Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 36: COMO É SER ATENDIDO DE EMERGÊNCIA

Veja como foi a jornada do jornalista Sêo Franco no Hôpital de Dieu Paris, em Notre Dame
Tasso Franco , da reda��o em Salvador | 29/12/2022 às 11:41
Como foi a experiência de Sêo Franco no Hôpital de Deiu Notre Dame
Foto: Selfie

   Em qualquer temporada que se passe no exterior mesmo num período curto - 90 dias - é possível ser acometido por alguma enfermidade, ainda mais eu que estou com dois patinhos na lagoa em pé 77 anos de idade. Já contei em capítulo anterior a infecção intestinal que tive fruto de experiências gastronômicas a que não estava acostumado e agora narro para meus leitores como é enfrentar uma emergência em Paris. Nada assustador, mas sempre uma situação de risco. 

  Todos sabem - assim, imagino - que, quando se vai ao exterior, há a exigência da pessoa contratar um seguro saúde exatamente para cobrir casos de emergência. Imaginem vocês, que uma cidade como Paris que recebe milhões de turistas ao ano, os casos de emergência são muitos e se não houvesse esse seguro os hospitais sofreriam forte baque financeiro. Na França não há SUS gratuito como no Brasil. 

  Os franceses são beneficiários da "Carte Vitale" programa de saúde gratuito incluindo medicamentos. Os estrangeiros residentes no país podem requerer a "Carte Vitale" o que exige uma documentação específica. E demora meses para ser autorizada, quando sim. Mas, pode também ser negada.

  Em relação aos estrangeiros numa temporada (meu caso) ou turistas, salvo aqueles casos mais urgentes como um acidente de trânsito ou um atentado, em que a assistência é imediata, a urgência não imediata exige um seguro. 

  Assim aconteceu comigo duas vezes. Na primeira, senti forte dor na cervical e a necessidade de um atendimento médico. Minha esposa ligou para o seguro e caiu num call-center na Itália (Milão). A atendente falando espanhol fez várias perguntas sobre o que se passava comigo e a ela foi explicado os sintomas das dores. Depois de anotar tudo disse que daria retorno em instantes e um médico iria a minha residência atender-me, mas se o quadro piorasse eu me deslocasse para o Hospital de Emergência mais próximo, pagasse o atendimento, solicitasse à fatura e depois pedisse o reembolso.  

  Minha esposa respondeu que eu aguentaria as dores até a chegada do médico e ficamos esperando a resposta do call-center. Duas horas depois, a atendente informou que o médico iria a minha casa no dia seguinte (era noite quando ligamos) às 11h. De fato, quando foi no horário combinado o médico apareceu, me auscultou e  recomendou que eu fosse para uma emergência, pois minha oxigenação estava baixa. Preencheu uma papelada, deu-nos o telefone de uma operadora de ambulâncias se assim precisássemos, e partiu afirmando que, em instantes diria qual hospital iria ser atendido.
  
  Ligou aproximadamente 30 minutos depois e disse que me dirigisse ao Hôpital Hôtel Dieu de Paris, em Notre Dame - o hospital de emergência no centro da Paris - para atendimento. Descemos do apartamento, pegamos um táxi e fomos. Já era final da manhã e, ao chegarmos na emergência do hospital, apresentamos meu passaporte, o seguro saúde e a papelada do médico. Em instantes, ainda com bastante dores na cervical, fui atendido na primeira triagem por um profissional técnico em enfermagem e um médico, o qual imediatamente tirou a pressão e me encaminhou para a emergência propriamente dita. 

  Procedimentos em emergência são preliminarmente traumáticos especialmente para quem não conhece. Como sou cliente da emergência do Hospital Português, onde moro, em Salvador; sei como funciona. Coloquei minha roupa num saco, vesti o camisolão azul, e fui colocado numa cama de emergência leito 8 e me encheram de fios no tórax ligados a uma máquina - aquela que fica apitando no seu ouvido tum...tum...tum. 

  Feito esse exame preliminar uma técnica em enfermagem que falava espanhol conversa muito comigo e pegou um escalpe para pulsionar minha veia e injetar os medicamentos; outra técnica colheu meu sangue para exames. Fiquei sendo monitorado até que esse exame ficasse pronto e uma hora depois uma médica francesa e um médico português me examinaram, e disseram que não havia nada à vista no meu coração e iriam reduzir as dores da coluna com um medicamento injetável. E assim foi feito sendo que, em mais 40 a 50 minutos as dores foram se reduzindo. 

  Permaneci no hospital até altas horas quando fui liberado levando comigo uma receita de tramadol e mais outro medicamento, a recomendação de que procurasse um nefrologista pois havia sido detectadas alterações nas funções renais e que também procurasse um fisioterapeuta. E mais: que, se sentisse novamente dores voltasse para o hospital. 

  Passei a fazer o tratamento em casa e doze dias depois tive nova crise com dores também fortes, que não saberia quantificar qual a mais fortes se a da primeira crise ou da segunda. Imediatamente pegamos um táxi e nos deslocamos para o Hôtel de Dieu Notre Dame (informando antes a seguradora de saúde) e, como já tinha prontuário por lá, o atendimento foi quase imediato sendo levado logo para a sala da triagem na emergência atendido por um médico barbudo mal humorado que foi logo dando uma bronca na minha esposa porque ela havia me deixado com dores e daí levado para um apartamento numa das alas da emergência. 

  Nesse momento minha esposa explicou ao médico que eu já havia estado lá rebatendo o doutor barbudo que ficou com cara de paisagem.

  Foi uma longa espera até que novos exames fossem feitos e duas médicas me atenderam, em conjunto, dizendo que não havia descoberto nada grave e recomendaram que fizesse uma ressonância magnética da cervical, fisioterapia com especialista e levasse o exame para um especialista. Medicado voltei novamente para casa. 

  O seguro para autorizar a ressonância passou quinze dias até que fui fazê-la numa clínica (Clinique Maussin Nollet) particular no 19º arrondisement o que me custou 500 euros e foram pagos pelo seguro, em depósito em minha conta bancária. De posse dessa ressonância o seguro indicou uma clínica no centro de Paris, próximo a Champs Élysée, para a análise médica. O Dr Ohayon Simon me atendeu numa tarde e disse que tinha discopatia inflamtória na T5 - T6 (vértebras)  e mais ostepartrite posterior direita C4-C5 muito congestiva e prescreveu novos medicamentos - ketoprofene Teva Lp 100 Mg, tramadol LP 100 Mgt e Ompeprazole 20 Mg e Doliprana 1000 Mg. E iniciei também tratamento fisioterápico na clínica Didot, noutro bairro.  

  Então, meus caros leitores, vê-se que o paciente pena e tem que levar a questão na esportiva, pois além de você não conhecer ninguém (não é a mesma coisa de Salvador onde já frequento duas clinicas há anos a Sofísio e a Clínica da Dor Ondina e conheço os médicos e os fisioterapeutas) e uma clínica fica distante da outra numa Paris imensa onde a locomoção é feita por metrô demorando mais de 1 hora entre uma e outra. Nada que não possa ser resolvido. Exige-se, no entanto, paciência, e convivência com dores.

  Veja bem a ginástica do deslocamento: Eu morava no 15º arrondisement (distrito), o Hôpital de Dieu fica localizado no 1º distrito; a Clínica Didot de Fisioterapia no 14º distrito; a clínica da ressonância Maussin Mollet no 19º distrito; Dr. Simon no 6º distrito. Quem salva é o metrô. Paris tem 305 estações em todos os distritos e no subúrbio. Bem, farmácias para comprar os medicamentos tem todo lugar, porém o seguro não cobre essas despesas.

  Na emergência no Hôtel de Dieu a acompanhante (nem sempre) pode seguir com o paciente e fica na sala de espera aguardando alguma informação, o que não chega com rapidez. Espera-se horas, o que representa angústia e ansiedade. Eu boto logo a boca no trombone e digo a auxiliar e/ou ao médico: - Quero ver minha mulher. Esbravejo e quase sempre sou atendido. 

  O certo é que depois desse périplo indo uma a duas vezes por semana ao fisioterapeuta dr Philippoc Alban (Clínica Didot) e com a receita e as recomendação do Dr Simon, melhorei bastante e atravessei o "Rubicão" até retornar a Salvador onde procurei os especialistas meus conhecidos e com quem já me medico há anos e passei a fazer um tratamento na Clínica Senhor do Bonfim, no Rio Vermelho, com a nefrologisa Graça Maria e a nutricionista Thaís Souza, o que me sinto melhor e/ou em recuperação. 

 Coluna e tratamento renal são processos lentos e disciplinados de recuperação. Vai-se convivendo com dores e dietas.   

  Mais um detalhe: o Hôpital de Dieu é da Assistance Publique Hôpiteux de Paris, portanto, público, o mais antigo da cidade fundado por São Landerico, ano 651 d.C. ligado a Faculdade de Medicina da Universidade de Paris, mas cobra o atendimento aos estrangeiros na emergência. As faturas foram encaminhadas para minha residência, em Salvador, e as enviei para a Cia de Seguro que as pagou.