Cultura

LUBI DE SERRINHA CONSULTA CONEGUNDES PARA VITÓRIA SUBIR A SÉRIE A

Lubi anda meio surdo e confundindo as palavras, mas, livre do "Cata Véi"
Lubi de Serrinha , da redação em Salvador | 23/08/2020 às 09:48
A bruxa Conegundes residente no bairro da Santa
Foto: Seramov
  O jornalista Tasso Franco publicou neste domingo a 21ª crônica no seu livro Lobisomem de Serrinha, a nuvem de fogo e o fim do mundo, com dois pedidos para a bruxa Conegundes que mora no bairro da Santa. Veja crônica abaixo e as demais no wattpad.


  LUBI CONSULTA CONEGUNDES PARA O VITÓRIA SUBIR PARA SÉRIE A 

  Estamos vivenciando a pandemia do coronavirus há 5 meses e somente agora foi possível ir à rua com um pouco de tranquilidade, sem temer o carro do "Cata Véi", claro, usando máscara e com álcool em gel na bolsa. 

  Já aparei os pelos, a Ester está sempre indo a Luís Nogueira, ao banco, a físio, ao Charm, e eu vou me contentando em tomar minha gelada em casa porque nosso alcaide, o doutor Lima, ainda não autorizou a abertura dos bares e restaurantes. Fala-se que isso acontecerá a partir da segunda-feira, 24.

  Apoquentam-me o juízo o cientista romano Augustus Abreu querendo informações sobre o paradeiro do rei emérito da Espanha, Juan Carlos, que sumiu ninguém sabe ninguém viu tal ao Queiroz, este já descoberto; e o empresário Jorge CUC querendo saber onde mora a senhora Conegundes, bruxa amiga do bem, residente na curva do camaleão no bairro da Santa, com o pedido de um amigo rubro-negro que deseja fazer um feitiço para que o Vitória retorne a primeira divisão do futebol brasileiro.

  Fiz uma consulta preliminar a minha amiga Conegundes, ela que tem poderes de fazer feitiços do teletransporte, de localização e de transformação - uma gia virar uma princesa; cobra virar cabra - coisas relacionadas ao amor, cura das dores de cotovelo e corno; e outras artes, mas, me disse que são dois pedidos muitos difíceis de serem concretizados, primeiro porque o rei, segundo astuciou na CNN estaria no Algarve português ou na Arábia Saudita, áreas de outras bruxas e o código de ética entre elas não permite uma atuar em locais da outra; e segundo pelo que viu o Vitória jogando contra o Náutico e o CRB, os dianteiros chutando a bola pro gol e caindo no céu, tinha que fazer estudos mais aprofundados em seu manual de magia para ver se conseguiria.

  Lembrou-me que, em tempos idos, o Vasco tinha um massagista que fazia todo tipo de arte ‘macumbática’, o pai Santana, e o time alvi negro vencia umas partidas, perdia outras e conseguia alguns títulos contra o Urubu, o FLA; e o glorioso Bahia já teve vários e bons macumbeiros, entre eles, o pai de santo folclórico Lourinho que amarava bonecos coloridos espetados com agulhas, daí tantos títulos conquistados. 

  Disse-me ainda que Sêo Osório, quando diretor do Bahêa e vereador na capital, falava sempre com ela. Mas que ninguém do Vitória a procurou, nem o Pirinho, nem o Carneiro, nem o Portela, nem o Agenor. Também falou que, no caso do pedido de retorno ao Vitória para a série A, neste poderia ser de algum torcedor do Bahia querendo fazer intrigas, gozações.

  Então, passei os informes aos nobres amigos via zap, primeiro a Augustus transmitindo-lhe esse recado; e depois a Mr CUC.

  Augustus quis destratar a senhora Conegundes dizendo que era de fritar bolinhos e dei-lhe um repelão dizendo-lhe que, se tinha uma bruxa eficiente, responsável, era ela. Iria, todavia, esperar a lua nova e, quem sabe, dar uma pista do rei fujão, caso único na história da monarquia filipina que está por um triz.

  Quanto ao pedido do CUC, sendo rubro-negro, procurei interessar-me a saber quem fora o cliente que lhe pedirá essa missão, visto que a Conegundes suspeitava ser algum tricolor querendo se apropriar do nosso título de vice. Este relutou em apontar o nome, mas acabou por dar uma dica que fora um dos filhos do finado vereador, sem dizer qual.

  Matei a xarada na hora: - Já sei. Deve ter sido o Rui de Jauá, amigo da Marivalda mãe do vereador Soveral da Silva, joguei o verde para colher maduro.
 
   CUC disse que sim ou que não, citou o Short e também o Roque. Pediu-me segredo.
 
  Na dúvida de qual deles fora, comentei: - Estão perdoados. Diga-lhes que não precisamos de feitiço, nem de apito para chegar a série A e breve seremos campeões brasileiros, das séries B e A, e aptos a enfrentar o Bayern de Munique, quiçá melhor do que os alemães.
  
  Discreto, CUC ponderou: - Sêo Lubi, tá difícil essa missão. Creio que nem com as poções mágicas da senhora Conegundes isso será possível.
  
  - Subestimas um leão valente, guerreiro, distinto empresário, frisei.

  De toda forma, solicitei a amiga Conegundes um receituário para encaminhar ao Pivete, técnico do rubro negro. Seu assessor Piko, o anão com cara de marciano, entregou-me na sexta-última de santa Umbelina.
Disse-me Piko entregando a receita: - Com essa escalação ai na base do 11/11 vão colocar a mão na taça, falou de maneira sarcástica.

  - Vá se f seu agourento de uma figa, respondia dando-lhe uns cascudos na careca.
  
  Em seguida, passei os olhos na "Clarineta do Tição", nosso jornal semanal, magrinho-magrinho em anúncios, li a manchete sobre o Guedes e a perda de força do "Posto Ipiranga" e segui para minha oficina onde estava a completar um armário chique para a Sra. Gonçalves, pessoa de fino de gosto, e que precisava de uma peça com gaveta especial forrada em flanela para guardar pedras de rituais.
   
  Ajustava a peça com carinho quando aparece a Ester Loura parecendo uma astronauta - roupa fechada dos pés à cabeça, macacão aluminisado, máscaras de pano dobrado e de plástico, botas, luvas - a explicar que ia na praça comprar uns temperos para preparar uma galinha de molho pardo.
  
  Irritei-me. Não brinque com o coronavirus. Todo dia você vai a rua, a praça Nogueira, ao Beco da Lama, a Federação.
 
   Ester calma estava, calma ficou. Disse que iria comprar um molho de coentro e um cu....cu....cu....
  
   O resto da palavra não saía. Socorri a Ester tirando-lhe a máscara de plástico e senti que a segunda máscara com escudo do Bahêa estava lhe sufocando, mandei ela erguer os braços, dei dois tapas em suas costas e finalmente completou a frase.
 
   - Cu...cu...cu....cominho. Só gosto da pimenta moída na hora.
  
   Suspirei, voltei a fazer o armário das pedras mágicas, e disse: - Vai. vai, ante que v me mate de susto.
 
   Enquanto Ester estava na rua liguei para o Leandrinho, na Espanha, para saber as novidades e disse-me que estava en la playa de Cullera.
  
   Meio surdo que estou entendi que estava passeando com um cão na coleira.
 
   - Como é o nome desse lugar mesmo, falei alto no telefone?
   
  Soletreou: - Cu-lle-ra na Ribeira Baixa de Valencia.
   
  Desliguei o fone e fui forrar a gaveta das pedras de ritual a pensar, a resmungar: com tanto cu... cu-minho, cu-llera, o véi se atrapalha.