Cultura

PARIS AO SOM DO BANDOLIM, CAP 6: A RUE DE BUCI E LA MAISON SAUVAGE

Caminhando sem roteiro prévio pelas ruas de Saint-Germain-des-Prés descobrimos a Rue de Buci
Tasso Franco ,  Salvador | 08/09/2022 às 08:59
O cronista TF e a madame Bião de Jesus
Foto: Selfie
    Atravessamos a Ponte Neuf ao som de um acordeonista que tocava "La Vie en Rose", de Edith Piaf, com afinação em "mussete" - um tom acima - bem típico dos músicos franceses e paramos para dar-lhe uma moeda de euro e gravar um video de 1min25seg para a home do BahiaJá. 

  Observei que o músico, um senhor que aparentava mais de 60 janeiros usando boné quadriculado e jaqueta marron, sentava-se numa cadeira de dobrar e repetia a mesma música sem parar - técnica bem conhecida dos instrumentistas de rua - uma vez que o público é quem se movimenta e não o músico. Portanto, só chatos como eu, poderiam atentar para isso.

   Adiante tiramos fotos de nossa caminhada, em vários ângulos - a gente sempre fica pensando que nunca mais volta a um lugar visitado no exterior - contornamos a estátua equestre de Henrique IV e nos aproximamos da mureta que dá acesso ao cais onde turistas embarcavam num "bateau mouche" quando perguntei a madame se o rio Sena estava com suas águas a subir em direção ao d"Orsay ou a descer rumo a île de la Cité.

  Ela olhou, astuciou, mediu em seu pensamento e vendo um barquinho deslizando nas águas e formando pequenas ondas à sua frente disse: - Está descendo meu nobre escritor. 

  - Pois não, nao. Arrematei com discreta ironia, está subindo em direação a Torre Eiffel, por isso mesmo estamos a "gauche" dele como dizem os franceses desde Feramundo ou Clódio Cabelos Compridos. 

  - Lá vem você com suas sabeborias enciclopédicas. Melhor é andarmos adiante e procurarmos um local para comer antes de voltarmos para casa. 

  - Pois assim faremos, distinta e bela madame. Conduzi-a de mãos dadas em direção a Rue Dauphine que fica situada quase em frente a Neuf, em Saint-Germain des Prés um dos bairros chiques de Paris.

  - Aonde nos leva? Melhor seria nos dirigirmos em direção ao d'Orsay uma vez que a nossa estação do metrô, a Soferino, é para lá (apontou), "a gauche do river" - ensobou com seu francês iniciante. 

  - Essa Dauphine me parece bastante movimentada em casas de comércio, hotéis e restaurantes. Lá adiante, podemos dobrar a noroeste que chegaremos a Soferino. 

  - Imagino que tenhas uma bússola na cabeça, pois, nada conheces em Saint-Germain.

  Andamos um pouco mais e chagamos a Place do Grand Réré que, depois pesquisei na internet, já fora um local de execuções e palco de revoltas populares, e nos deparamos a "droite" com a Rue de Buci, uma espécie de mercado a céu aberto com cafés, bistrôs, sorveterias, bares, padarias, osterias, uma babel com uma quantidade enorme de pessoas para lá e pára cá.

  De testa estava aos nossos olhos e quase ao pegar das mãos, a Maison Sauvage, com uma decoração harmoniosa em flores naturais. Uma selva. A madame não titubeou: - É neste que iremos. 

 - Não queres ao menos dar uma volta até o final da rua para conhecer outros bistrôs. 

 A madame meneou com a cabeça dando a impressão de que estaria muito satisfeita se conseguisse um lugar na Maison Sauvage.

 O distrito de Saint-Germain é um dos locais mais badalados de Paris. Abriga moradas de alto padrão localizadas à margem esquerda do rio Sena e seus moradores têm uma vida cultural intensa nas livrarias, antiquários, galerias de arte, museus, restaurantes estrelados e outros. 

  Viver em Saint-Germain significa refinamento não somente no sentido de que a pessoa ou a familia tem um alto poder financeiro, mas aprecia e cultiva a arte cênica e a cultura de uma forma geral. No meio desse caldo cultural convivem (e até habitam) artistas, poetas, filósofos e gente do povo.

  O bairro também tem seus mercadinhos, o marché de flores e barzinhos mais modestos e é um dos mais visitados pelos turistas, afinal nele está localizado o Museu d'Orsay com suas obras do impressionismo e atravessando as pontes das Artes e/ou a Neuf sobre o rio chega-se ao Louvre.  

  Turista, em especial, adora lugares de ricos, ao menos, por um momento ou por uma vez na vida. Sente-se integrado nesse clima de refinamento. E, há, ainda, os turistas que são afortunados e sentem-se em casa.

  Saint-Germain-des-Près além de suas lojas de luxo e restaurantes chiques abriga a igreja de Saint-Germain, templo medieval e origem da localidade, a mais antiga de Paris. O trecho mais famoso do bairro é o  o Boulevard Saint-Germain com seus inúmeros cafés, entre eles, o Flore.

  Racine, Balzac, George Sand, Musset, Verlaine, Rimbaud, Anatole France foram alguns dos escritores que viveram ou frequentaram assiduamente os cafés de Saint-Germain-des-Prés. Era o bairro favorito dos pintores Delacroix, Ingres e Manet.

 O distrito leva o nome da Abadia de São Vicente fundada por Childebert 1º, filho de Clóvis, primeiro rei da França. No século 7, a abadia foi renomeada como igreja de Saint-Germain-des-Prés após sua morte.

 Chegamos a de Buci por acaso, a qual durante séculos foi uma das mais importantes da margem esquerda do Sena. Os historidadores apontam que na Idade Média era a estrada que chegava a uma das portas da muralha de Felipe Augusto que cercava a cité.

  Yo e la madame Bião de Jesus conseguimos nos acomodar na Maison Sauvage após 15 minutos de espera, o disputadíssimo bistrô que fica na número 5 com a George de Tours. O local tem dois pisos, um terraço e uma fachada coberta de plantas - dando a idéia de selvagem, uma mata florida - que mudam ao ritmo das estações. 

  A maison está sempre lotada especialmente na parte térrea em frente as duas ruas e as mesas e cadeiras são bem juntinhas umas das outras. É preciso ter atenção no falar contido para não incomodar o vizinho. É permitido fumar nessa área, o que é desagradável. O serviço é dinâmico. Jovens garçons circulam como águias entre as mesas, as ruas e o balcão.

  Lugar para ser visto, badalar, beber vinho, causar, portanto nada intimista. É bem provável que, talvez por isso mesmo, seja tão frequentado. Achar uma mesa na hora do agito custa longo tempo. Mas, se você quiser pode marcar - uma reserva - para o café da manhã ou jantar na parte do terraço coberto.

  Gostoso mesmo é ficar onde ficamos, quase na rua, vendo o agito, curtindo as pessoas - maioria turistas - e o vai e vem de carros, motos, bikes, patinetes. Na Buci não passa carros e tem um marche para a venda de flores, pescado, queijos, vinhos e tudo mais em guloseimas. Na George circulam vans e táxis. 

     No cardápio eletrônico lê-se: - La Maison Sauvage alinha-se com a essência do seu ambiente e defende uma cozinha aberta ao mundo e desinibida.

  Chardonay's para nós e uma salade de lentilles, patate douce, carottes, feta. E mais fritas trufadas com parmeson ou huille de truffes. Estamos em Paris meu dignissimo leitor e cativa leitora por isso usamos umas palavrinhas em francês, perfwitamente compreensivas.

   Os pratos estavam deliciosos mas no sentido de adequa-los ao ambiente. Nada que se classifique maravilha. 

   Diriamos que adoramos o Sauvage e na Buci existem mais de uma dezena de outros restauranres e gelatos. Não contei, mas é um agito gastronômico de ponta da ponta e dá para causar se você ainda causa alguma coisa, 

   De certa forma, a Rue de Buci tem um ar provinciano com seus cafés, lojas, sorveterias e mercado. Na atualidade, contrasta com o resto do bairro pelo ambiente popular repleta de turistas de várias partes do mundo. Diria popular no estilo Paris, pois, nada o que se consome nesta cidade (e muito menos neste bairro) tem preços poulares como estamos acostumados no Brasil. 

  Após o jantar seguimos pela Buci à noroeste em direção ao d'Orsey. A madame pediu que ligasse a minha bússula para não nos perdemos no emaranhado de ruas adiante. - Ora, ponha a funcionar o seu map-Samsumg, frisei.

  Chegamos, sem sobressaltos, a estação Soferino e voltamos para casa.