Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 18: O MUSEU DE ARTE MODERNA DA FRANÇA

Uma viagem pelo mundo da arte a partir do inicio do século XX até os dias atuais
Tasso Franco ,  Salvador | 27/10/2022 às 10:08
Las Ten Lizes, obra de Andy Warhol
Foto: BJÁ
   Esta é uma crônica de continuidade. Falamos do Centro de Cultura Georges Pompidou, o Beaubourg, sua arquitetura inovadora e o entorno onde se localiza o multiequipamento e agora vamos falar do recheio do bolo, o que tem dentro do edifício de tubos, aço e vidros. São muitas atividades culturais nos museus, na biblioteca, livraria, ICRAM e espaços de expos individuais e lazer, mas vamos nos deter no Museu de Arte Moderna que se estende pelo 4º e 5º pisos, com exposições permanentes e 1.300 obras contemporânea 
  No piso 5, mostra da arte moderna do início do século XX até 1960 - Miró, Picasso, Matisse, Braque, Kandinsky e muitos outros; e no piso 4, os contemporâneos desde 1960 até os dias atuais.

  São milhares de obras colocadas à vista das pessoas nos corredores, salas, salões e espaços das escadas e cada qual tem visões e interpretações diferenciadas do que vê, os olhares das artes com contemplações mais demoradas, estudos, análises mais refinadas, os estudantes a executarem trabalhos nos locais, mas a maioria - como é meu caso - é de leigos, de amantes da arte sem conhecimentos mais aprofundados. 

   Diria que sei distinguir um Andy Warhol (pop-arte) de um Claude Monet (impressionista) até a primeira vista pelos estilos de cada pintor, porém não saberia precisar o que significa mais detalhadamente e o que valoriza o cubismo do impressionismo; e as diferenças técnicas entre o realismo e a arte moderna.

  O importante, no entanto, é sentir ao seu modo, ver uma belíssima expo e observar como as pessoas se detém e admiram as obras. Alguns desses artistas nos momentos em que pintaram esses quadros e executaram as esculturas e outros viveram em Paris com bastante dificuldades até que alcançaram a fama e ganharam muito dinheiro. 

 Que o digam Picasso e Matisse, dois nomes famosos e se você assim quiser, pode conferir detalhes dos perrengues que passaram no livro de memórias de Alice B. Toklas, a companheira de Gertrudes Stein, escritora norte-americana que viveu em Paris no início do século XX até 1946 e transformou parte de sua casa num ateliê - comprava e vendia quadros com seus irmãos - e foi protetora e divulgadora dessa arte que ainda era desconhecida do mundo ocidental, sobretudo no mercado norte-americano.

  Stein e Toklas tiveram, inclusive, a oportunidade de conviver com Pablo Picasso e sua primeira esposa Fernande Olivier; Henri Matisse e sua esposa Amélie; Marcelle Braque; Marie Laurencin e tantos outros artistas e escritores como Ernest Hemingway e sua esposa Hadley, Scott Fitzgerald, Guillaume Apollinaire; e também com o marchand mais famoso e influente de Paris, nessa época, o dono da Galeria Vollard, local onde adquiriu muitas obras de arte. 

  Picasso retratou Stein num quadro que é dos mais famosos do artista e Toklas conta em detalhes vários encontros do casal com essas personalidades  - elas  moraram juntas e se amaram desde o início do século XX até a morte de Gertrudes, em 1946, de câncer; e quando Toklas faleceu, em 1967, seu corpo foi levado para ser sepultado ao lado da companheira no Cemitério de Pére-Lachaise, Paris, onde se encontram  -, como ela e os irmãos compravam quadros desses artistas que depois ficaram muito famosos, os jantares, as tertúlias, as brigas, as intrigas, tudo isso escrito por uma pessoa que conviveu nesse ambiente e era uma grande observadora. Toklas se torna escritora como Gretrudes, não tanto famosa e influente quanto esta, porém, com depoimentos valiosíssimos para a história da arte, sobretudo sua biografia, que data de 1933.
   Este livro e os de Stein (Three Lives e The Making of Americans) são importantes para se entender como essas pessoas viviam em Paris e o disputado mercado de arte com obras dos emergentes e geniais artistas Picasso, Matisse, Gauguin, Van Gogh, Signae, Braque e tantos outros, hoje, obras que valem milhões de euros, cada uma delas. 

  Stein só escrevia em inglês e amava os Estados Unidos - seus livros mais destacados são sobre a vida americana - e suas relações de amizades em Paris se deram mais com os integrantes da "Geração Perdida"(norte-americanos), espanhóis e europeus não franceses. 

   A visita ao Museu de Arte Moderna de Paris, portanto, é um mergulhe num universo fantástico em obras emblemáticas instaladas nos dois estágios do prédio, de artistas que nasceram na segunda quadra do século XIX ou no final dela e produziram brilhantes obras até a década de 1960, quando morreram; e dos contemporâneos como Andy Warhol, o papa da pop-arte e que nasceu em 1928 e morreu em 1987; e de Salvador Dali, o surrealista mor, que nasceu em Figueres, Espanha, em 1904; e morreu na mesma cidade em 1989, mas fez muitas estripulias em Paris, inclusive no Hotel Ritz, onde teria entrado montado num cavalo, e conviveu com Picasso na cidade luz a partir de 1924.

  Paris era o caminho, a luz. Diz-se que Dali, ao chegar em Paris, foi a casa de Picasso e falou: - Vim vê-lo antes de ir ao Louvre. Picasso, que já conhecia sua obra inicial através de Miró, respondeu: "Fez você muito bem". Ambos espanhóis e distantes do academicismo se deram muito bem, embora Dali tenha sido mais politizado no engajamento de causas revolucionárias do que Pablo, e transitou também pela literatura e pelo cinema com Hitchok e Buñel. 

  O ingresso para visitar as expos permanentes custa 14 euros (se quiser visitar alguma expo individual paga-se outra quantia) e não há tempo específico para a visita podendo-se ficar toda uma manhã ou tarde - fecha às 18 horas. Há, no 5º andar uma área de contemplação - tipo jardim suspenso envidraçado - donde se tem uma vista do casario de Paris em direção a basílica de Notre Dame. 

   O MNAMF sucedeu ao Musée du Luxembourg, fundado em 1818 pelo rei Luís XVIII como o primeiro museu de arte contemporânea criado na Europa, dedicado a artistas vivos cujas obras deveriam ingressar no Louvre 10 anos após suas mortes. Era uma praxe.

   Imaginado em 1929 por Auguste Perret para substituir o antigo Palais du Trocadero, a construção de um museu de arte moderna foi decidida oficialmente na década de 1930. Sua inauguração só ocorreu em 1947 após a Segunda Guerra Mundial com a adição da coleção de obras estrangeiras do Musée du Luxembourg, que estavam no Musée du Jeu de Paume desde 1922, sediado no Palais de Tokyo. 

  Com a criação do Centro Georges Pompidou o museu mudou-se para sua localização atual em 1977. Tem a segunda maior coleção de arte moderna e contemporânea do mundo, depois do Museu de Arte Moderna de Nova York, com mais de 100.000 obras de arte de 6.400 artistas de 90 países. 
 
   Esses trabalhos incluem pintura, escultura, desenho, impressão, fotografia, cinema, novas mídias, arquitetura e design. Uma parte da coleção é exibida a cada dois anos alternadamente em um espaço de 18.500 metros quadrados dividido em dois andares, um para arte moderna (de 1905 a 1960, no 5º andar), outro para arte contemporânea (a partir de 1960, no 4º andar), e 5 salas de exposições. O Atelier Brancusi está localizado em seu próprio prédio adjacente ao museu. 

  As obras expostas no museu mudam frequentemente para mostrar ao público a variedade e profundidade da coleção. Muitas exposições temporárias de arte moderna e contemporânea aconteceram em um andar separado (6º) ao longo dos anos. Desde 2010, o museu também exibe exposições temporárias únicas em sua filial provincial, o Centro Pompidou-Metz, em um espaço de 10.000 metros quadrados divididos entre 3 galerias e, desde 2015, em Málaga, Espanha, e 2018, em Bruxelas, Bélgica. 

 Na mostra atual, o visitante se depara com a obra de Fernand Léger pintor francês (1881/1955) "Composicion aus deux parroquets" (composição de dois papagaios), óleo datado de 1953, uma pintura mural belíssima o que mostra, também, o interesse de Léger pela arquitetura por influência de Le Corbusier. 

  O corredor do pavimento é imenso e mais adiante vê-se a obra de Andy Warhol, de 1963, "Ten Lizes" (Dez Lizes) ele que é considerado  “o Papa do Pop”, o qual explorou várias áreas dentro do espectro artístico, desde a ilustração comercial até a pintura, enquanto, paralelamente, criava novas técnicas. Realizou também filmes e gerenciou uma banda denominada de The Velvet Underground. Fundou, ainda, um ponto de encontro cultural na cidade de Nova York, a famosa de The Silver Factory. 

 Adiante, impressiona a obra de Niki de Saint-Phalle pintora e cineasta francesa (1930/2002) uma escultura intitulada "La Mariée" (a noiva), um disfarce com uma imensa imagem e colagens em branco. 

  Não dá para falar de todas as obras existentes no museu senão essa crônica se tornaria muito longa. Citarei apenas obras que me chamaram mais a atenção como a "Femme" de Joan Miró; "Guillaume Tell, 1930, de Salvador Dali; "Buste de Femme", de Pablo Picasso, 1907; "Adieu New Yprk", 1946, Fernand Léger; "La Muse", 1936, Pablo Picasso; "A casa Azul", de Marc Chagal.
 
   Já estive neste templo da cultura mundial em três épocas distintas: na década de 1980 (mais precisamente em 1987), na década final de 1990 quando era secretário da Comunicação da Prefeitura de Salvador, e na primavera de 2022 com minha esposa a madame Bião de Jesus. Desta feita tive a oportunidade de transitar com mais vagar as dependências do museu, ainda que limitando-me ao 4º e 5º andares, e estive mais de dez vezes no Marais e arredores, na praça do Hôtel de Ville presenciando inclusive a muvuca que foi a presença de britânicos e espanhóis, em "guerra", na disputa da Champions League no jogo entre Liverpool e Real Madrid (Real campeão), na Temple, na Gloves, no Halles, Rivoli, Saint Denis de ir e frequentar café, bares temáticos, galerias e museus e sentar demoradamente nos bancos dos jardins.

  Por isso mesmo, essa é minha área predileta em Paris, e o Museu de Arte Moderna no Beaubourg uma aula paro amantes da arte contemporânea onde se tem a oportunidade de ver de perto, fotografar, filmar, obras de tanta gente famosa, muitos artistas dos quais sempre se encantaram e viveram e amaram Paris. E outros, igualmente famosos, de países do Ocidente do planeta arte.