Cultura

LISBOA, CAP 20: O CORAÇÃO DE LISBOA TEM NOME, O CHIADO DE PESSOA

O local mais emblemático da capital portuguesa
Tasso Franco , Lisboa | 06/07/2022 às 04:02
O Chiado em janeiro de 2022
Foto: BJÁ

O Chiado é o coração de Lisboa. A língua portuguesa admite esse chavão e é provável que alguém já tenha descrito esse sitio histórico da cidade dessa forma, local citado a larga por Eça de Queiroz em "Os Maias" e caminho da Fernando Pessoa quando se deslocava para o trabalho de escriturário nas proximidades, hoje, uma espécie da Rua Direita do Palácio (Chile, de Salvador) nos anos 1960/1970, área comercial nobre e ponto de encontro de pessoas comuns a artistas e intelectuais.

   Um dos programas mais emblemáticos em Lisboa é tomar uma taça de vinho, um café ou um chope na "A Brasileira" do Chiado. O Chiado é um dos bairros mais emblemáticos e tradicionais da cidade e localiza-se entre o Bairro Alto e a Baixa Pombalina. É um ponto obrigatório de visita dos turistas. Todos os caminhos levam ao Chiado e quando você menos espera está circulando na Rua Garret, a principal, no larguinho em frente as duas igrejas, ou nas suas imediações. É uma bússola. Dele se toma rumo para outros bairros da cidade. 

  A partir da Baixa - nas proximidades do rio Tejo - subindo-se a pé a Ladeira do Alecrim chega-se ao Chiado. Subir (ou descer) essa ladeira é um prazer donde tem-se uma visão do Tejo.Outro caminho é via Rua Augusta a partir do Arco do Comércio até o Elevador da Santa Justa subindo uma escadaria; ou a partir do Largo do Mercado da Figueira ou da Praça Marques de Pombal subindo-se a ladeira que chega ao Chiado; ou ainda por um acesso via Armazém do Chiado, o shopping do local.

  No século XIX, o Chiado tornou-se o centro do romantismo português com a criação do Grêmio Literário, um clube de intelectuais. Por lá passaram todos os escritores desse gênero literário e há citações em vários romances.

  Em 1988, na madrugada do dia 25 de agosto, deflagrou um incêndio no edifício Grandella, que viria a tomar grandes proporções alastrando-se a mais dezessete edifícios. O Chiado ficou destruído e a sua reconstrução levou toda a década de 1990, ficando o design a cargo do arquiteto Álvaro Siza Vieira. Retornou renovado, mas, com as mesmas características do passado.

 Hoje o Chiado voltou a ser um importante centro de comércio de Lisboa, sendo uma das zonas mais cosmopolitas e movimentadas de Lisboa. Além de "A Brasileira", na rua Garret, a rua principal, estão a Livraria Bertrand - a mais antiga do mundo - lojas de grife joalherias, docerias, hotéis e o Armazém, que os portugueses não gostam de chamar de shopping, com dezenas de lojas, salão de beleza, academia de ginástica, FENAC, Mango e outras.

   Segundo os historiados, "o Chiado" era um taberneiro quinhentista, proprietário de estabelecimento situado defronte do Convento do Espírito Santo, depois Palácio Barcelinhos e hoje Armazéns do Chiado. O nome pegou de uma história que passa de 500 anos de existência.

   ESTÁTUA DE PESSOA

   Essa área tradicionalmente conhecida por suas ligações intelectuais, encontram-se aí várias estátuas de figuras literárias. Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, está sentado numa mesa no exterior do "Café A Brasileira", imortalizado numa estátua de bronze da autoria de Lagoa Henriques. Além desta estátua do século XX, encontramos também a de António Ribeiro, "o Chiado", no mesmo largo. Do outro lado da pracinha das duas igrejas, ergue-se a estátua de Luís de Camões, no largo com o seu nome.

   Fernando Pessoa tinha uma ligação muito especial com o Chiado. Era um dos seus caminhos para o café e o cigarro, em caminhadas. No Largo de S. Carlos, à frente do teatro com o mesmo nome, encontramos o edifício onde nasceu o poeta.

  Como zona cultural que é, no entorno do Chiado encontramos diversos teatros, como o Teatro S. Luiz (que já teve vários nomes, como Teatro D. Amélia e hoje pertence da Câmara Municipal de Lisboa), o Teatro da Trindade, e o Teatro de São Carlos, único teatro de ópera em Portugal. Aqui se encontrava também o antigo Teatro Gymnasio, palco das primeiras Revistas à Portuguesa, hoje transformado num centro comercial.

  Nesta zona, encontra-se também o Museu Nacional de Arte Contemporânea, mais conhecido como Museu do Chiado, com obras a partir da segunda metade do século XIX em diante. 

  No Largo do Chiado erguem-se duas igrejas barrocas: a italiana, Igreja do Loreto, no lado norte; e a Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, em frente, com as paredes exteriores parcialmente decoradas com azulejos. Quase sempre estão abertas para visitas, gratuitamente.

  Também englobado na zona do Chiado, encontra-se o Largo do Carmo, com os seus jacarandás. Neste largo, resistem as ruínas do Convento do Carmo, construído no século XIV, onde se encontra atualmente instalado o Museu Arqueológico do Carmo. Em frente ao convento, encontra-se o Chafariz do Carmo, datado do século XVIII.

  Paredes meias com o convento, encontra-se o Quartel do Carmo, pertencente à Guarda Nacional Republicana, que teve um papel muito importante aquando do 25 de Abril, por ter sido escolhido por Marcello Caetano para se refugiar da revolução, acabando este largo por ser o palco principal da revolução, como local da rendição do Estado Novo perante os militares do Movimento das Forças Armadas. 

  RUINAS DO CONVENTO DO CARMO

  No outro lado do convento, encontramos o antigo Palácio Valadares, edifício que teve já várias utilizações. Este palácio ergue-se no local onde foi fundada a primeira universidade portuguesa, no tempo de D. Dinis, antes de ser transferida para Coimbra.

  Ainda no Largo do Carmo, encontramos a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, que habitualmente passa despercebida por um habitual prédio de habitação. Nesse mesmo edifício, foi fundado o atual Montepio Geral, no século XIX.

   Todo esse circuito o turista pode fazer andando ou utilizando o Elevador da Santa Justa para chegar ao Carmo.