Cultura

LISBOA CAP 29:ADEUS NA TABERNA D'EL REY NO CHARAFIZ DE DENTRO COM FADO

Chegamos ao penúltimo capitulo do livro de TF, "Lisboa, a bota maldita, o surdo e a ladra
Tasso Franco ,  Salvador | 31/08/2022 às 12:25
Taberna D'el Rey, Alfama
Foto: BJÁ

Tudo o que é bom dura pouco ou dura o tempo que tem que durar e a gente acha que o tempo deveria ser esticado, prolongado, alongado, quando o senhor dono dos minutos, horas, dias e noites é quem estabelece essa frequência e você que curta enquanto estiver a apreciar o fado, o casario antigo da Lisboa de Amália e Pessoa, a boa mesa e um uvas tinta barroca do Douro.

  O mais vai ficando nas lembranças como agora estou a relatar a nossa despedida de Lisboa, no Taverna D'el Rey, do Chafariz de Dentro, Alfama, casa de fado e de bom tempero da cozinha portuguesa, diria melhor no fado do que na boa mesa, mas, entendo que houve um equilíbrio uma coisa compensando a outra, a senhora Bião de Jesus belíssima e minha neta Luna Rosa igualmente bela, a arrancarem suspiros, e yo, como sempre, Mr Simpátia, el formoso Marco Antonio.

  La Taverna D'el Rey é no estilo taverna do tempo dos romanos, desce-se uma escadinha para se chegar ao salão principal, bem decorado com motivo de uma caravela seicentista que singrava o mar do Atlântico para chegar a Áfria, a Índia e a Bahia, uma fadista elegante e guapa de nome abaianado Catarina Candeias, sabendo vós que Catarina foi a mãe do Brasil, a tupinambá que se casou com Diogo Álvares, o Caramuru, em terras da França; e Candeias uma santa que é nome de cidade na região metropolitana de Salvador e remete a Yemanjá, e ela parecia sair das águas com seu cabelo liso negro a sugerir molhado e cheiroso, a cantar lindamente.

  Não havia tempo a conversar em distrações. O fado seguia em curso com Paulo Silva a dedilhar a guitarra portuguesa e Júlio Garcia na guitarra base baixo que, chamamos nós, de violão, a Catarina a fazer dueto com Álvaro Alexandre um fadista de longo curso tais cabelos brancos a revelar sua longeva idade.

  Nos atendeu a senhora - suponho eu - dona da Casa, Maria Jôjô, que, pra nossa surpresa esteve depois a cantar em trio com Alexandre e Catarina uma música que, nós, os brasis, amamos, "A Casa Portuguesa", da Amália Rodrigues, e que minha neta sabe de cor e salteado a letra e ainda imita o sotaque português de Lisboa ao recitar a frase em que se fala no São José de azulejos, ela a puxar o agudo no azulejos.

  E também o simpático garçom Bruno, jovem e educado, que nos trouxe queijo de ovelha e um Tellu's do Douro, 2019, que iniciamos os trabalhos enquanto os fadistas nos encantavam com suas músicas, a chorar e a sorrir. 

  Voltemos ao tempo porque a noite fria do inverno lisboeta ia invadindo as horas e, então, solicitamos de principal um bacalhau fadista gratinado no forno com queijo e natas, para la Bião, pastéis de bacalhau, salada e arroz com feijão que sé ela sabia fazer, sendo, assim, delicioso; e para minha neta o bife de vaca à casa com ovos.

  Diria, pelo semblante da señora Bião, considerada excelente no trato e manuseio dos talheres quando a comida é deliciosa, que os pastéis de bacalhau foram aprovados, mas, o tal arroz provado, insistentemente re-apreciado em mínimas porções e reprovado.

  Diria, como já mencionado acima, que o fado foi melhor executado do que os pratos servidos, embora de agradáveis sabores medianos.

  O local, no entanto, é agradável, belo, intimista, acolhedor e sente-se como se de fato estivéssemos numa  taberna ao lado de magistrados do Império.