Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 26: MUSEU D'ORSAY ARTE EM ANTIGA ESTAÇÃO

Um dos museus mais valiosos e visitados de Paris situado na river gauche
Tasso Franco , Salvador | 24/11/2022 às 06:44
Museu d'Orsay instalado numa antiga gare de trem
Foto: BJÁ
     
   Voltamos a cultura, na essência. Não que gastronomia esteja fora deste rol. E eu a coloco no intermezzo para os leitores respirarem uma vez que o entendimento de artes visuais, literatura, música, cinema, etc, exige um pouco mais de atenção dos leitores e falamos, muitas vezes, de coisas que são importantes para uma determinada pessoa e cultura, mas podem não ser para quem está lendo.

  A quem interessa, pois o Louvre, o Museu Picasso, o d'Orsay, em Paris; ou a Tate Gallery, em Londres? Diria que a humanidade. Para se entender a história dos povos nesses museus - nas artes e na literatura - se entende melhor o mundo. 

   Um livro como "Pais e Filhos" de Ivan Turguêniev causou a maior polêmica na história da literatura russa, a partir do século XIX, e o niilismo - a filosofia do nada - ganhou uma enroeme dimensão entre camadas da sociedade mundial. Turguêniev escreveu o livro entre 1860 e 1862 justamente quando o czar Nicolau II decretou o fim da servidão - similar a escravidão no Brasil - e o autor ao abordar esse novo quadro social explosivo se tornou maldito, inclusive diante uma sucessão de incêndios em São Petesburgo, que os niilistas teriam praticado.

   A publicação de Ottsy i Deti (Pais e filhos) romance que relatava o conflito de um jovem estudante de Medicina, Evguêni Bazárov, que recusa tanto o conservadorismo das gerações mais velhas, como o radicalismo desenfreado da juventude, o aparecimento da obra deu origem a uma grande controvérsia, o autor se exilou na Alemanha e na Inglaterra se estabelecendo - em definitivo - em Bougival, nos arredores Paris, onde morreu em 1883.

  Então, tudo está entrelaçado. Eu, quando estudante de psicologia, tive que analisar o quadro "As Meninas", de Diogo Velasquez, um pintor espanhol do século XVII integrante da corte de Felipe IV, obra pintada em 1656, analisado ao longo da história, discutido e debatido na filosofia e na psicologia e observe que esta última só surgiu como ciência no final do século XIX. Por que então analisar este quadro tão antigo? Seria - entre inúmeras explicações - um retrato do olhar da família com interpretações múltiplas.

  Jaques Lacan aponta no seminário XIII, que as personagens colocadas no quadro por Velasquez "nenhuma delas fixa seu olhar em nada, exceto Dona Agustina Sarmiento de Sotomayor, suas existências parecem preocupadas com o simples fato de existir. E em virtude de um certo descompromisso na cena retratada, o que sobra, é a tal existência vital das figuras".

  Muito complexo para analisar neste espaço. Apenas o citei para os leitores sentirem o quanto é valioso ir-se a um museu, como leigo ou como estudioso, pois cada peça relata a história de um determinado momento.

   Falemos, então, do Museu d'Orsay - não tem tradução em português - situado na margem esquerda (river gauche) do Rio Sena donde se vê do outro lado (river droite) o Louvre. São os mais importantes e valiosos de Paris, o Louvre em primeiro lugar, o campeão; e o d'Orsay em segundo. Claro: em matéria de arte essas classificações são subjetivas porque cada cabeça é um mundo e o cidadão pode entender que o mais importante seja o de Arte Moderna do Centro Cultural Georges Pompidou. Porém, há fundamentos na classificação de 1º e 2º lugares para o Louvre e o d'Orsay pela majestade dos prédios que abrigam as coleções, pelo valor dessas coleções, diversidade e quantidade de visitantes por ano. Nesses aspectos são imbatíveis.

   As colecções do d'Orsay - algumas originárias do Louvre - apresentam principalmente pinturas do impressionismo e esculturas da arte ocidental do período compreendido entre 1848 e 1914. Entre outras, estão expostas permanentemente obras de Van Gogh, Cézanne, Edgar Degas, Edouard Manet e Claude Monet, Maurice Denis, Odilon Redon etc.

   Existem também exposições temporárias que ocorrem paralelamente como a que acontece no momento (verão de 2022) do arquiteto catalão Antoni Gaudi, célebre por seu projeto da Igreja da Sagrada Familia, em Barcelona, em construção há 100 anos e a principal atração turística da cidade. E uma outra do pintor e escultor francês Aristide Mailol (1861/1944). 

  Tudo no d'Orsay impressiona desde o seu salão principal - originalmente uma estação ferroviária - Gare du Quai d'Orsay, construída para o Chemin de Fer de Paris à Orléans - capital do vale do Loire e famosa por ter sido salva de um cerco inglês por Joana D'Arc, em 1429  -  no local onde se erguera até 1871 um antigo palácio administrativo, o Palais d'Orsay. 

   Em 1977, o Governo francês decidiu transformar o espaço num museu. Foi inaugurado pelo presidente François Mitterrand (sempre ele), em 1º de dezembro de 1986. Os arquitectos Renaud Bardon, Pierre Colboc e Jean-Paul Philippon foram os responsáveis pela adaptação da estação. 

  O ingresso ao museu custa 14 euros e o visitante, de cara, entra logo no salão principal onde estão expostas esculturas e um dos dois relógios preservados da antiga estação. Um outro, o grande relógio está localizado no quinto andar do edifício. Ao entrar no museu, pegue o elevador até o andar do relógio. Você verá placas de sinalização indicando para onde precisa ir. Daí tem uma visão de parte de Paris e do Sena. Há, neste salão, um átrio donde se tem uma vista de todo o salão. Usa-se o elevador ou escadas rolantes para chegar até esse local.

   As colecções do museu provêm essencialmente de três locais: do Museu do Louvre, as obras de artistas nascidos a partir de 1820, ou que tenham emergido no mundo da arte com a Segunda República; do Museu do Jeu de Paume, as obras impressionistas desde 1947; e do museu de arte moderna de Paris, as mais recentes. Estas colecções abrangem várias vertentes das artes plásticas tais como a pintura, a escultura, a fotografia entre outras. 

  Entre obras de pintores estão quadros de Eugène Boudin,   Gustave Caillebotte, Paul Cézanne, Camille Corot, Edgar Degas, Eugène Delacroix, Henri Fantin-Latour, Paul Gauguin, Vincent van Gogh, Édouard Manet, Henri Matisse, Jean-François Millet, Claude Monet e outros.

   Entre os escultores, obras François Rude, Jules Cavelier, Jean-Baptiste Carpeaux, Auguste Rodin, Paul Gauguin, Camille Claudel e Honoré Daumier.

   O museu abre de terça a adomingo das 9h30 às 18h. Nas quintas-feiras fica aberto até às 21h45min. Para não pegar filas imensas compre ingresso pela internet com dia e hora previamente agendados. Caso contrário compre no momento em que for fazer a visita. A fila é grande, mas, se move rapidamente pois há 6 guichês de vendas de ingressos. O museu tem bar, lanchonete e restaurante, além de loja de venda de produtos relacionados aos artistas - réplicas de gravuras, livros, bags ecológicas e outros.