Cultura

SALVADOR 473 ANOS: A MULHER MAIS IMPORTANTE DA BAHIA ESTÁ ESQUECIDA

Catarina Paraguaçu está sepultada na igreja da Graça
Tasso Franco , Salvador | 24/03/2022 às 15:26
Igreja da Graça onde Catarina está sepultada
Foto: BJÁ
  A mulher mais importante da história da Bahia é a tupinambá Quayadin batizada na fé cristã com o nome de Catherine de Granches, em homenagem a mulher de Jacques Cartier, o navegador francês que a levou da Bahia para se casar em Saint Malo, França, com Diogo Álvares, o Caramuru. Seu nome foi aportuguesado para Catarina Paraguaçu e ela está sepultada na igreja de Nossa Senhora da Graça (vide foto), em Salvador, onde faleceu em 1580.

  Tem uma história fantástica e era filha do cacique Taparica (da ilha de Itaparica), o qual negociava madeira com Diogo Álvares, o Caramuru, para exportar à França. Numa das viagens a Bahia, Jaques Cartier, que era católico fervoroso, chamou Diogo às falas e disse que ele não poderia viver no paraíso tropical do Brasil sem se casar, vivendo amaziado com várias mulheres. Pediu que escolhesse uma que mais gostava para se casar e ele escolheu Quayadin.

  Cartier levou-os para a França (daí nasceu o poema épico Caramuru em que Moema, a rejeitada, teria se jogado no mar para tentar acompanhar a nau de Cartier onde o casal Diogo-Quayadin viajava e morreu), em 1525, e os casou na igreja de São Vicente. Quando retornou a Bahia fundaram a capela de Nossa Senhora da Graça graças a uma visão que Catarina teria tido da santa, hoje, a igreja da Graça. 

  O casal teve vários filhos e sua familia dominou a Bahia por mais de 200 anos, a Bahia e parte do Nordeste, donde surgiram as familias Albuquerque, Lins, Araujo, Freitas, Aciolly e outros grandes empresários e políticos no Estado. 

  Passaram a régua na história de Catarina e ela é esquecida, a fonte onde se banhava no bairro da Graça está suja e cheia de coco, a cidade não tem um memorial para ela, uma praça, quase nada. 

  Por que esse abandono com personagem tão importante da história da cidade que completará 473 anos no próximo dia 29? Normal. Os órgãos de cultura da cidade e da Bahia não dão importância a história. O fundador da cidade, Thomé de Souza, está sepultado em Rates, Portugal, e até hoje não tem seu memorial na cidade.

  A primeira miscigenação relevante em Salvador, até antes de ser Salvador e anterior a Capitania Hereditária, deu-se entre Diogo (português) e Catarina (tupinambá) e há documento registrados do casamento em Saint Malo. Portanto, não se trata de uma peça de ficção, de ouvir falar. Os filhos e filhas do casal receberam sesmerais do Reino, tudo documentado. A sesmaria de Dias Adorno casado com uma das filhas de Catarina ia do Rio dos Seixos (Chame-Chame) até o Rio Vermelho.

  Quando Thomé de Souza chegou para fundar a cidade, em 1549, quem o ajudou a escolher o local onde seria erquida a fortaleza foi Diogo, amigo dos tupinambás. Parece que nada disso conta. 

  Há uma documentção na biblioteca do Mosteiro de São Bento da passagem da sesmaria da atual Graça e parte da Barra aos beneditinos. Antes de falecer, os beneditinos herdarem essa grande área da cidade. 

  Será que nada disso vale para que Catarina receba uma homenagem da cidade? Só lembram dela, vagamente, quando sua imagem vestida de tupinambá desfila no 2 de Julho. (TF)