Cultura

HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA, CAP 7: BAIRRO DA SANTA NASCIDO 1955

A associação de Senhora Sant'Anna a localidade de Serrinha vem desde inicio do século XVIII
Tasso Franco , Salvador | 28/12/2022 às 11:04
O bairro em noite de procissão do Fogaréu
Foto: REP

     O bairro da Santa, em Serrinha, na região Oeste da cidade nasceu na década de 1950 (1955) quando Samuel Rodrigues Nogueira obedecendo ao desejo dos seus pais Antonio Rodrigues Nogueira e Michelina Ribeiro Nogueira mandou erguer uma imagem com mais de 5 metros de altura de Senhora Sant'Anna e sua filha Maria na colina do seu sitio Bela Vista, nos arredores da área urbana do centro histórico. 

    Samuel dizia que Sant'Anna era sua comadre por ser madrinha de todos os seus filhos. Ao lado do pedestal foi erguida uma casa com arcos para servir de abrigo aos prováveis peregrinos. 

    Com o passar dos anos essa casa desapareceu e no local funcionou um restaurante no local. A romaria não aconteceu como esperada por Samuel. Ela vai se dar de outra forma, o local virando bairro e abrigando a procissão do Fogaréu. É, também, o ponto turístico mais importante e visitado da cidade.  A área do pedestal, hoje, é cuidada pela Prefeitura.

    Até então (anos 1950/1960), essa área em sua amplitude era rural e demarcada como divisória básica da antiga BR-Transnordestina uma estrada federal que cortava a cidade na linha Leste-Oeste proveniente de Feira de Santana via Matão seguindo em direção a Pernambuco na área Norte até o distrito de Pedra (Teofilândia) onde, na década de 1930, aproximadamente, vai florescer o bairro da Rodagem a partir da rua dos Pobres.

   Na divisória do nascente bairro da Santa tudo o que era do Posto Fiscal (próximo ao atual ponto do Araci em frente a uma madeireira) para Oeste iria constituir-se no novo bairro. E, na parte oposta, da estrada para Leste situava- da Federação, Mercado Municipal, Praça Miguel Carneiro. 

   Nas imediações do Posto Fiscal e nas margens da BR haviam várias casas, o arruamento da Manoel Novaes, a Casa de Sêo Godô, a tenda de dona Arlinda, o restaurante do Nonô, a nascente oficina de Heliotério (São João) e tudo mais era mato. Quando eu era garoto a cerca de arame farpado do sítio do meu avô Jonino Franco ia até o Ponto do Araci e margeava a NR até o atual colégio Ana Oliveira.

   As crianças meus colegas pulávamos a cerca de Jovino e descíamos por uma trilha ao lado do posto fiscal até um tanque chamado Tiro de Guerra para aprender a nadar. O sgt Melo levava os recrutas do então TG-141 para treinamento nesse local dai ter ficado conhecido como Tanque do Tiro. 

  Era uma lâmina d'agua que descia da serra ao lado da fazenda do Oséas (hoje, bairro Oséas) empoçava na baixada (hoje local repleto de casas) e o sangradouro dava para a Bomba. Como passar dos anos e a ocupação da área por residências essa lâmina d'água se tornou esgoto e está em fase final de complementação na Baixa da Bela Vista entroncando com a Bomba.  

  O bairro vai crescer e ganhar esse nome após a morte de Samuel quando a família (os herdeiros) decidiu criar um loteamento no local englobando toda a área até o sopé da imagem da Santa. Isso já tem mais de 30 anos e o loteamento ainda não foi totalmente vendido e ocupado. Uma parte, sim. 

   Recentemente, na baixada da Bela Vista os moradores dessa rua já urbanizada (rua do Boteco do Teco) foram autorizados a ficarem com uma sobra de terras à margem do esgotamento já saneado, gratuitamente. Alguns quiseram e cercaram o local ampliando seus quintais e outros não. 

   Então, nessa área do esgotamento (na baixada) de ponta a ponta está uma rua horizontal que sai do Oséas e vai até a BA Barrocas. No sentido longitudinal está situada a rua principal do bairro (Av Senhora Sant'Anna) que sai do pedestal onde está a santa até o entroncamento da Manoel Novaes, rua já calçada de paralelepípedos e com casas de um lado e do outro. Ou seja, totalmente urbanizada. É a área mais valorizada do bairro onde estão as cruzes da caminhada penitencial de Cristo.

   O bairro da Santa ganhou visibilidade a partir do final dos anos 1980 quando o prefeito Josevaldo Lima (pai do atual prefeito Adriano) decidiu em comum acordo com o padre Lucas di Nuzzo estender o percurso da Procissão do Fogaréu (realizada toda quinta feira santa desde 1930) até a colina da santa descendo a Av Antonio Rodrigues Nogueira (rua Direita), pegando a estrada para Barrocas, contornando a casa de morada dos herdeiros de Samuel (Sitio Bela Vista) até o alto da colina onde é realizado um culto e uma apresentação teatral. Daí segue para via principal até a atual catedral basílica, na época, ainda chamada de Igreja Nova.

   Na atualidade, o bairro da Santa ainda tem muitos lotes a serem ocupados por residências. É um local mais residencial do que comercial embora na parte próxima a Manoel Novaes existem muitas casas comerciais, oficinas para automóveis, tratores e computadores, lojas de serviços e outros. Limita-se ao Sul com o bairro da Bomba; ao Norte com o Oséas; e a Leste com o centro. A parte Oeste após a colina da Santa ainda é zona rural. É uma área de expansão limitada da cidade uma vez que a maior expansão está se dando na zona Leste na direção da BR-116 Norte. 

   A SANTA

   Em Serrinha, as imagens das santas na colina do Sitio Bela Vista representam Senhora Sant'Anna e sua filha Maria (criança). O bairro ficou conhecido e é chamado apenas de Santa, embora sejam duas imagens. Deveria ser as santas, mas a população decidiu ser A Santa, bairro da Santa, e ficou assim.

   Sant'Anna é uma corruptela de Ana a avó materna de Jesus. Em hebráico Hanna (graça). Em Serrinha, a igreja adotou Sant'Anna com dois nn aportuguesa do hebraico. Hanna pertencia a clã de Aarão; e Joaquim, seu marido, à família real de Davi. Hanna teria sido estéril e fez penitência para ganhar um bebê. Deus teria ouvido suas preces.

   Os dominicanos e os cristãos ortodoxos dizem que Maria é filha biológica de Joaquim e Hanna (Anna) e não existiu essa penitência. O casal morava em Jerusalém, onde, hoje, existe a basílica de Santana. Sua filha, em hebraico se chamava Miriam (senhora da luz), Maria, em latim. Como o latim foi a língua predominante no Império Romano a mãe de Jesus ficou conhecida para sempre como Maria.

   Serrinha cultua mais Sant'Anna (a padroeira local) do que Maria e há uma imagem de São Joaquim no nicho da matriz local, ala direita do templo.

   O município de Serrinha foi emancipado em 13 de junho de 1876 no governo de Luís Antônio da Silva Nunes, presidente da Província da Bahia, no Império de Dom Pedro II.

   Serrinha nessa época era um Arraial da Freguesia vinculado a Purificação dos Campos (Irará) e passou a ser vila com o nome de Villa de Nossa Senhora Sant'Anna da Serrinha ou Villa de Serrinha quando também foi eleita a Câmara de Vereadores, sendo eleito o capitão José Joaquim de Araújo, o mais votado, e que passou a administrar a vila. A posse da Câmara aconteceu em 11 de janeiro de 1877, data oficial da CMS, e vai completar 146 anos em 11 de janeiro de 2023.

   Em 1890, governava a Bahia Manoel Victorino Pereira e foi este governador que assinou o decreto em 10 de fevereiro de 1890 instalando a Intendência de Serrinha (ainda como vila) e nomeando o filho do chefão político local, Miguel Carneiro da Silva, Mariano Silvio Ribeiro, que governou de 03 de março de 1890 e 20 de janeiro de 1892.

   É no governo de Mariano Silvio Ribeiro sendo governador da Bahia José Gonçalves da Silva que Serrinha ganha foros de cidade, em 30 de junho de 1891, portanto 15 anos depois de emancipada. Serrinha, Porto Seguro e Santo Antonio de Jesus são da mesma data como cidades.

   O nome de Sant’Anna está associado ao povoado desde Bernardo da Silva, no inicio da década do sec XVIII quando sua esposa Josefa Maria do Sacramento pede para ele erguer uma capela em louvor a avó de Jesus Cristo.