Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 22: IGREJA SAINT MERRY, TEMPLO MEDIEVAL

Uma área da cidade onde as pessoas se sentem como na época medieval
Tasso Franco ,  Salvador | 10/11/2022 às 09:38
Nossa visita a igreja de Saint Merry
Foto: BJÁ
    
   Em nossa peregrinação pelo centro de Paris, flanando a Baudelaire - olhos atentos a tudo o que se passa, pero sem sua sagaz pluma "...há naturezas puramente contemplativas, em tudo inaptas à ação; ou a Carlinhos Oliveira - cronista brasileiro que amava os cafés parisienses e tomava todas até quando sua saúde aguentou, deparei-me diante de um templo grandioso parecendo um mamute com enormes chifres encurvados, a Igreja de Saint-Merry, preciosidade da idade média localizada nas proximidades do Centro de Cultura Georges Pompidou (4º Distrito).

  Localiza-se no cruzamento da antiga estrada romana norte-sul, na atual 76 Rue Saint Martin e o eixo leste-oeste, Rue de la Verrerie - dos objetos de vidro, em estilo gótico francês dedicada a um abade do século VIII da Abadia de Autun, Saint Mederic, que veio a Paris em peregrinação e depois morreu no ano 850.

  A San Martin com 1.500 metros tem parte da rua no Quartier des Artes-et-Métiers e Saint Avoye, no 3º Arrondissement; e a outra área no Quartier Saint Marri, no 4º Arrondissement. Uma rua com pernas em dois distritos, o que não é incomum na cidade. Diz a história que era um prolongamento da Rue Superior, a margem direita do Sena, e ganhou uma maior dimensão a partir de 1147, quando de fato obteve um traçado definitivo até a Rue Neuve Saint-Merri onde havia o portão Archet Saint Merri. Paris, como todas cidades medievais europeias era uma fortaleza. 

  Quando o rei Felipe II chamado também de Felipe Augusto (governou a França de 1180 a 1223) mandou construir o Bazer Les Halles, nessas imediações, a Saint Martin que era a principal ligação leste-oeste da ville, virou um formigueiro humano, pois era o principal caminho para Les Hales. Posteriormente, já no século XIX, foi aberto o Boulevard Sébastapol (antigo Central) separando o 1º Arrondissement do 2º; e o 3º do 4º, ela deixou de ser o eixão, porém mantém um movimento intenso de pedestres nessa área da cidade.
 
  O local é de permanente circular de franceses e turistas nessa área da cidade, mais na Saint Martin do que na Verrerie, que são ruas rua bem alegres com bares e restaurantes à vista e muito frequentados e um vai e vem de pessoas que se dirigem ao Geroges Pompidou e ao Shopping subterrâneo Les Hales. Os franceses as chamam de 'rues ancienne'. Há várias estações de metrô nessas imediações: Chêtelet, Sébastapol, Hôtel de Ville e outros. Diria que as pessoas se sentem como se estivessem andando na época da idade média.

  Mederic era um eremita – monge - que teria morrido neste local no dia 4 das calendas de setembro, que corresponde a 29 de agosto, por volta do ano 850. Em 884, durante o último cerco de Paris pelos normandos foi escolhido como santo padroeiro da margem direita do rio Sena, pois nessas imediações havia um pântano até que houve o saneamento no decorrer dos séculos.

 Uma pequena capela, chamada Saint-Pierre-des-Bois, existia no que era então uma campina. Após um tempo como eremita, Mederic mudou-se para Paris porque desejava morar perto do túmulo de Saint Symphorien, fundador da Abadia de Autun, que ficava dentro da Igreja de Saint-Germain-des-Prés, bairro localizado a gauche do Sena.

  À medida que o bairro se tornou um distrito comercial a capela (pequeno templo com apenas 1 altar) deu lugar a uma igreja (templo maior com vários altares) por volta de 1200, mas logo ficou pequena. A atual igreja foi iniciada sob o rei Francisco I por volta de 1520 e terminada por volta de 1560. Embora tenha sido construído no meio do Renascimento, foi construído no estilo Flamboyant ou gótico tardio.

  De acordo com a folheteria da casa, o edifício atual foi construído entre 1500 e 1550. Tem a dupla particularidade de ter uma nave lateral apenas a sul e de ter a mesma planta de Notre Dame (sendo o coro substancialmente igual em comprimento à nave).

  Ainda segundo dados da paróquia, a construção pertence ao estilo gótico do século XV, as janelas e a abóbadas da travessia do transpeto mostram a chamada influência inglesa "flamboyant".

  Há várias outras informações nos folhetos à disposição dos visitantes na igreja inclusive sobre o gótico “flamboyant”, que busca a unificação da luz em todo o edifício; o uso de vitrais brancos e a substituição de vitrais coloridos. A mensagem exposta pelos vitrais é a do Evangelho de São João "Deus é luz".

  Vale observar que a Rue Verriere, originalmente, era o local de maior concentração de oficinas, ateliês de artistas, lojas, etc de objetos de vidro e de vidraceiros. Os vidraceiros eram personagens que percorriam as ruas da cidade - como os leiteiros, os amoladores de tesouras e facas, os mascates, etc - como armaduras nas costas em que levavam vidros de todos os tipos para fazer reparos em janelas das residências, lojas, igrejas e outros.

  As pinturas em vidro se tornaram, ao longo dos séculos, uma arte muito utilizada nas igrejas e também nas passagens (centros comerciais então chamadas de Lojas de Departamentos, magazines), em palácios, museus, gares de trens, etc se tornando uma atividade artística e empresarial, sobretudo com o advento da Revolução Industrial a partir do final do século XVIII. 

  Já no século XVIII, a igreja foi gradualmente modificada com elementos do estilo clássico com vitrais de cores intensas nas janelas superiores da nave e coro sendo substituídos por vidros transparentes. A torre do sino contém um dos sinos mais antigos de Paris, lançado em 1331, que sobreviveu à Revolução Francesa, reconhecidamente predadora dos templos religiosos quando o edifício foi adaptado para uma fábrica de pólvora.

  Nos dias atuais, a igreja agora abriga o Centro Pastoral Halles-Beaubourg e a base da Académie V ocale de Paris, que realiza concertos na igreja todos os sábados ao longo do ano.

   A visita ao templo é gratuita e, como em todas as igrejas onde predomina o gótico, com pé-direito altíssimo (dizia-se que era para dar a impressão aos fiéis de alcançar o céu) e abóbodas curvas impressiona e é agradável de se observar sobretudo aos brasileiros que não estão acostumados a frequentar esse tipo de templo. Eu a madame Bião de Jesus a visitamos em quase todas as suas dependências. Sendo que a madame, como o próprio nome diz, uma Jesus, orou e acendeu uma velinha para me proteger e aos seus parentes fraternos e amigos, livrando-nos do mal, amém.