Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 17: BEABOURG, UMA NAVE ESPACIAL NA VILLE

Um lugar muito especial em Paris no 4º Arrondiosement um dos mais agitados da cidade
Tasso Franco , Salvador | 23/10/2022 às 10:18
Diante do Centro de Cultura Georges Pompidou
Foto: BJÁ
   
  Deixemos à vontade os batedores de carteiras (les pickpockets) do metrô de Paris, como permanentemente atuam, porque até o sistema de som dos trens avisa que estão nos vagões e você que cuide de sua bolsa, e vamos falar sobre uma das mais belas áreas da cidade onde se situa o Centro Cultural Georges Pompidou, popularmente conhecido como Beaubourg. É difícil escolher o local preferido em Paris tantas são as opções, cada uma delas com paisagens e monumentos mais sugestivos do que as outras, escolhi, no entanto, o Beaubourg. 

  Diria, pelo pouco que conheço de Paris, que essa área onde se construiu o centro de cultura, o entorno do local incluindo as duas praças e ruas do 4° distrito - Marrais - acessível pelas estações de metrô Rambuteau, Hôtel de Ville e Châtelet-Les Halles, um emaranhado de ruas desde a praça da Prefeitura até o shopping subterrâneo Les Halles, passando nas imediações da ousada Rue Saint Denis - dos sex-shops e casas de prostituição - a praça de Vosges (antiga Royale) onde morou Victor Hugo, no século XIX, com uma quantidade enorme de galerias de arte, cafés, lojas de toda natureza, artistas de rua, pintores, escultores é um caleidoscópio da cidade.

  Há, portanto, vida e arte nas ruas e nos museus e centros de cultura, um fervilhar de artistas, gente do povo, mendigos, turistas de todas as parte do mundo e um sentimento de que você está na Paris de séculos passados, da estrada romana em Saint Denis, de cenários de "Les Miserables" de Hugo com se seus personagens Jean Veljean, Cossete, Javert, o bispo de Colm, madame Thénardier e outros passando ao seu lado, cavalos e carruagens circulando com cocheiros engravatados, cartolas e cravos no botoeira, enfim, sente-se um clima retrô ainda que estejamos no século XXI. Esse centrão, em especial, é capaz disso, de nos remeter ao passado, a idade média e a "Belle Epoque" em abrir e fechar de olhos.

  Na praça ao lado do Beaubourg, a Igor Stravinsky, há uma fonte com esculturas mecânicas, pretas ou coloridas, com jatos d'água obras dos artistas Jean Tinguely e Niki de Saint Phalle; um mural intitulado "chuuut'Sssshhh", de Jean-Francois Perroy; mais adiante a igreja Saint-Merri, de estilo gótico flamejante; e casas comerciais, cafés e galerias de arte. 

  São tantas coisas a ver que é preciso concentração e vamos no ater, por enquanto, ao prédio futurista do CGP. Depois falaremos do Museu de Arte Moderna, da Igreja, de Vosges, Hôtel de Ville e outros, separadamente.
 
  O Centre National d'art et de Culture Georges Pompidou é algo sobrenatural. Numa cidade com muitas construções antigas, essa nave espacial do outro mundo no coração da cidade é instituição cultural inteiramente dedicada à criação moderna e contemporânea, onde as artes plásticas convivem com o teatro, a música, cinema e a literatura. Abriga o Museu de Arte Moderna, a Biblioteca Pública de Informação e o IRCAM, um centro para música e pesquisas acústicas. Há exposições renovadas e no nível 5 estão as coleções modernas de 1905-1965 e no nível 4 as coleções contemporâneas a partir de 1960.

  Georges Jean Raymond Pompidou foi presidente da França a partir de 1969 até sua morte em 1974. O centro foi inaugurado em 1977 pelo presidente Giscard d'Estaing, que o substituiu. Anteriormente, Pompidou primeiro-ministro da França de 1962 a 1968 - o mais longo mandato na história neste cargo. Assessor do presidente Charles de Gaulle era um conservador moderado que restaurou o relacionamento da França com os Estados Unidos e manteve relações com as ex-colônias recém-independentes na África.

  O acesso custa 14 euros e você transita à vontade por todas as dependências das exposições e pela área livre de contemplação da cidade para fotos e filmagens. Tem-se uma visão da área da Notre Dame e da Torre Eiffel e contornos do Louvre e do Sena. É permitido fazer fotos (sem flash) de todas as telas, esculturas e outras obras de arte. Em todas as salas há vigilância de funcionários. 

  A ideia de um complexo multicultural juntando diferentes formas de arte e literatura foi do então ex-primeiro-ministro de funções culturais André Malraux. Nos anos 1960, autoridades municipais demoliram o antigo mercado de Les Halles, datado do século XIX, e propuseram transferir vários institutos culturais para serem montados na antiga área do mercado. 

 Após os protestos de Maio de 1968, o Presidente Charles de Gaulle, anunciou o Plateau Beubourg como o local ideal. Em 1969, o novo presidente Georges Pompidou adotou o projeto de Beauborg e decidiu que este seria o local tanto da biblioteca quanto de um centro para artes contemporâneas, incluindo o IRCAM (Instituto de Pesquisa e Coordenação Acústica/Música) também foi incluído no complexo.

 Em 1971, pela primeira vez na história da França, permitiu-se que arquitetos internacionais participassem de um concurso de arquitetura em Paris. O júri foi constituído pelo arquitetos francês Jean Prouvé, o norte-americano Philip Johnson e o brasileiro Oscar Niemeyer. O projeto escolhido entre 681 foi liderado por Renzo Piano e Richard Rogers, o único que propunha uma praça em frente ao prédio.

 A construção foi projetada pelos arquitetos Renzo Piano, Gianfranco Franchini e Richard Rogers, com a colaboração do inglês Edmund Happold, em alta tecnologia (da época) estruturado com um sistema de conexões, tubos e cabos de aço, escadas rolantes e vidro. Uma arquitetura inovadora demais - estamos falando dos anos 1970 - recebendo críticas de várias direções, ora sendo apelidado de uma "fábrica de tubos", "refinaria pavorosa" e outras adjetivações, mas subiu e encantou o mundo em pouco tempo.
 Paris já tinha experimentado tal pavor quando Gustave Eiffel implantou a torre que leva o seu nome às margens do Rio Sena, no Campo de Marte, para a Expo Universal de 1900, utilizando as novas tecnologias da primeira era industrial - o ferro, bases em concreto e cimento - quando aconteceram protestos semelhantes ao que se deu com Beaubourg, ainda hoje, o símbolo mais representativo e cultuado da capital francesa. 

  E iria experimentar novos protestos, na década de 1980, com a construção da Pirâmide do Louvre, obra do arquiteto sino-estadunidense Ieoh Ming Pei, uma estrutura de vidro e metal rodeada por três pirâmides menores no pátio principal do museu, hoje, local de acesso ao centro de cultura já icorporado, mais recentemente, um shopping subterrâneo.

  E imaginar, que mais de um século depois de erguida a Torre Eiffel (1899), mais de 45 anos após Beaubourg (1977) e mais de 33 anos (1989) da Pirâmide esses são três símbolos de Paris mais admirados, fotografados, filmados, cenários de concertos, peças teatrais, desfiles de moda, obras do cinema e os mais visitados da capital francesa e do mundo ocidental.

  Em Beaubourg, a identificação da função dos componentes do edifício se dá através da utilização de cores: as estruturas maiores e os componentes de ventilação estão pintados em branco; estruturas de escadas e elevadores, em prateado; elementos de ventilação, em azul; instalações hidráulicas e de incêndio, em verde; elementos do sistema elétrico são amarelos e laranjas; e os elementos relacionados com a circulação pelo edifício estão pintados de vermelho. 

  O visitante desse espaço cultural, portanto, antes de conhecer as obras de arte do Museu de Arte Moderna, o ICRAM, a biblioteca e outros tem que se deter no próprio Beaubourg. Os arquitetos, engenheiros, técnicos em computação e design, artistas plásticos, sobretudo, observam e analisam até mais o prédio em si do que as obras de artes contidas neles. E não é para menos. Representa um laboratório a céus aberto e encoberto, pois tanto é admirado por fora; quanto por dentro observando-se, ainda, a utilização dos espaços, a simetria e outros aspectos técnicos.
 
  Para um leigo (como é meu caso) fica-se curioso em saber como é acessar o prédio por um amplo salão e depois pegar uma escada rolante com vista para a cidade e onde ela vai dar ou onde você vai chegar e o direcionamento interno para as galerias de artes nos andares. É simplesmente emocionante. Enquanto você sabe vê a praça e artistas de rua cantando ou em outras performances; pintores com seus miniateliês trabalhando; gente namorando; pessoas deitadas no chão contemplando o prédio com outras visões; um quebra-cabeças.

   A Biblioteca na entrada do edifício é um ponto de encontro, local de pesquisas e leituras, de ler os jornais internacionais do dia, ver as televisões do mundo inteiro, encontrar pessoas, circular pela livraria e pela boutique e até fazer amigos. 

   Beaubourg é um símbolo de integração, de inovação, de debates permanentes, de questionamentos, de beleza, harmonia, leveza e de que a arquitetura é uma arte transformadora desde os seus primórdios. E Paris dá esse exemplo ao mundo ocidental com a catedral Notre Dame e Beaubourg; a Praça Vendôme e o Boulevard Sébastopol;  Les Halles e la Defense; o vintage convivendo com o moderno.