Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 25: DOIS ITALIANOS NO CAMINHO DE CASA

Depois dos franceses, os restaurantes italianos predominam em Paris e são muitos bons
Tasso Franco , Salvador | 20/11/2022 às 07:57
Restaurante Sapori di Parma
Foto: BJÁ
  O bistrô é uma instituição francesa. Já falamos disso neste livro e são milhares deles em Paris. Mas, ao contrário do que se possa pensar, nem todos são de comidas francesas. Originalmente, sim. Os cozinheiros e chefes de cozinhas dos palácios que tinham empregos certos na época da monarquia absolutista, e olha que a francesa vem do século XIII, ficaram desempregados com a Revolução que guilhotinou Luís XVI e outras tantas cabeças coroadas, ficaram sem o ganha-pão que era farto em soldos e comidas e montaram os restaurante caseiros e familiares (o que nós conhecemos bem esse modelo no Brasil) a partir de 1789.

   Quando os bistrôs - pequenos restaurantes - começaram a aparecer na capital da França, mais do que em outras cidades, isso no final do século XVIII e início século XIX diante dos confusos governos do jacobino Maximilien Robespierre e seus substitutos até Napoleão Bonaparte assumir o controle do Estado francês 1799 - período do Consulado e depois Império - esses restaurantes eram eminentemente de comidas francesas. E permaneceram durante séculos assim.

   Com a globalização a partir dos anos 1970, a aldeia se tornando global não somente na comunicação com Herbert Marshall McLuhan, e em vários campos do conhecimento, a gastronomia também passou a ser múltipla. E, na atualidade, em Paris, por exemplo, existe uma quantidade enorme de restaurantes italianos, coreanos, asiáticos de uma forma geral - tibetanos, vietinamitas, paquistaneses, etc - e indianos, pouquíssimos brasileiros, alguns argentinos e peruanos e, é claro, eles aderiram ao modelo bistrô. 

  Isso significa dizer que você pode estar num 'bistrot parisien', porém num italiano, como yo e a madame Bião de Jesus estivemos no Picchetto, da Av La Motte-Piquet um lugar acolhedor, agradável, com dois ambientes próximo a Torre Eiffel em direção a Av Vaugiraud ou ao 15º distrito. Isto é, após o Campo de Marte, na margem esquerda do Sena, a app 1 km de distância, linha 8 do metropolitano. E também, noutra ocasião, no Saporo de Parma, que fica na Av Suffren bem próximo um dos outro. Então, falaremos dois dois matando dois coelhos de uma cajadada.

  Alguns clientes reclamam que no Piccheto o atendimento não é dos melhores, mas, nós fomos muito bem atendidos por uma jovem garçonete e pedimos algo distante das pizzas - me pareceu o forte da casa - um linguine dello picchetto - pâtes a la sauce tomate, tomates confites, champignons, roquette e stracciatela; e a madame um paccheri, creme de melanzane - patês, caviar d'aubergine, stracciatela, roquette e tomates confites, duas excelentes pedidas.

  Sim, para abrir o apetite, que já era intenso, escolhemos o St-Germain Spritz - liqueur de fleurs de Sereau, prosecco, eau pétillante - e um Lemoncello Spritz - limoncello bio, prosecco, belvoir cordial, miel, citron, gingembre e eau pétillante. Admiráveis. La madame disse: - Vou beber bem devagar para sentir todo o aroma. do Spritz. Sem dúvida.

  O Picchetto fica numa rua onde há muitos outros bistrôs - o Le Zinc, o Siempre, el Café Primerose, o Le Bouquet de Grenelle, o Le Pierrot - portanto com várias opções para quem aprecia a boa mesa. Mas, fomos atraidos pelo Picchetto. Creio que estávamos com vontade de saborear uma massa e yo que já havia tomado um drink no Sapori de Parma, nas redondezas, gostei bastante da comida do Picchetto - no ponto, bem temprada, deliciosa. A madame Bião comentou que o paccheri que lhe foi servido estava especial.
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   No caminho da escola da madame Bião de Jesua - a École de Langues Acoord - especializada em francês com intensivos puxados, astuciei um pequeno restaurante italiano especializado em produtos da região de Parma, comuna medieval, hoje, cidade universitária na região Emilia-Romagna, célebre pelo queijo parmesão e pelo presunto de Parma. 

  O local se chama "Sapori de Parma" e fica localizado na Avenue Suffren, próximo a Torre Eiffel pelo lado do Champs de Mars, oposto ao Trocadero, em river gauche.

   O Sapori é uma típica casa italiana familiar onde marido, esposa e cunhada atuam em harmonia no pequeno salão e na terrasse na calçada da Suffren. 

   O salão é aconchegante, decoração simplérrima e com produtos comestíveis da Itália - em especial, de Parma - à venda - lazanhas, nhoques, azeitonas, queijos, presuntos, vinhos, etc, e os clientes podem fazer o que nós fizemos, yo e la madame Bião de Jesus, que, além de almoçarmos no local levamos para casa uma botella de vinho, azeitonas e nhoques congelados. 

   O nhoque é pré-cozido e é só colocar na geladeira e depois por em água fervendo por dois minutos. Acrescenta-se o molho e papa-se.

  Bien, no Sapori, acomodados no pequeno salão solicitamos a senhora que nos atendeu um Montepulciano d'Abruzzo, de origem protegida e mais um risoto au cittron verte e um farfalle au parmeson, creme de leite e salcinha. Enquanto esperávamos os pratos principais petiscamos presuntos.

  Para fazer esse risoto pique as chalotas e o alho. Aqueça metade do azeite em uma panela. Adicione a cebola, o alho e o arroz e refogue até o arroz ficar translúcido. Regue com o caldo. Cozinhe aproximadamente. 20 minutos, mexendo sempre. Enquanto isso, pique o manjericão e esprema o suco de limão. Misture os dois com o parmesão e o restante do azeite. Misture ao risoto e sirva.

  Farfalle é um tipo de massa cujo nome deriva da palavra em italiano para borboletas, devido ao seu formato característico, podendo ser associadas também às gravatas-borboletas ou laçarotes. Pode aparecer em massa de diferentes cores, devido à adição de tomate ou espinafre. 

 Diria que nossas refeições foram adequadas ao momento - almoço frugal - sem demorada, pois, tínhamos outros compromissos adiante relacionados a fisioterapia. 

   Mas, ainda assim, gostamos muito do Sapori de Parma - em francês, Saveur de Parme; em português Sabor de Parma - tanto que levamos para casa nhoque, azeitonas e um Terre degli Eremir Montepulciano. E ainda prometemos voltar ao local, em breve.

  Voltaremos a falar de restaurantes mais adiante dando uma pausa nesses capítulos mais extensos e com muita história, nem sempre agradáveis aos leitores, porém fundamentais para conhecer Paris.