Cultura

UM "INGLÊS" NA SECRETARIA CULTURA TEM ENORME DESAFIO PELA FRENTE (TF)

A difícil missão do gaúcho Bruno Monteiro à frente da Cultura na Bahia
Tasso Franco ,  Salvador | 30/12/2022 às 11:38
Vereador Suica, Bruno Monteiro e João Jorge
Foto: Ascom Suica
     Certa ocasião, ano de 2012, passistas de uma escola de samba do Rio de Janeiro, participaram da Lavagem do Bonfim ao que a imprensa foi informada, a convite do governo do Estado.

    O Bahia Já, na época, noticiou: - O governador Jaques Wagner e comitiva participam, nesta quinta-feira (12), da Lavagem do Bonfim, devendo chegar às 9 horas na Igreja da Conceição da Praia para acompanhar o início do cortejo. No local, Wagner atenderá à imprensa, partindo, logo em seguida, em caminhada com os baianos e turistas até o adro da Igreja do Bonfim, onde a tradicional lavagem das escadarias é feita pelas baianas.
   
  Um momento especial, segundo a assessoria do governador, é o encontro de Wagner com os representantes da Portela em frente ao prédio da Associação Comercial da Bahia, na Praça Conde dos Arcos. Acompanhados pela bateria do Olodum, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jéferson Vasconcelos e Kátia Marchetti, e duas passistas da Portela, farão uma pequena apresentação no local e seguirão junto à comitiva do governador Wagner. 
  
   As escolas de samba Portela e Imperatriz Leopoldinense irão homenagear a Bahia nos seus desfiles, na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, às 20 e 22 horas respectivamente, no domingo de Carnaval, 19 de fevereiro, quando desfilam as escolas do Grupo Especial.
  
   Noticia-se, agora, que o novo secretário da Cultura do governo da Bahia, a partir de janeiro de 2023, será o gaúcho Bruno Monteiro, jornalista que trabalhou na campanha Jerônimo, apontado inicialmente como futuro Secom, mas deslocado para Secult (teria sido por intermediação do senador Jaques Wagner) diante de pressões que haviam no meio cultural afrodescendente de Salvador para a manutenção do cargo em sua órbita, uma vez que a atual secretária, Arani Santana, integra a direção do Ilê Aiyê e é notória ativista do Movimento Negro no Estado.
   
  A indicação de Bruno Monteiro para uma área tão sensível, um "inglês" no cargo, dissociado da Cultura baiana sem conhecimento de suas raizes, sem participar dos movimentos culturais no estado, representa um desafio enorme, uma vez que não é proibido tal façanha, porém precisará o estrangeiro alicerçar-se bem de assessores para dar conta do recado.
  
   No livro "Por quem os sinos dobram", de Ernst Hemingway, sobre a guerra civil espanhola nas primeiras quadras do século XX o autor narra a trajetória de um personagem - Robert Jordan - norte-americano (como o autor defensor da causa Repúblicana na luta contra os fascistas do general Franco), cuja missão nas montanhas de uma área da Espanha era explodir pelos ares uma ponte.

   O gringo se integra a um grupo de gurrilheiros espanhóis. Apresentado e familiarizado com o grupo, malocado numa caverna, os nativos só o chamam de "inglês", mesmo ele dizendo, repetidas vezes, que não era inglês e sim norte-americano. Mas, até o fim no cumprimento de sua missão é chamado de "inglês" e/ou "estrangeiro".

   Por isso, lembrei-me desse episódio da narrativa literária para chamar o gaúcho Bruno Monteiro de "inglês" e desejar-lhe sucesso em sua missão, que é dificil, árdura, poderá sofrer alguns boicotes, mas nada impossível. Deve, no entanto, precaver-se para que não continue ser chamado de "ingês" ou estrangeiro até o final de sua missão.

   Em release a impensa, recente, o vereador Suica disse o seguinte: - Bruno é um jovem petista que vai auxiliar na reconstrução da trajetória da cultura negra neste estado. O povo negro será contemplado. Estivemos em diálogo esta semana e tratamos sobre pautas importantes, principalmente envolvendo os blocos afros. Precisamos de ações contínuas. Acredito que Jerônimo acertou ao escolher Bruno para o cargo de secretário de Cultura. Vamos acompanhar de perto sua atuação. O governo estadual tem sido montado com base em técnicos e políticos. Tenho certeza que esse equilíbrio será fundamental para que Jerônimo se destaque tanto quanto Wagner e Rui”, aponta o edil petista, obviamente, puxando a brasa para sua sardinha em encontro de Bruno com João Jorge, do Olodum, futuro presidente da Fundação Parlmares (vide foto).
  
 A Cultura baiana não se limita ao mundo afro, nem muito menos a capital. Desde que o petismo assumiu o governo, em 2007, houve um esforço (que ficou limitado a um mapeamento) de difundir e apoiar os movimentos culturais do interior que são muitos e distintos, dos que existem em Paulo Afonso, ao Norte; a Teixeira de Freitas, no Sul. 

  A Bahia, tradicionalmente, sempre limitou suas ações culturais a Salvador e ao Recôncavo, em desprezo e desconhecimento no que existe na Chapada Diamantica (uma enormidade de grupos) e no sertão.
  
   Bruno Monteiro tem um enorme desafio pela frente e torce-se para que obtenha êxito. Foi no governo Wagner que até uma livraria dos autores baianos foi fechada no Pelourinho e a literatura sumiu do mapa na Bahia, assim como outros movimentos nas artes plásticas, na dança, na museologia penaram. Mas, também, há algo muito bom como o projeto Neojibá.

   A festa da lavagem do Bonfim, por posto, está próxima e torcemos para que não surjam grupos gaúchos com bombachas a dançar em frente a Associação Comercial como os passistas cariocas de 2012.  (TF)