Cultura

O NEGÓCIO CACAU E A GUILHOTINA DOS BANCOS Por Walmir Rosário

Radialista, jornalista e advogado
Walmir Rosário , Bahia | 21/12/2020 às 09:38
Comitiva com ministra da Agricultura
Foto: DIV
  De vez em quando a mídia regional concede um espaço para a cacauicultura, nem sempre com a generosidade que merece a principal matriz econômica do Sul da Bahia, que há muito tenta se reerguer do golpe sofrido na segunda metade da década de 1980, causado pela introdução criminosa da vassoura de bruxa. Uma matéria aqui, outra ali, sempre abordando bons exemplos individuais, nunca tratando do sistema por inteiro.

  Antes, quando a Ceplac ainda tinha “bala na agulha”, ganhava manchetes principais com frequência maior ao divulgar resultados positivos de pesquisas, recorde ou queda de produção, melhoria na qualidade da amêndoa. Por várias vezes essas manchetes também ocupavam as primeiras páginas dos veículos de circulação nacional estampando a presença de presidentes, ministros, governadores e parlamentares com promessas.

  Promessas vãs, é bom que se diga. Chegam, visitam a Ceplac, uma fazenda de cacau, consideram injusto o tratamento dado ao cacauicultor, fecham o discurso com duas frases de efeito e voltam a Brasília. O tempo passa e as promessas se revelam simples e corriqueiros contos de fadas, haja vista a falta de representatividade política a região que outrora se orgulhava de produzir os frutos de ouro.

   Não seria verdadeiro colocar toda a culpa dos problemas do cacau nas costas dos políticos, pois parte dela deve ser creditada às lideranças regionais e aos eleitores, acostumados a dar o seu voto a políticos totalmente alheios à economia regional. Há muito que prego um basta nesse atávico estranho comportamento, justificável antes, quando ainda éramos ricos e desprezávamos a política. Hoje, não.
Me causou surpresa – nesta época em que se fala muito no fim das instituições de pesquisas e extensão – o caminho em outra direção tomado pelo empresário Valderico Júnior, presidente do Democratas de Ilhéus. 

  Acompanhado dos deputados federais Leur Lomanto Júnior e Efraim Morais Filho, ele participou quarta-feira (16), em Brasília, de reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

  E o tema do encontro era justamente o negócio cacau e os penduricalhos que dificultam o desenvolvimento dessa tradicional cultura, que ainda hoje se destaca pela liquidez em sua comercialização, o que não acontece com outras culturas. Se temos esse handicap favorável, estamos aprisionados a pesados grilhões como a dívida dos produtores junto aos bancos, grande parte oriunda de recursos do Tesouro ou bancos públicos.

  O esforço que vem sendo empreendido por Valderico Júnior não se prende a dar vantagens gratuitas ao produtor de cacau, e sim a equalização das dívidas contraídas durante planos de recuperação da lavoura cacaueira, praticados com recursos caros e tecnologia incipiente para o combate ao fungo da vassoura de bruxa. 

  O cacauicultor não pode ser condenado à guilhotina certeira dos juros extorsivos ainda cobrados.
Na economia não há milagres e sim propostas, estudos de solução dos problemas, centrados no diálogo e viabilidade. Disposição para tanto a ministra Tereza Cristina tem de sobra, pois é acostumada a esse tipo de debate com o Banco do Brasil e com o Ministério da Economia, na busca de solução para os problemas da agricultura. Numa composição justa, ganham bancos, a União e milhares de cacauicultores retomam a plena produção.

  Propostas viáveis para a recomposição das dívidas dos cacauicultores são bastante conhecidas do governo federal, defendidas pela Câmara Setorial do Cacau, por meio do presidente Milton Andrade Júnior. Receptiva à reivindicação, a ministra prometeu estudar com os técnicos uma saída que agrade as partes, em curto prazo, para tornar possíveis novos investimentos.

  A ação do empresário Valderico Júnior vai além de beneficiar o setor cacaueiro, haja vista que trará reflexos positivos em toda a economia de uma região que compreende parte do Recôncavo, e todo o Sul e extremo sul da Bahia. Se antes – de modo equivocado – o cacau era considerado uma cultura de poderosos, hoje também é o carro-chefe da agricultura familiar, que também poderá investir mais na cacauicultura e outros cultivos.

  Incentivar o retorno pleno da produção de cacau com a moderna tecnologia disponível é hoje a medida mais eficaz para produzir um chocolate de primeira qualidade, comercializados a preços superiores. A nova cacauicultura poderá, ainda, contribuir para que o campo receba de volta parte dos migrantes que atualmente mora – sem qualquer dignidade – a inchada periferia das grandes cidades.

Que o exemplo dado pelo empresário Valderico Júnior se torne uma nova opção no tratamento da política e da economia com a seriedade que merecem, pois produzirão resultados altamente benéficos para toda a sociedade. A política e a economia precisam caminhar lado a lado, ainda mais quando se trata de equacionar problemas que travam a distribuição de riquezas oriundas da agropecuária.