Cultura

A CADEIRA, O ALGORITMO E A FILOSOFIA DE SÓCRATES, por TASSO FRANCO

É o 6º capitulo do livro "A Cadeira e o Algoritmo", de TF, no www.Wattpad.com
Tasso Franco , Salvador | 22/11/2021 às 09:33
Com conviver com essas duas tecnologias de forma harmônica
Foto: BJÁ
    Justifico o título deste livro com dois elementos representativos do antigo e do novo para mostrar como eles vivem harmonicamente. É possível que você esteja lendo este livro sentado numa cadeira. 

   Os senadores romanos com origem nos "conselhos de anciãos" da antiguidade ocidental (surgidos após o ano 4 000 aC.) sentavam-se em cadeiras. Este conselho dos pater famílias (pais ou chefes das famílias patrícias) foi mantido na República (509–27 a.C.) 

 O termo latino senātus é derivado de senex, que significa "homem velho". Portanto, o Senado, literalmente, é um "conselho de anciãos". É o que vemos, no Brasil, nos dias atuais, o conselho senatorial de nossa República, com os senadores passando a maior parte do seu tempo sentados em cadeiras ou nos gabinetes ou nas sessões plenárias. 

  A cadeira mudou de estilo - pode até ter ficado mais confortável - porém, segue o mesmo padrão de 4.000 anos atrás com um local de assento, um espaldar para as costas e uma base de sustentação da bunda. Mesmo as ergons.

  É provável que você (como eu) passe a maior parte do seu tempo sentado numa cadeira - trabalhando, fazendo refeições, assistindo televisão, vendo filmes no cinema e até malhando - e uma outra parte dormindo ou descansando numa cama que é outro objeto dos mais antigos desde a época do homem caçador-coletor.

  O algoritmo é a base do software de um computador. Uma série de operações que programadores criam estratégias para fracionar problemas e resolvê-los. 

  Quando você compra uma mercadoria no supermercado ou na padaria e passa seu cartão de crédito para efetivar o pagamento, no momento em que insere o cartão numa máquina e é feita a leitura do número do seu cartão aparecendo na telinha seu nome, o valor da compra e o local para inserir uma senha e aprovar, todo esse processo é feito por algoritmos. 

  Isto é, um algoritmo lê o número do seu cartão, pede sua senha e o aprove-se. Realizada essas primeiras operações ele envia uma mensagem automática para seu banco que, também de forma rápida por outro algoritmo autoriza o pagamento.

  E o que isso tem a ver com a cadeira. Em tese, nada. Mas, observando que a caixa do supermercado (aonde você vai passar o cartão) está sentada numa cadeira e depois você vai pegar seu carro e ir para casa - sentado num banco (cadeira do automóvel) vê-se que as novas tecnologias dialogam com as antigas e não estão dissociadas.

  Ademais, as novas tecnologias (os algoritmos) podem criar um novo tipo de cadeira? Não. 

  Podem desenvolver modelos diferentes, porém, o principio anatômico será o mesmo e isso não foi inventado por nenhum cientista e muito menos por estudos feitos por algum pHD de uma universidade famosa e sim pelo homem comum que respeitou a anatomia corporal - a posição da coluna vertebral e o ajuste das costas - e criou a cadeira. 

   A cama obedece ao mesmo princípio. Inicialmente, o 'sapiens' coletor-caçador dormia em cavernas para evitar ataques dos animais e usava peles desses animais que matava e curtia no sentido de curar (secá-las e amaciá-las) onde se deitava para descansar e dormir obedecendo a estética do corpo humano. 

  Daí também vem o travesseiro e as cobertas, os edredons atuais. Ainda hoje passados mais de 15 mil anos é assim. Ninguém dorme em pé ou em camas verticais. 

  As camas podem ser redondas, quadradas, kings, solteiras, duras, moles, alcochoadas, porém, a horizontalidade é a mesma dos tempos dos nossos ancestrais. Até mesmo as camas hospitalares obedecem a esse mesmo princípio. 

  Você já viu algum doente 'deitado' em pé? Impossível.  

  É importante entender que os algoritmos estão mudando as nossas vidas. Isso é real. Até os meus 30 anos de idade, entre 1945/1975 nunca havia usado um cartão de crédito e mesmo como jornalista profissional, a partir de 1971, todas as compras que eu fazia era com dinheiro ou no carnê em papel. 

  Em 1971 comprei meu primeiro terno nas Lojas Ipê, em Salvador, e dei a entrada em dinheiro e recebi um carnê no papel para pagar - todo mês - num caixa especial que existia na loja. Eu ia lá com o dinheiro da prestação em mãos, pagava a mensalidade, o caixa carimbava o tíquete que ficava no talão com PAGO e recolhia uma outra parte do tíquete com ele onde constava meu nome e o número da prestação. Era assim que funcionava até que os cartões de crédito e débito entraram em cena.

   Esses carnês ainda existem em alguns lugares, porém, desapareceram por completo na maioria das lojas. Uma compra que seja dividida em 3 ou 6 vezes o algoritmo sinaliza para o banco o parcelamento e isso é feito automaticamente na sua conta bancária a cada mês.

    Aonde vamos parar? É a pergunta que faço no subtítulo do livro. 

   É impossível saber diante dos avanços que estão acontecendo na computação a cada ano. O importante é seguir acompanhando e se atualizando nos processos que vão ocorrendo a todo instante, sem, no entanto, se apavorar ou querer se atualizar em demasia. 

   A indústria da computação vive em permanente inovação, mas se seu computador está satisfazendo as suas necessidades vitais (lembre-se da cadeira) você não precisa trocá-lo a cada ano, muito menos seu iphone. No momento em que você sentir que está desatualizado aí sim é hora de fazer a mudança. 

   Observe que muitas coisas que são apresentadas a cada inovação são supérfluas. Isso também acontece na indústria de uma forma geral e na automobilística de forma mais acentuada. Se você observar, cada ano os veículos se modificam um pouco. Uma lanterna que era quadrada passa a ser retangular e modifica a feição do carro, mas, a finalidade é a mesma. E muita gente corre as concessionárias para trocar de carro diante de uma bobagem dessas.

   Pratique a opcionalidade observando o filósofo Lúcio Aneu Sêneca (4 a.C.): “A contabilidade dos benefícios é simples: tudo é dispêndio; se houver um retorno, isto significa um ganho claro; se não houver este retorno, nem tudo está perdido, o indivíduo desembolsou pelo simples fato de desembolsar”. 

   Sêneca se baseava na robustez do estoicismo - descartar as desvantagens das perdas e preservar as vantagens. 

   Então, o impulso pela troca acelerada (a atualização do iPhone 7 para 10) imaginando ganhos ilimitados (a indústria vende o inatingível para os normais) é, na maioria dos casos, desnecessária.

  Segundo Nicholas Taleb, estatístico e analista de riscos, a opcionalidade é fator condicional para a antifragilidade. E esta é ter mais a ganhar do que a perder, que é igual a mais vantagens do que desvantagens, que é igual à assimetria (favorável), que é igual a apreciar a volatilidade. 

  Ou seja, antes de optar por um plus a mais em tecnologia o observe com calma (e se utilize das pesquisas do mercado) o que você tem a ganhar, na realidade prática da vida.

   Taleb é enfático: "A vantagem da opcionalidade está no maior retorno quando se está certo, o que torna desnecessário estar certo com muita frequência". Põe, pois, essa incógnita no caminho para você pensar.

  Cautela, pois, em tudo na vida. É bom se servir dos algoritmos (excelente, sem dúvida), mas lembre da velha cadeira onde Sócrates (470 a.C.) filosofou e você, certamente, está sentado lendo estas linhas. "Conhece-te a si mesmo" é a essência.