Cultura

FESTIVAL RADIOCA DEIXA SAUDADE E APRESENTA NOVOS E VETERANOS ARTISTAS

Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi, Zé Manoel, Mariana Aydar, Bixarte, Ana Frango Elétrico e BAGUM & Vandal fizeram um domingo de música brasileira em Salvador

Tasso Franco ,  Salvador | 14/11/2022 às 08:21
Os artistas e o público
Foto: Rafael Passos
O segundo e último dia do 6º Festival Radioca, realizado na Fábrica Cultural, em Salvador, foi de emoções intensas, estreias e lançamentos. Neste último domingo, 13 de novembro, o evento apresentou mais seis shows e incorporou ares de novidade, projetando luz no que deverá marcar os rumos da música brasileira nestes tempos. Originalidade, talento e competência ecoaram olhares para periferias, ancestralidades, juventudes, maturidades, representatividade.

A programação começou com tom já lá em cima, na explosão que é o encontro da banda BAGUM e o rapper Vandal, representantes do atual panorama da música soteropolitana. Sonzeira da mistura do trabalho instrumental do grupo, na interseção entre rock, funk e jazz, e a atitude do artista pioneiro em apresentar um elo entre a bass music mundial e estilos regionais. O público garantiu chegar cedo para prestigiar, bater cabeça e abrir roda.

 Depois foi a vez da paraibana Bixarte e seu rap engajado na afirmação de existências dissonantes, pela primeira vez em Salvador. Travesti, negra, periférica, ela demonstra perspicácia com a palavra e ousadia no palco, integrando as lutas que vêm abrindo caminhos de reconhecimento para pessoas trans. Foi a primeira vez de uma travesti no palco do Radioca, que mobilizou também a presença de muitas outras na plateia – o evento inclusive ofertou uma cota de ingressos gratuitos para esta população historicamente excluída dos espaços cotidianos.

Ana Frango Elétrico, carioca, foi a terceira atração e apresentou seu show em Salvador também pela primeira vez, com o repertório do aclamado álbum “Little Electric Chicken Heart” (2019). Entre o despojado e o rebuscado, a performance teve ar encantador, botando fãs em êxtase e surpreendendo os que ainda não conheciam seu trabalho.

Em seguida, o compositor, cantor e pianista pernambucano Zé Manoel chegou com sua sonoridade delicada e emocionada, também afirmativa e afrocentrada. Com show do seu elogiado terceiro disco, “Do Meu Coração Nu” (2020), botou o público em contemplação.

 A paulista Mariana Aydar matou saudades da Bahia. Pela solidez de seu trabalho, a cantora e compositora foi escolhida pela curadoria para atestar o reconhecimento em uma trajetória madura, consistente, que alia elementos e ritmos contemporâneos às raízes no samba, forró e afoxé. O repertório autoral, que inclui o quinto e mais recente disco de estúdio, “Veia Nordestina” (2019), se somou a clássicos dos estilos, com direito a um set de bregas.

Encerrando a noite e o 6º Festival Radioca, a honra de receber o show de lançamento do álbum “Alto da Maravilha”, trabalho conjunto dos baianos Russo Passapusso e Antonio Carlos & Jocafi, que foi disponibilizado nas plataformas de streaming na última semana. O projeto, patrocinado por Natura Musical, colocou nomes como Curumin, Ubiratan Marques, Saulo Duarte, Icaro Sá e Lucas Martins em uma banda numerosa e de peso, para uma apresentação produzida com muito esmero. Na reverência de um dos grandes artistas do Brasil atual a uma dupla com mais de 50 anos de estrada vanguardista, surge uma música essencialmente brasileira, afrobaiana, condensada em ares contemporâneos, atemporais, para se inscrever nos grandes momentos da história musical do país.

Realizado pela Tropicasa Produções, o 6º Festival Radioca é apresentado por Devassa, a cerveja puro malte refrescante feita com maltes 100% naturais, e Estado da Bahia, com patrocínio de Devassa, da Oi e do Governo do Estado, através do Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. Conta com o apoio cultural do Oi Futuro e Labsonica.