Cultura

DICAS DO SERAMOV: DEMOCRATIZAÇÃO DAS COMUNICAÇÕES E FIM DOS IMPRESSOS

Impressos mudam contextos editoriais para sobreviverem no mundo digital
Tasso Franco , da redação em Salvador | 06/06/2021 às 11:26
TF no seu 'home-office'
Foto: LG
 

O tema “A democratização das comunicações e os veículos impressos” - jornais e revistas - tem sido muito comentado no Brasil. Esses dois últimos tem futuro? Esse foi o tema proposto pelo jornalista e advogado Romário Gomes, da cidade de Cachoeira, que é bisneto do velho Gomes que editava “A Cachoeira” um impresso da cidade heróica, centenária, que eventualmente ainda circula. 

Em Salvador, temos o jornal A Tarde que também é centenário e circula regularmente, diariamente. Meu querido Romário, eu não saberia dizer se estes veículos impressos ainda terão futuro porque a internet já fez um estrago enorme nos impressos desde que os sistemas online entraram no ar. 

Muito jornais e revistas fecharam, não só no Brasil, mas no mundo todo. Nos Estados Unidos especialmente. E outros veículos tiveram que se adaptar, tiveram que colocar os seus  portais, os seus sistemas online porque a população mundial, atualmente, está ligada nos iPhones, nos smartphones nos computadores de mesa e não querem mais; as pessoas não querem mais, ficar manuseando jornal, manuseando revista porque é muito mais fácil assistir um programa, quer seja jornalístico ou outro, ver a notícia em sua casa, de onde você estiver. No quarto, no banheiro, na cozinha, no home office... e é uma facilidade enorme e um custo muito mais baixo. Dai que esse é um sistema irreversível e que os impressos estão sofrendo bastante. 

Vou dar o exemplo de um grande jornal que é o New York Times, todo mundo conhece,  que tem um poder internacional enorme e que hoje seu sistema online é mais importante do que o impresso. 

E aqui no Brasil tivemos historicamente a edição do Estado de São Paulo de domingo, que continha classificados com dezenas de páginas, que praticamente pagava o jornal, durante a semana, durante o mês e que hoje estão minguados e migraram para o sistema online. Então essa é uma tendência - não tem retorno - e todos foram obrigados, foram forçados a se modificar e se adaptarem para enfrentar essa parada. 

Na Bahia, quando comecei no jornalismo profissional, em 1968, no Jornal da Bahia, este impresso nunca se diversificou. Não imprimia sequer um gibi, não possuia uma rádio, e não resistiu.  A Tarde foi um jornal com forte poder econômico e político nos anos 1940, 1950 até 1980 foi perdendo força e, depois, quando o Correio da Bahia se modernizou e passou a ser apenas Correio, tabloide sem interferência política, ultrapassou a A Tarde E, posteriormente, já neste século,  próprio Correio engoliu o Correio. Ou seja, o Correio On line, hoje, é muito mais importante do que o Correio impresso  e está entre os 10 mais acessados do país, se não me engano é o sexto.  

        Trata-se de um feito extraordinário considerando que é um veículo da região Nordeste. Então, A Tarde teve que se mexer e fortalecer o seu online linkando com sua emissora de rádio. E a Tribuna da Bahia, desde a sua fundação, em 1969, passa por dificuldades financeira e de editoração - nunca conseguiu deslanchar e ser a lider - e colocou seu portal, que é mais importante do que o impresso. 

       Em 1968 tínhamos quatro jornais em Salvador e as duas revistas. E hoje temos quatro jornais, dois do Grupo A Tarde - o A Tarde e o Massa, o Correio e a Tribuna da Bahia, todos com baixa circulação em relação a década de 1990 até o ano 2000; nenhuma revista, nenhum gibi e o plano Editorial de livros muito fraco.

       Os jornais - já estão perdendo até esse nome - têm que ser multimídias, as empresas têm que ser multimídias. Trabalhar portal, vídeo, livros, trabalhar videoconferências, enfim, oferecer produtos online para sobreviver. 

       Meu caro Romário, não saberia dizer se esses veículos vão ainda sobreviver ou não. Provavelmente não sobreviverão porque a cada dia que passa os sistemas online oferecem mais ferramentas baratas para você ver notícias, ver filmes, ver o jogo de futebol, ver transmissões eleitorais ao vivo, debates interagindo com Facebook, Instagram, WhatsApp, livrs aplicativos e outros. É um sistema muito mais completo e barato do que você ter que ler uma notícia no jornal.

        O jornal tem que se modificar editorialmente. Tenho um site, o BahiaJá, que tem 14 anos e opero como pequeno empresário. Posso - se tivesse mais capital - acoplar uma televisão nele, botar uma rádio, oferecer livros enfim há uma série de ferramentas que me dão essa facilidade. Hoje, temos mais de mil sites e blogs só na área do jornalismo, na Bahia. 

         O que significa uma democratização da informação muito grande e muito importante porque cidades do interior que a gente não sabia as noticias, agora você tem acesso via online. A Bahia é o estado do tamanho da França e que tem divisas com 5, 6 outros estados. É um estado grande, complexo e que os sistemas online dão essa oportunidade.

Então eu queria agora, confirmar e dizer ao meu amigo Romário que o futuro nos meios impressos é sombrio, provavelmente eles vão, com o tempo, desaparecer ou se modificarem. As revistas semanais já estão se modificando e trazem análises mais críticas, matérias exclusivas para sobreviverem.

E como eu faço de todos os meus programas agora eu vou dar cinco dicas da mão de Seramov, as flechas douradas diretas para orientar vocês nessa onda da internet.

1. A primeira delas é acompanhe quem faz jornalismo. Existem sites e blogs de jornalistas, de empresas jornalistas que tem responsabilidade com a notícia. E uma coisa é isso outra coisa são as redes sociais. As redes sociais como dizia Umberto Eco são o campo aberto dos imbecis. Então se você está no sistema online procure uma empresa, um site, um blog que tenha essa capacidade jornalística de apuração da notícia, de colocação da notícia, de não dar fake news e assine um desses veículos.

2. A segunda é que se você tem condições de manter uma assinatura de um jornal, de uma revista, mantenha, não custa muito e são coisas complementares que podem oferecer uma leitura mais especializada, um artigo mais completo, uma matéria exclusiva. É sempre Interessante, se você puder, manter essas assinaturas, mantenha-as.
 
3. A terceira é que você deve diversificar nos sistemas online, não pode ficar somente seguindo um portal. Você tem vários portais que se você domina uma língua, tem portais em francês, em inglês, em alemão, em italiano, em outras línguas os portais asiáticos, da China, da Coréia do Sul, enfim que tem um custo relativamente barato e que você pode fazer uma
assinatura e ficar recebendo essas informações diariamente. Então diversifique, use dois, três, tem muitos que são de graça.

4. Não caia no conto do vigário. Tá toda hora gente oferecendo para fazer site, fazer isso e aquilo, não é uma brincadeira. O sistema online é uma coisa séria, exige muito de quem tem um site, um blog. É uma dedicação exclusiva porque você trabalha, não tem sábado, não tem domingo, não tem feriado, não tem manhã, não tem tarde, não tem noite. Então é uma coisa muito séria.

5. E a quinta e última dica é: você deve acreditar nos veículos online? Claro. Tem que acreditar porque são veículos sérios, são veículos que prestam bons serviços na democratização das comunicações.