Às 2 horas da madrugada eu já estava tentando dormir no sofá-cama existente no flat quando levantei a coberta da cabeça e falei para meu filho e nora: - Está na hora de vocês irem para o hotel porque a madame tem aula às 9h e precisa acordar cedo para se maquiar e andar até a escola.
Tasso Filho estranhou: - Está botando a gente pra fora. - Não. Convidando a irem para o hotel, o que é diferente, mas no fundo é a mesma coisa. Ainda ouvi sussurros de despedida e tilintar de taças e eles partiram. No embalo que iam, se não reclamasse, poderiam ver o sol raiar na segunda.
Tasso Filho não demorou muito para retornar ao número 10 da Dombasle, longe de ser a 10 Downing Street residência oficial e escritório do primeiro-ministro britânico, em Londres, para levar a madame Bião a Acoord École de Langues na Rue Jean-Pierre Bloch, pertinho da Torre Eiffel. Ele já tinha feito um pré-roteiro dias antes e eu ainda me protegia embaixo da coberta quando percebi que estavam a sair, a madame nervosa, apreensiva, e ele a acalmando-a.
Da Dombasle pegaram a Rue Vaugirard até o Novo Hotel, algo em torno de 1km, no plano, em linha reta, depois alcançaram a Av Cambrone até a chegar a Suffren, passaram nas imediações da École Militaire, na Jofree, até alcançarem uma casa de massagem asiática, marco da pequena rue onde se situa a Acoord. São 2.5 km a percorrer em 30 a 40 minutos de caminhada.
Nas dependências da ecole a madame percebeu que havia esquecido o comprovante da matrícula, mas, nada demais. Seu nome já estava afixado num mural indicando a sala que deveria se dirigir, a turma e o professor. Seu nervoso era tal que necessitou do auxilio de Tasso Filho para levá-la até a sala.
Ao meio dia foi minha vez de dirigir-me a Acoord para receber a estudante entre abraços e beijos, em família, todos reunidos na porta principal, o bendito casal e Tasso Filho e Vitoria Giovanini. Daí, já que estávamos tão perto do Camp de Mars (Campo de Marte) onde fica a Torre Eiffel fomos apreciar esse monumento de perto, quando a madame a apelidou de "Minha Linda". Nos jogamos na grama e fizemos fotos e videos de todos os ângulos e ainda gravei uma mensagem para meu canal de YouTube, Sêo Franco.
Retornamos de metrô para casa a partir de uma estação ao lado da escola até a Pasteur e daí, em transbordo, até a Estação Convention, distante 70 metros do 10 da Dombasle. Tasso Filho explicava a madame como usar o metrô - se assim quisesse - no retorno para casa.
Precisávamos, então, comer algo e comemorar. A estação Convention fica num ponto estratégico do 15º Arrondisemant (Distrito) cercada de bistrôs por todos os lados, na esquina da Vaugirard e da Alain Cartier, e eu, na abstunta disse: - Gostei daquele ali chamado Quotidien, pois, tem a cara de um francês típico. Não me enganei.
O "Le Quotidien" cativa os clientes com slogan "nosso cotidiano é você" - bem simples e agradável - café e restaurante localizado na Alain Chartier, transversal da Vaugirard via mão única na junção dos Boulevards Victor e Lefebvre em direção à borda de Paris (na Porte de Versailles). A Vaugirard é uma das ruas mais longas de Paris.
O "Le Quotidien" está inserido nesse contexto. Na Rue Alain Chartier - poeta francês do século XIV - existem vários cafés, restaurantes, padarias, rotisserias e até uma feira livre que acontece nas quintas e domingos o que deixa o local super movimentado.
Se você gosta de um lugar agitado e legal com vai e vem intenso de pessoas, um retrato colorido de um bairro parisiense, ir a esse café é o recomendável. Uma turma jovem faz um atendimento primoroso e o português Nuno, que mora em Paris há 5 anos, personaliza o papo, e a atendente Arisan é muito atenciosa. Para nós, yo, la madame Bião de Jesus, meu filho mi nora Giovanini, ela fez fotos e custou a aprender falar o nome de Sêo Franco.
Como é gostoso meu francês, miudinho. No Le Quotidien fala-se francês, inglês, português, italiano, todos se entendem. O importante é o atendimento do pessoal, o sabor da comida, a simpatia, a carta básica de vinhos e coquetéis, os cafés e os sanduíches. A casa começa a funcionar às 7 da manhã e vai até a meia meia noite.
Nós, brasileiros, não temos o hábito - comum em Paris - de tomarmos o café da manhã num restaurante. Mas, é muito interessante. Não foi o nosso caso que chegamos às 14h50min e ficamos até às 16h10min apreciando os sabores da casa e um Côte-deBrouilly, 2021, de origem protegida - entre os 10 melhores beajoulais crus - um terroir de homogeneidade única em beaujolais, composto por granito e xisto da costa de brouilly - encostas do Mont Brouilly - onde 2/3 da vinha é assim constituída por solos muito íngremes cobertos de seixos.
É um vinho que desce 'hard' e vai ficando suave a medida que descansa em sua taça. O "Le Quotidien" tem dois ambientes - o interno com decoração black, piso em mosaico e cadeiras no estilo saloom country e também poltronas; e a parte externa na calçada com toldo de cobertura.
Para um café e/ou um drink este é o melhor local. Para almoçar ou jantar recomendo a parte interna, bem aconchegante. Diria, até intimista. Dá pra papear à vontade. A seleção musical da casa de ótimo gosto com Edith Piaf e outros franceses.
Estávamos com apetites de leões e leoas de devorar gnus e solicitamos um Croquete de Truffe, Araignée de Veau, Supreme de Volaille - poult rôti à la sarriette, crèmes ausx morilles, tian de légumes méditerranées, ail en chemisee e um Burger Q.
A comida é farta e deliciosa. Meu croquete de truffe bem ao ponto, saboroso, com salada, pão e batatas fritas caiu excelente ao meu paladar.
La madame Bião - plenamente calma - disse que o supreme estava divino o molho delicioso e la Giovanni também adorou o araignée com cogumelos. Agapito -apelido de Tasso Filho- se fartou. Enfim, todos gostamos da comida do "Le Quotidien".
Para começo de temporada em Paris, creio, foi uma boa largada.