrou-lhe o seu coração, cada vez com uma cor diferente. O coração parecia branco, a cor da paz; depois o vermelho, a cor do fogo; e depois preto, uma indicação dos infortúnios que viriam sobre a França e Paris em particular.

   Na primeira visita, na noite de 18 de julho de 1830, recebeu o pedido de constituição de uma Confraria dos Filhos de Maria. Mais tarde ela iria pedir a criação de uma medalha com a seguinte invocação: "Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós." A partir de maio de 1832, a medalha, se diz converter, proteger e realizar milagres, é considerada milagrosa pelos fiéis.

   A capela é belíssima e transpira paz. Catarina Labouré foi beatificada pelo Papa Pio XI, em 1933, e canonizada em 1947 pelo Papa Pio XII, 100 anos após a aprovação pontifical da Juventude Mariana Vicentina que ela criou juntamente com o padre Alabel. Seu corpo foi exumado em 1933, sendo encontrado incorrupto, e hoje é exposto à veneração na capela de sua Ordem, a mesma onde aconteceram as visões, na Rue du Bac, 140. 

  O acesso à capela é gratuito com uso de máscara contra a Covid era obrigatório em junho de 2022. Há, na área próxima à capela uma loja de produtos religiosos onde se pode adquirir as medalhas milagrosas, terços, livros e outros. 
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  A Rue de Bac, em Paris, é sui generis. Nela também está o Le Bon Marché, a primeira loja de departamento em estilo moderno da cidade, isso no século XIX, fundada em 1838, até hoje uma das mais frequentadas pela qualidade dos produtos vendidos, as grifes e as lojas tech. E há lojas chiques em toda sua extensão e restaurantes do mesmo naipe como o Antiquarius.

  Adiante está Sèvres Babylone, um quartier igualmente charmoso, um lugar de confluência com o Boulevard Raspail com seus edifícios dos séculos XVII e XVIII combinando com os antigos conventos de Saint-Germain des Prés, também próximo. Por essa circunstância diz-se que Sèvres é mais do que um bairro, uma junção elegante dos três locais. 

   A estação de metrô data de 1910. Segue em direção do antigo caminho que levava no século XIII de Paris para Sèvres e também a Rue de Babylone, na planície de Grenelle, cujo nome se deve ao bispo local - Jean Duval - chamado Monsieur de Babylone. 

   Adoro essas histórias e Paris tem, por sua idade longeva, muitas histórias que remetem a idade média, especialmente nessa área que poderíamos chamar de central à margem esquerda do Sena.

   Por coincidência, até porque não conhecíamos detalhes dessa história e do local, depois de visita a Capela de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e ao Le Bon Marché, yo e la madame Bião de Jesus, nos sentamos num bistrô restaurant que se chama Sevres Babylone localizado numa praça, pero com o endereço do Boulevard Raspail. 

   Ficamos, pois, na terasse, numa posição estratégica, na 'confluence', vendo quem cruzava a Raspail em direção a Grennele e quem saía do Bon Marché em direção a estação do metrô. 

   E, para encurtar a conversa, solicitamos ao jovem garçom Anry taças de chardonay e de pinot noir para fazer como os franceses fazem: apreciar o tempo passar, a paisagem, as pessoas, os chapéus das madames, os looks, bebericando algo saboroso.

   Vinho é sinônimo de delicadeza, sabor, concentração, harmonia, tudo de agradável quando se bebe lentamente e falando sobre monges e freiras ou comentando trechos da sabedoria proustiana em busca do tempo perdido.

   Assim ficamos e Anry nos serviu um assortiment formeges, como o próprio nome revela, uma variedade de queijos, o que só despertou o desejo de mais tacinhas de chadonay e de pinot noir. 

   Assim é Paris, assim participa-se de um 'happy-hour' vendo como os monges eram sábios e escolherem esses arredores para viverem na idade média e ainda hoje vivem e desfrutam dos boulevards e jardins particulares.

   Yo, com minha freira, nos sentimos em casa e seguimos para casa após agradecer os serviços ágeis e atenciosos do jovem Anry nos dirigimos a estação do metrô, bem próxima, e seguimos nosso destino.