“A alimentação deve fazer parte de um contexto de estilo de vida que inclui atividade física e evitar o tabagismo. O prazer de comer deve estar vinculado à refeição, buscando-se desenvolver um relacionamento saudável com a comida. Essa nova abordagem é o futuro para uma alimentação saudável: consciência alimentar”. Com essa reflexão, a fundadora e diretora do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (CEDEBA), endocrinologista Reine Chaves, encerrou sua aula na sessão clínica para profissionais da área assistência/saúde, atividade da Coordenação de Ensino e Pesquisa (COEP), do Cedeba. As sessões foram suspensas com a pandemia da COVID-19 e retomadas ontem.
“O Papel da Dieta na Prevenção Cardiovascular Primária” foi o tema da sessão clínica, quando a endocrinologista apresentou estudos sobre variadas dietas e a correlação com a perda de peso e redução do risco cardíaco, mas na conclusão da sua aula destacou que “os profissionais de saúde devem eliminar a palavra “DIETA” na abordagem ‘ com o paciente,” porque dieta significa uma maneira desagradável e de curta duração para perda de peso.”
AS GORDURAS
E um dos aspectos da alimentação saudável consiste no consumo de gorduras com parcimônia para evitar a elevação do colesterol LDL, citando que 85% do colesterol presente no organismo humano é proveniente da síntese (o próprio organismo produz) e 15%, da alimentação, observou Reine Chaves.
São gorduras saturadas: de origem animal (carnes gordas, aves com pele, laticínios integrais, queijos amarelos curtidos, embutidos, manteiga e margarinas e de origem vegetal (azeite de coco e de palma), as goduras trans (cookies, tortas, salgadinhos prontos, produtos de pastelaria, biscoitos recheados, comidas fritas e congeladas, pipocas de micro-ondas e as que se formam no processo de elaboração de azeites de cozinha, margarinas e manteigas vegetais.
No grupo dos ácidos graxos monoinsaturados estão (azeite de oliva, azeite de canola, frutas secas (avelã, nozes, amendoim), abacate, tofu e dos ácidos graxos polinsaturados (óleos vegetais de milho ou girassol, peixes ricos em ômega 3 ou 6, presentes em águas profundas e frias (salmão, congrio, atum, bacalhau, merluza, truta cavalinha). Os peixes de água doce não se incluem neste grupo.
Para reduzir o risco de Doença Cadiovascular Aterogência é muito importante, segundo Reine Chaves, dieta rica em vegetais e frutas, grãos e alimentos com altas fontes de fibra, consumo de peixes, especialmente de águas profundas pelo menos duas vezes por semana, limitando o consumo de gorduras saturadas e TRANS (parcialmente hidrogenadas) e colesterol, dando prioridade a carnes magras, ou sem ingestão de carnes, e laticínios sem gordura e semi-desnatados e o mínimo consumo de bebidas com adição de sal ou açúcar e bebidas alcóolicas com moderação.
Segundo Reine Chaves, a alimentação saudável é muito importante porque “elevados níveis de colesterol LDL contribuem para a doença cardiovascular Aterosclerótica (DCVA). Outros fatores de risco não lipídicos – pontuou a endocrinologista – devem ser considerados na prevenção da DCVA: hipertensão arterial sistêmica, tabagismo e diabetes. As medidas de controle dietético são usadas, inicialmente, mas quando não são suficientes para atingir os níveis desejados de colesterol, devem ser revistas para o inicio do tratamento com medicamentos.
O CONSUMO DE OVO ELEVA O RISCO DE DCVA?
Considerado por muito tempo o vilão para o aumento do colesterol, o ovo passou a ser usado sem controle, principalmente por atletas. Dezesseis metanálises feitas em indivíduos que consumiam ovos entre 5, 8 e 20 anos, uma vez por semana e uma vez por dia, não evidenciou alteração de risco cardiovascular ou mortalidade na população em geral. Contudo – observou – em pacientes com diabetes observou-se um aumento de risco de DVC, reflexo do conteúdo de colesterol na gema do ovo: 186 mg. No homem o aumento do risco foi de duas vezes e na mulher, 1,49.Segundo a endocrinologista, o consumo exagerado de ovos deve ser evitado porque os estudos foram feitos considerando o consumo de um ovo/dia.
Na apresentação das mais recentes dietas,, como a do Mediterrâneo, Cetogênica, Jejum intermitente, a endocrinologista mostrou que o estilo de vida é muito importante, bem como a relação com os alimentos. Citou como exemplo a dieta do Mediterrâneo que, ao ser utilizada em países do ocidente não teve o mesmo sucesso que na região de origem, onde as refeições seguem um ritual próprio, onde a produção artesanal de alimentos (como vinhos e azeites) é muito forte. Por isso – pontuou – a alimentação saudável deve levar em consideração também os saberes de cada cultura e a realidade econômica.
Ascom do Cedeba