Cultura

MODELO SHOWZÃO PREDOMINA NO SÃO JOÃO BAIANO QUE SEPULTOU TRADIÇÃO (TF)

Fenômeno que aconteceu no Carnaval Salvador chega aos festejos juninos
Tasso Franco , Paris | 28/06/2022 às 04:36
São João show
Foto: DIV
        Os festejos juninos - São João e São Pedro - na tradição que originaram as festas na Bahia com fogueiras, balões, forrós caseiros, bolos, canjicas, pular a fogueira, licores, promessas e missas - esses estão em extinção e os principais patrocionadores do seus sepultamentos são o governo do Estado e as Prefeituras Municipais, os quais, em tese deveriam ser os responsáveis pela preservação da cultura. 

      O que arguem é que a cultura para patrocinar as mudanças se sustenta na afirmativa de que, como outro qualquer segmento da sociedade, os festejos juninos estão em movimento, se transformando, e o exemplo maior num comparativo assemelhado de festas populares é o Carnaval de Salvador que passa por profundas transformações, a cada década. 

      Em certo sentido essa argumentação tem validade, pois, de fato, a sociedade, de uma forma geral vai se modificando e novos hábitos e costumes são introduzidos para melhorar a qualidade de vida das pessoas ou ao menos sintonizar os desejos da sociedade. 

     Exemplos: Os veículos usados atualmente pela população são bem mais modernos, confortáveis e seguros do que os da década de 1960 quando a indústria automobilistica se implantou no Brasil. Também é verdade que ninguém vai mais brincar o Carnaval como na época dos corsos e das plataformas dos Fantoches e Euterpe.

      Os festejos juninos seguem nessa pisada e evoluiram. A questão é que evoluiram para pior. 

      Bem, pode ser que estejamos enganados e a população aprova o modelo showzão que foi implantado com músicas sertanejas, pagodes, arrochas e até eletrônica. É aquela história se a população está aprovando, se enche as praças para ver os showzões e gosta, os entes públicos estão certos em patrociná-las. E quem somos nós para dizer que a evolução é para pior? Ora, danca-se a valsa de acordo com o compasso.

     O que se viu no último São João na Bahia foram exatamente a difusão e prática desse modelo showzão nas cidades com poucas atividades juninas tradicionais, o casamento na roça, as brincadeiras de quadrilhas, as fogueiras que praticamente sumiram dos eventos, as juras de amor nas portas das residências e o forró pé-de-serra, salvo raras exceções. Agora, até os forrozeiros e suas bandas estão sendo engolidos pelos sertanejos e artistas nacionais de outros gêneros musicais.

     Tudo isso é patrocinado pelos órgãos públicos sob o argumento secundário de que os festejos juninos movimentam a ecnomomia nos municípios, o que é real, em parte, uma vez que os municípios só são baneficiados com repasses do ICMS que é o imposto efetivo dessas festas. As Prefeituras não têm como cobrar ISS dos showzãos  uma vez que são oferecidos ao público, gratuitamente.

     Adcione-se os custos de suportes da segurança da PM que mobiliza um grande contingente em todo o estado. No Carnaval de Salvador esses custos com a segurança somam mais de 50 milhões de reais e é possível que nos São Joões de dezenas de municípios seja algo ainda maior.

    O êxito do MP em bloquear essas festas com gastos municipais foi limitado a poucas localidades e o modelo segue sendo praticado até o São Pedro, o Pedrão de Eunápolis, já autorizado pela Justiça. (TF)