21ª crônica do livro de Tasso Franco Lisboa como você nunca viu, a pensão do amor; no wattpad
Tasso Franco , da redação em Salvador |
03/06/2020 às 10:53
Monumento aos Navegadores
Foto: BJÁ
O jornalista Tasso Franco publicou nesta quarta-feira, 3, a 21ª crônica do seu livro Lisboa como você nunca viu, a Pensão do Amor, no aplicativo wattpad narrando sobre o monumento aos navegadores à beira do Tejo. Confira a crônica abaixo e todas as demais no wattpad.
MONUMENTO A NAVEGANTES EM LISBOA ENCANTA POR SUA OUSADIA À BEIRA TEJO
O Monumento aos Navegantes ou Padrão do Descobrimento é também um dos locais mais visitados por turistas em Lisboa, localizado à margem direita do Tejo. Compõe um conjunto integrado de monumentos erguido à frente da Praça do Império onde se encontram o Mosteiro dos Jerónimos e mais à sua direita, também à margem do Tejo, a Torre de Belém, a fortaleza erguida para ser uma das protetoras da entrada de Lisboa.
Para nós, brasileiros, acostumados a louvar Pedro Alvares Cabral, o descobridor do Brasil (22/abril/1500) como o destacado navegador português que esteve a serviço do rei Dom Manuel I na segunda viagem missão às ìndias, em Portugal, louva-se mais Vasco da Gama e o Infante Dom Henrique (1394/1460), Duque de Viseu (Henrique de Sagres) filho de dom João I (fundador da Dinastia dos Avis) e incentivador das descobertas no Norte da África, Ilha da Madeira e Açores que deu a Portugal o controle dessa rota.
No monumento, obra do arquiteto Continelli Telmo pensado para Expo Mundo Português, 1940, destaca-se, na proa da nau estilizada a figura do infante Dom Henrique, o grande incentivador das navegações portuguesas no século XV. O monumento atual foi inaugurado em 1960 no contexto das comemorações dos quinhentos anos da morte do Infante D. Henrique e de suas margens tem-se uma visão da Ponte 25 de Abril que liga Lisboa a Almada.
Há, um total de 32 personalidades nos lados Leste e Oeste do monumento e sentimos a falta de Thomé de Souza, fundador da cidade do Salvador da Bahia, em 1549; e dos primeiros navegadores que mapearam a costa brasileira (1501/1503), Gaspar de Lemos, Américo Vespúcio (primeiro a cartografar a Baía de Todos os Santos) e Gonçalo Coelho.
É provável que as autoridades portuguesas da época de Salazar tenham dado mais atenção e destaque aos navegadores que fizeram história no século XV, casos de Afonso V, rei de Portugal a partir de 1438, cognominado "O Africano", que conquistou Alcácer, Cejur, Anafé e o Tânger. Depois, concedeu a Guiné a Fernão Gomes da Mina para explorar o ouro.
Destaque para Gil Eanes que dobrou o cabo do Borjador, em 1434, 66 anos antes da descoberta do Brasil, depois de 15 tentativas frustradas; a Vasco da Gama e Nicolau Coelho que descobriram o caminho marítimo para a Índia e a Fernão de Magalhães, que foi o primeiro a circum-navegar o globo.
Estão no monumento navegadores ligados a história do Brasil como Pedro Álvares Cabral e Nicolau Coelho, o qual foi o primeiro português a ter contato com os nativos de Porto Seguro, em 1500; Martin Afonso de Souza, primeiro donatário da Capitania de São Vicente (1533/1564) e fundador da primeira vila do Brasil, amigo de infância de Dom João III, o rei que mandou fundar a cidade do Salvador da Bahia; e São Francisco Xavier, missionário jesuita um dos fundadores da Companhia de Jesus e que morreu na Ásia e depois tornou-se padroeiro da cidade do Salvador destronando Santo Antônio.
Estão ainda Afonso Gonçalves Baldaia, Gaspar Corte Real (descobridor da Groelândia), João de Barros (cronista), Estevão da Gama, Bartolomeu Dias (descobridor do Cabo da Boa Esperança), Diogo Cão (conquistador do Congo), Antônio de Abreu, Afonso de Albuquerque, Cristovão da Fama; e no lado Oeste, Pedro Nunes, Jácome de Maiorca (cartógrafo), Pero Escobar, Infante Pedro (Duque de Coimbra), Filipa de Lencastre (rainha de Portugal), Fernão Mendes Pinto, Gonçalo de Carvalho, Henrique de Coimbra, Luís de Camões (militar e poeta autor de 'Os Lusíadas', Nuno Gonçalves (pintor), Gomes Zurara (cronista), Pero de Covilhã, Pedro Nunes (matemático), Pero Alenquer, João Gonçalves Zarco e Fernando, o Infante.
Interessante notar que nas armadas portuguesas (assim como nas espanholas, francesa, holandesas e inglesas) além dos mestres em navegação, marinheiros e homens em armas, levavam astrônomos, matemáticos, cartógrafos e cronistas.
O pioneiro entre os navegadores foram João Gonçalo Zaro, fidalgo da Casa do Infante Dom Henrique, descobriu em conjunto com Tristão Vaz Teixeira a ilha de Porto Santo, em 1419, e em 1420, com Bartolomeu Perestrelo, a ilha da Madeira; e Gil Eanes, escudeiro do Infante Dom Henrique, o qual, conseguiu, em 1434, passar além do Cabo Borjador.
Bartolomeu Dias, em 1487, dobrou o Cabo das Tormentas, e três anos depois morreu na expedição de Cabral.
O culto maior em Portugal é para Vasco da Gama (1469-1524) a quem D. Manuel I confiou o comando da frota que, em 8 de Julho de 1497, largou do Tejo em demanda da Índia, e que se compunha de quatro pequenos navios: S. Gabriel, S. Rafael, Bérrio e S. Miguel (este último não passou da baía de S. Brás, onde foi queimado). O Bérrio era comandado Nicolau Coelho aquele mesmo que fez o primeiro contato com os tupinambás de Porto Seguro.
Em 2 de Março de 1498, aportou a armada a Moçambique e o piloto que o sultão de Moçambique lhe deu para o conduzir à Índia, foi secretamente incumbido de entregar os navios portugueses aos Mouros em Mombaça. Um acaso fez descobrir a cilada e Vasco da Gama pôde continuar até Melinde, cujo rei lhe deu um piloto árabe, conhecedor do Índico.
Em 17 de Abril de 1498, avistava Calecut. Estava descoberto o caminho marítimo para a Índia. Dom Manuel recompensou-o nomeando almirante-mor das Índias e fazendo-lhe doação de trezentos mil réis de renda. Voltou mais duas vezes à Índia, onde foi governador e segundo vice-rei. É muito popular tanto em Portugal, como no Brasil, ainda hoje. Há dezenas de times de futebol no Brasil com o nome de Vasco da Gama, o mais importante o Vasco do Rio, a matriz de todos outros.
Pedro Álvares Cabral nascido em Belmonte a quem Dom Manuel I confiou o comando da segunda armada que mandou à Índia. Partiu Cabral de Lisboa em 9 março de 1500, e, os ventos o levaram a mudar de rota para descobrir por acaso o Brasil, a 22 de abril 1500, no dia de Santa Cruz. Daí seguiu para a Índia.
No seu regresso, Dom Manuel concedeu-lhe honras, mas nunca mais utilizou os seus serviços.
Vale registrar o imediatismo de Dom Manuel que desejava as riquezas da Índia que Cabral não levou para Lisboa. A viagem de Cabral, salvo a descoberta do Brasil, foi um fracasso e quase todos os navios afundaram e mataram suas tripulações.
As informações sobre a Terra da Santa Cruz e sua dimensão ainda eram vagas e só vão ser aprofundadas com as viagens exploratórias de Gaspar de Lemos, Américo Vespúcio e Gonçalo Coelho e as Capitanias Hereditárias e o Governo Geral só surgiram no reinado de Dom João III quando dom Manuel e Cabral já estavam mortos. E o ouro do Brasil só foi descoberto no final do século XVII.
Pedro Álvares Cabral morreu esquecido, em Santarém, uns dizem em 1520, outros em 1526. Foi-lhe erguida uma estátua no Rio de Janeiro, outro em Lisboa, na Avenida que tem o seu nome, e alguma coisa em Porto Seguro.
Estranha-se a presença de Fernão de Magalhães, no monumento, uma vez que este navegador, descontente por não ter obtido de Dom Manuel I uma recompensa a que se julgava com direito, foi oferecer os seus serviços a Carlos V, que lhe confiou uma frota de cinco caravelas.
Em setembro de 1519, seguiu Magalhães rumo ao Ocidente. Durante a viagem teve de subjugar várias revoltas das tripulações. Chegado à costa americana, foi navegando ao longo dela para o sul, depois de visitar o Rio de Janeiro; e assim descobriu a passagem interoceânica a que ficou ligado o seu nome: o Estreito de Magalhães.
O seu piloto Elcano conseguiu regressar à Europa com a única das caravelas que restava, a Vitória, completando assim a primeira viagem de circum-navegação que se efetuou no globo, mas cuja glória pertence a Fernão de Magalhães (1480-1521).
Diogo Cão é um navegador respeitadíssimo em Portugal. Por duas vezes (1482 e 1484), foi mandado aos descobrimentos por D. João II. Dirigiu-se para a Mina e daí para o Zaire. Depois conquistou o Congo.
Regressou ao Tejo em 1486, trazendo o ensinamento conveniente para atingir a África do Sul a navegar pelo largo, como fez Vasco da Gama.
Tem muita história no monumento. Se fosse contar a vida de canta um desses personagens daria uma enciclopédia.
O monumento tem a forma de uma caravela estilizada, com três grandes velas que se prolongam num bloco central, vertical, decorado de ambos os lados com baixos-relevos representando a bandeira de D. João I.
No chão do espaço ao norte do monumento encontra-se representada uma rosa dos ventos de 50 metros de diâmetro, desenhada no atelier do arquiteto Luís Cristino da Silva e oferecida pela África do Sul em 1960. Ao centro encontra-se um planisfério de 14m de largura, decorado com elementos vegetalistas, rosas-dos-ventos, bufões, uma sereia, um peixe fantástico e Netuno com tridente e trombeta montado num ser marinho.
Entre o monumento e a Torre de Belém há um calçadão na beira do Tejo onde se faz um passeio maravilhoso, 15 minutos andando e contemplando essas maravilhas de Lisboa.