Cultura

A HISTÓRIA DOS BAIRROS DE SERRINHA: CAP 3 - SETE CHALÉS E SOBRADOS

Algumas lembranças de chalés e sobrados do centro histórico
Tasso Franco ,  Salvador | 30/11/2022 às 09:45
Chalet da família Franco
Foto: BJÁ
     

  Destacamos outras 7 edificações emblemáticas do centro histórico ampliado de Serrinha: o chalé da famíia Franco, a casa do médico José Mota, a residência de Graciliano de Freitas, o sobrado de Leobino Ribeiro, o antigo Paço Municipal, o palacete dos Nogueira e a casa de Miroró Paes.

  CHALÉ DA FAMILIA FRANCO

  O chalé da família Franco, praça Miguel Carneiro, foi construído por João Eustáquio da Silva no início do século XX (1915) no modelo neoclássico e adquirido por Jovino Alves Franco, em 1923, quando a praça ainda se chamava do Amparo. Seu filho, Bráulio Franco, tinha 13 anos quando foi morar no chalé (se escrevia chalet). Só existem, na Bahia, três chalés deste tipo no interior do estado. Sua esposa Zilda foi morar no chalé em 1939 quando se casou e todos os filhos do casal nasceram no chalé. A saber: Bráulio, Celeste, Tasso e Laiz. 

  Ainda está de pé. Em 2010, lancei um livro falando do chalé e do centenário de nascimento de Bráulio (meu pai). Em 2023, o chalé completa 100 anos como propriedade da família Franco e patrimônio da cidade. É tombado pelo IPAC.
  
  CASA DE DR JOSÉ MOTA

  A casa na esquina leste da praça Luís Nogueira pertenceu ao médico José Mota da Silva (conhecido como doutor Zé Mota), herança dos seus pais. Zé Mota era médico e político ligado a PR de Carlos Mota e tentou ser prefeito, em 1962, numa coligação PR/UDN contra Horiosvaldo Bispo dos Santos (Lourinho), mas perdeu. 

  Dr Zé Mota, já velhinho, gostava de ficar sentado em frente desta casa que se situava na terceira quadra da praça Luís Nogueira, onde hoje estão a agência do Itaú e uma casa comercial. 

  A casa tinha 6 janelões envidraçados de frente e a porta de acesso ao interior da casa se dava depois que a pessoa entrava por um portão lateral de ferro na parte direita, área onde também havia um jardim. Na parte esquerda e nos fundos havia muitas árvores, quase um sitio. Até meados da década de 1990 ainda existia e depois os herdeiros de Zé Mota a quadra foi loteada onde, hoje, existem várias casas comerciais, nos três eixos - em frente ao BB, em frente a Caixa e em frente à sede da 30 de Junho.
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  José Mota Da S. Filho

 Meus queridos amigos Serrinhenses. O que aconteceu com nossa casa foi um fato realmente lamentável, que tentarei explicar de forma resumida, essa triste situação, que os filhos de José Mota da Silva e Margarida Nogueira Mota da Silva tiveram que enfrentar. 

 Começaram a aparecer umas estranhas rachaduras nas paredes de toda a casa. Várias vezes à noite acordamos com uns fortes estalos, que acordava a todos. As rachaduras eram consertadas e voltavam a aparecer sem a gente saber o que estava acontecendo, contudo, dava pra notar que infelizmente algo estava errado. Resolvemos trazer dois engenheiros amigos para estudar o problema. 

  Após esse estudo, inclusive com marcas nos cantos da casa, após 4 meses foi verificado que havia uma diferença em algumas marcas feitas nas paredes de até 1,5 cm. O pessoal olhando pra mim, Betânia e Aninha disse - Zé sei que é muito difícil o que tenho a dizer a vocês, mas lamentavelmente a casa está caindo. Sou obrigado a ser sincero, pois a casa pode desabar a qualquer momento, como pode demorar um pouco. Se ela entrar em processo de ruir cairá toda de vez. 

  Imagine os amigos o tamanho da nossa dor? Choramos muito e o engenheiro e a engenheira ficaram visivelmente emocionados com o quadro que assistia. Disse os nossos amigos, se cair em cima da família será uma tragédia, mas além disso pode matar também pessoas passando no passeio e vocês serão responsabilizados. 

  Fomos julgados e condenados por algumas pessoas, que chegaram a dizer que havia sido ganância dos herdeiros de Dr. José Mota, que só pensavam em dinheiro. O nosso sofrimento continua até hoje meus amigos, pois com a demolição obrigatória da nossa casa foram levadas um mundo de recordações e saudades de nossos amados e inesquecíveis pais. 
  Aos julgadores eu deixo aqui uma pergunta: se fosse sua família vocês ficariam embaixo de uma casa com madeiras enormes e 11.000 telhas e adobes de 4 a 5 quilos nas paredes? Pois essa é em poucas palavras a razão verdadeira da demolição da casa, que ao ser demolida levou nos seus escombros um grande pedaço da vida dos herdeiros de José Mota e Margarida. Foi com muita dificuldade que conseguir dar essa explicação, devido a emoção muito forte que sentir ao tocar num assunto tão doloroso.

   Termino dizendo a todos os Serrinhenses, que a dor que carregamos no peito, pela demolição da casa é muito grande, mas muito maior foi perder aqueles, que nos ensinaram, entre outras coisas, que o amor é muito maior e mais importante que o ódio. A meus Pais o meu amor infinito.

  CASA DA FAMILIA PEDREIRA DE FREITAS

  A casa que pertenceu a família Pedreira de Freitas (não sei se ainda pertence aos herdeiros) se situa na rua da Estação. O capitão Leôncio Marques Pedreira de Freitas foi o 3º intendente de Serrinha (1897/1899) e era filho de Manoel Pedreira Marques de Freitas e Constança da Silva Pinheiro, esta filha de um dos tetranetos de Bernardo da Silva, Vicente Ferreira da Silva. 

  É provável que tenha sido o primeiro morador da casa e construtor. Seu filho, Agenor Pedreira de Freitas foi o 11º intendente de Serrinha (1920/1921) e este casou-se com uma prima chamada Maria Farani Pedreira de Freitas, filha de Graciliano Pedreira de Freitas e Marianina Freitas. Agenor, no entanto, morava num casarão na praça Luís Nogueira.

 O casal Graciliano e Marianina teve mais um filho, Lauro Farani Pedreira de Freitas, o qual foi candidato a governador da Bahia, na década de 1950, era o favorito, mas morreu num acidente de avião com o pai de Nilo Coelho. Dizem que os adversários políticos colocaram areia no tanque de combustível do avião e quando levantou voo em Bom Jesus da Lapa caiu. Foi uma comoção, na época. O município de Lauro de Freitas (RMS) tem esse nome numa homenagem a Lauro e se chamava Santo Amaro de Ipitanga. Toda essa ancestralidade vem de Serrinha e, em parte, desta casa. 
  Ricardo Chaves (cantor) é filho de Francisco, irmão de Graciliano (ex-sócio de Pedro Irujo) filhos de Lauro. E uma filha de Graciliano, neto do velho Graciliano, chama-se Marianina. Não sei se ainda mora algum Pedreira de Freitas em Serrinha. Em Salvador, sim. A casa é um patrimônio da cidade.

  SOBRADO DE LEOBINO RIBEIRO

  Sobrado com 32 janelas envidraçadas e uma porta no estilo colonial que ficava no coração do Centro Histórico ao lado esquerdo da Igreja Matriz de Senhora Sant'Anna e pertenceu ao farmacêutico Leobino Cardoso Ribeiro, casado com Leontina Vilalva Ribeiro, pais de José Vilalva Ribeiro (Zezito), o qual foi prefeito de Serrinha duas vezes, de 1943/1945; e de 1951/1955. 

  Dos filhos de Zezito, apenas um deles, Dr. Augusto (já falecido) seguiu morando em Serrinha. Os demais se mudaram para Salvador e um deles, jornalista Geraldo Vilalva, mora nos EUA. No local do sobrado existe um hotel.

  ANTIGO PAÇO MUNICIPAL

  No local da casa de Bernardo da Silva, fundador da vila, foi erguido o Paço Municipal, ao lado da Igreja Matriz de Sant'Anna. A praça foi urbanizada pelo intendente Luís Nogueira no início do século XX quando também foram erguidos o coreto e o paço. Este casarão encontra-se em ruinas.

  O palacete dos Nogueira - onde residiu Luís Nogueira e sua esposa Áurea - ainda está em pé. Já foi sede da Prefeitura e abriga um órgão da PMS). A casa ao lado que pertenceu a Miroró Paes abriga o Conselho Tutelar.