Julival Goés é empresário
Rosa de Lima , Salvador |
09/12/2021 às 14:38
Carne do Mar
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O empresário Julival Fonsêca de Góes prega-nos uma surpresa com seu livro "Carne do Mar - suculentas histórias sobre a Baía de Todos os Santos" (Editora do Autor, capa e ilustrações de Gerson Lemos, edição Regina de Sá, coordenação Anaiçara Góes, 135 páginas, R$50,00 Livraria Escariz, Livro 1 Dora, ficção) imaginando que iríamos desfrutar de receitas de frutos do mar e pescados de Kirimurê - assim sugere à primeira vista o título e a capa - mas, o que se lê, com prazer porque sua pena é utilizada com linguagem direta, na veia, são as aventuras de uma madame insaciável na prática sexual.
Nas contas do autor, de imaginação fértil, por sua cama, cozinha, pier, sofá, piscina, rede, escada, passaram 35 amantes intrépidos.
Mais surpresa, ainda, é que nenhum deles, nem o atlético e nativo Jarônimo, de Bom Jesus dos Passos, jovem de grande predicado e gozos múltiplos "onde nasceu, cresceu e continuou criança, espiritualmente" foi capaz de saciar a volúpia e o desejo ardente e insuperável de Dora, mulher belíssima, rica e sensual, uma artista na arte de fornicar, a ponto de, literalmente, falecer após uma prolongada anemia, perda das forças vitais tal o enfrentamento com a Cleópatra. Atestado pela medicina causa mortis por "inanição com insuficiência respiratória".
O livro intercala novelas no ambiente ilhéu da Baía de Todos os Santos, onde o casal Zeca e Dória possui uma mansão em Bom Jesus dos Passos e as andanças da ricaça pela Grécia, Búzios - onde também tem outra mansão - e iates de milionários no Mediterrâneo. Assim, simplesmente, Dora se utiliza, por vezes do jatinho da família com confortáveis 12 lugares e o sugestivo nome de Deusa do Ar; ou de sua lancha iate Minha Deusa. Quiçá, no exterior, na ilha de Skorpios, com sua amiga e paixão Melina, esposa do bilionário Nicholas.
Em ficção, tudo é possível e voa-se em imaginação, o que representa, também, criatividade para dourar a pílula aos leitores. Falar de uma flor de lis desse naipe é preciso emoldurar os cenários, dos iates às suítes onde os romances acontecem.
Zeca, seu esposo, homem de fortuna incalculável, liberal, ao que se dizia também dava seus volteios em Salvador numa casa de meninas salientes, fechava os olhos às estripulias de Dora, nem aí para o que se poderia dizer dela na society, bem típico dos bilionários, e Dora, fiel ao marido ao agraciá-lo em seus desejos sexuais e nas suas noitadas empresariais, eventos formais e rotineiros, possuía amantes - homens e mulheres - como objetos descartáveis. O seu amor, de fato, de direito, de riqueza e para a sociedade, era o seu adorável Zeca.
O autor, portanto, trafega com sua ágil pena e imaginação por esses cenários, o que representa, no âmago, uma crítica de costumes a sociedade endinheira e não temente a Deus. Assim me pareceu, no sentido mais amplo da literatura, a proposta do autor aos seus leitores, sendo Dora o livro 1, com a promessa de que vem outros a seguir;
E se você está esperando encontrar alguma receita de ostras ou moqueca de beijupirá tire seu cavalo da chuva porque a "Carne do Mar" e é provável que Góes tenha se inspirado em dar esse título ao livro porque Jerônimo, o nativo viril, ao conhecer a intimidade de Dora após idas e vindas a sua mansão em Bom Jesus dos Passos e entregar-lhes cortes de filés - a carne verde - de um açougue local para atender o casal.
Nesse vai e vem, a madona se interessou pelo guapo nativo com sabor de maresia, bem dotado, aceso, apetitoso mais do que o filé que ainda iria ser temperado e o levou a conhecer os prazeres da vida numa suíte perfumada.
Jerônimo, não acostumado a esse ambiente, atordoado, porém, sentido o perfume de sua conquistadora, honrou a condição de nativo varonil, ele que só tinha experimentado esse prazer, de maneira fugaz e rápida com outra nativa (Nancy) e ergueu o mastro de São Sebastião com toda força e ganância, para alegria e prazer de Dora, algo que ela nunca tinha experimentado com outros amantes, o que só fez se afeiçoar mais ainda do entregador de carne e querer mais filés à sua mesa. Isso posto, enquanto Zeca, atarefado com seus negócios em Salvador, estava mais preocupado com a bolsa de valores do que com qualquer coisa.
Dora, de sua parte, entendia esses devaneios como uma coisa natural, salutar, coisas da vida, normais, tanto que, quando Jerônimo bateu as botas, ela se deu ao prazer de ter uma experiência com Nancy e uma outra nativa num triunvirato extraordinário, as jovens correspondendo aos seus encantos e desejos.
O livro tem, como era de se esperar um final feliz, com Dora se deliciando com Mel, numa ilha grega. Não sabemos, é vero, se no próximo trabalho do autor, "João de Loreto - a saga de um pescador"; ou no subsequente "Retalhos da Vida", Góes vai dar sequência aos desejos insaciáveis de Dora ou quais serão as novas personagens dessas suculentas histórias.