Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 32 – O PARAISO E OUTRAS DICAS DE BISTRÔS

Os bistrôs como bens imateriais culturais e a ação da prefeita Anne Hidalgo premiando os melhores todos os anos
Tasso Franco , Salvador | 15/12/2022 às 10:32
Le Paradis - o Paraiso = no centrão de Paris
Foto: BJÁ

   Há, em Paris, centenas de bares que promovem "happy-hours" onde os preços das bebidas e tira-gostos são mais baratos dos que nos restaurantes e bistrôs e você pode curtir "A Boa Mesa" sem sofrer um abalo em suas finanças e ainda se divertir com música para ouvir e dançar.

   E existem os bares temáticos em esportes que são uma muvuca da zorra total. No último jogo entre o Liverpool x Real Madrid, disputa final da Copa da UEFA, esses espaços estavam super aquecidos com alguns bebuns 'hooligans'.

   Mas, também, os bistrôs oferecem "happy-hours" com preços menos salgados e horários limitados, normalmente entre 15hs e 17hs ou entre 17hs e 22hs onde é-se possível apreciar drinks e taças de vinho com mais calma.

   Tem bares onde o "happy-hour" é estendido a noite toda, casos do do Maud, do Menilmontant, mas, na maioria, o horário preferencial é até 22hs e apontamos só a título de dicas o Gare do Nord de Beluschi, o Decisão Certa e o Koukla. Tem uma lista imensa deles que pode ser consultada pela internet. Dê preferência ao que fica perto de sua casa ou hotel, lembrando que o metrô fecha a 1h.

   Diria que prefiro os bistrôs mais sensíveis, mais intimistas - distante dos agitos - certamente diante da minha idade que não permite voleios mais pirotécnicos.

  Adoro, por exemplo, o Le Paradis (o Paraíso), da Rue Saint Martin, com terraço coberto de flores onde sentimos como se estivéssemos, de fato, num paraíso descrito por Dante. Le Paradis serve drinks variados, a cerveja belga Mort Subite que é deliciosa, perfumada, e um Côte de Rhone apreciável com taças a 5 euros. 

   Na França há uma cultura nos cafés e bistrôs estabelecida, ao que se diz, desde o século XIX, quando esses locais não tinham grandes movimentos de pessoas - especialmente de turistas - de tomar um café e/ou uma taça de vinho e ficar sentado horas com uma pedida única. 

  Ainda hoje é assim, embora, com o número crescente de turistas esse hábito não se modificou de todo, mas, o vai e vem das pessoas é mais intenso. Só os nativos apreciam ficar horas a fio sentado numa mesa lendo um jornal e consumindo somente um capuccino.

  Eu mesmo - confesso - não consigo ficar horas com a mesma tacinha de Côte de Rhone e estou sempre pedindo mais uma, à moda baiana. "Tomar uma" ou "comer água" não são expressões usadas por acá.
   Na colina de Montmartre há o café Chappe com terrasse para a rua Tardieu próximo a Sacre Coeur que é gostoso para sentar-se no final da tarde e ficar observando a galera andando de um lado a outro e os músicos de rua. O blanc Broutlly custa 6 euros a taça. 

   E, no Rosa Bonheur, a beira do Rio Sena, no port de Invalides, o petit chabils custa 4.5 euros a taça, o rouge.

  De nossa preferência, yo e la madame Bião de Jesus, por ser próximo de nossa casa ou no caminho de casa, adoramos o Dupont Café, onde uma garçonete francesa que namora um português, está sempre a nos servir. La Madame não dispensa a Guinesse large e yo o Pinot Noir Rouge (.5.8 euros a taça). E, sempre que por lá vamos a casa serve um homus com pães delicioso. 

  O Dupont tem decoração com muitas luzes e poltronas que encaixam bem as costas. E o mais admirável é que depois do “happy-hour” vamos para casa andando de mãos dadas. Romântico, pois.

   Essas são as dicas de Dom Franquito para vocês. 
                                                     *****
   Paris possui segundo dados oficiais 17.900 restaurantes dos quais muitos são bistrôs. Isto é: casas de menor porte com um salão para refeições e uma terrasse. Há, hoje, de todos os tipos - maiores e menores.
 
    Quando surgiram no início do século XIX, na época de ocupação russa e das guerras napoleônicas, eram estabelecimentos caseiros criados por cozinheiros e cozinheiras que atuavam na Corte, apeados e desempregados pela Revolução Francesa, e que criaram para sobreviverem. 

   Com o passar dos anos - a palavra bistrô teria sido criada por oficiais russos que pediam pressa quando frequentavam essas casas, o que pode significar (em português) ...vamos, mais rápido... os bistrôs se multiplicaram pela cidade e viraram uma espécie de instituição nacional, pelo menos em Paris.

   A França possui 44 bens (culturais, naturais e imateriais) na lista do Patrimônio Mundial da Unesco. Entre eles: as margens do Sena; as maisons, caves, túneis e encostas da Champanhe e os climats da Borgonha; a parte histórica da cidade de Lyon e até mesmo a refeição francesa. Há petições pedindo a inscrição da baguette e dos telhados de Paris. Em 2017, a associação Bistrots e Terrasses de Paris lançou um movimento para que também os bistrôs parisienses e suas terrasses sejam considerados patrimônios imateriais da humanidade. Diria, merece.

   Se há uma coisa gostosa em Paris é sentar-se na terrasse de um bistrô e degustar um rouge com uma tábua de queijos. Por tradição os franceses têm um hábito de tomar café nos bistrôs, não somente o cafezinho ou o expresso como conhecemos no Brasil, mas, o café da manhã completo com torradas, pães e tortas. Por isso mesmo, os bistrôs abrem cedo e é comum vê-se às 7hs, às 8hs, inúmeras pessoas nos bistrôs tomando o café matinal. Hábito, que nas grandes cidades brasileiras vê-se nas lanchonetes e padarias.

  Sem dúvidas, os bistrôs são símbolos da capital francesa e da arte de viver do seu povo. Espaços democráticos - as mesas e cadeiras ficam coladas umas nas outras - num congraçamento de todos tipos de pessoas e serviços da cozinha francesa.

  A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, concedeu em 2019 a medalha da cidade a 100 bistrôs tradicionais espalhados pelos 20 arrondissements (distritos). Com a pandemia da Covid-19 muitos bistrôs tiveram que fechar as portas diante dos aluguéis dos imóveis. Hoje, há uma reanimação do setor com novas casas, promoções de “happy-hours” e preços mais baratos nas refeições e no chope.