Enquanto o mundo avança no conhecimento profundo o Brasil está discutindo machismo e outras bobagens
Rosa de Lima , Salvador |
10/05/2020 às 18:57
Como os robôs estão mudando o mundo
Foto: DIV
Como os robôs estão mudando o mundo, a forma como amamos, nos relacionamos, trabalhamos e vivemos é a frase chamariz do livro "Inteligência Artificial" (Globo Livros, 289 páginas, 2020, R$39,00) do empresário chinês Kai-Fu Lee, dono da Sinovation, e ex executivo da Microsoft e da Apple na China, engenheiro renomado e cientista que analisa como poucos todos os movimentos e fases da inteligência artificial neste avançar da 4ª Era Industrial, aquela em que os robôs e o conhecimento profundo das máquinas vão substituir (já estão substituindo) a mão de obra humana.
Se antes, a partir dos anos 1980/1990, a robótica se estabeleceu nas grandes corporações e indústrias, é só verificar a ocupação de espaços na indústria automobilística, na indústria naval e outras de maior porte, a robótica avança a passos largos na ocupação de espaços de profissões do dia a dia - professores, músicos, cabelereiros, costureiras, garçons e uma infinidade de outras profissões - e vai criar a maior onda de desempregos no mundo atual a partir, pelo menos, de 2030 em diante, com mais intensidade.
Como estamos vivendo o momento de uma pandemia e o Brasil, hoje, está praticamente no centro dessa crise, com milhares de mortos, estamos presenciando e usando, também, as novas tecnologias no atendimento a algumas das nossas necessidades sem sair de casa, no confinamento social.
E esse confinamento seria possível sem o uso dessas tecnologias que nos permite solicitar uma refeição, um pacote de remédios da farmácia, a aplicação de recursos (quem os tem) em fundos de investimentos? Sim, sem dúvida. E isso aconteceu durante a Gripe Espanhola de 1918 que matou 50 milhões de pessoas no mundo, mas, obviamente, naquela oportunidade os humanos sofreram muito mais. Hoje, com esse Covid 19 letal também morre muita gente, porém, sem essa quantidade do início do século XX, e os que estão na quarentena podem utilizar a inteligência artificial da internet para ter uma vida normal.
Kai-Fu Lee adverte que os anos vindouros, sobretudo a partir de 2030, e o livro dele foi escrito antes da pandemia, portanto, não aborda esse patógeno e suas consequências, vão ser de mudanças radicais na maneira de viver dos humanos, milhões de desempregados, reciclagens e mais reciclagens das atividades profissionais, a possível criação de uma RDU - Renda Básica Universal - para esses desassistidos, mudanças nas configurações das empresas comerciais, de serviços, de varejo, atacado e outras, e nas atividades domésticas, nas academias, nos supermercados, nas lojas de conveniência, nos transportes e assim por diante.
O empresário chinês destaca no seu livro que o bolo de recursos que será investido nos gigantes de tecnologia beira a ordem de 5.7 trilhões de dólares até 2030 e será dividido entre os EUA, a China e alguns países do Grupo G-20. Fora desse círculo terão apenas as sobras e os governos e populações serão compradores e usuários desses produtos e serviços, como aliás, já está acontecendo.
O Brasil, por exemplo, que tem 50 a 70 milhões de pessoas no chamado mundo invisível (HI - Homem Invisível) não terá como requalificar esse contingente, até porque, hoje, é minimamente qualificado para quaisquer atividades. Então, requalificar o que não é existe é impossível.
Trata-se de uma questão ampla a começar do zero. Imaginem, pois, o Brasil, digo empresas brasileiras quererem competir na área do transporte quando Uber e outros já estão desenvolvendo sistemas de carros voadores e veículos sem motoristas, estradas automatizadas e assim por diante. O Brasil, o máximo que poderá fazer, assim mesmo com atraso, será implantar esses sistemas em alguns pontos do país, nós, que, até hoje, sequer conseguimos implantar uma linha de trem bala entre SP e Rio quando isso é corriqueiro na Ásia, Europa, EUA e Canadá.
Kai-Fu Lee descreve os quatro momentos da IA e a internet, de percepção, de negócios e autônoma e confessa que esse comando está sendo gerenciado e desenvolvido pelos gigantes de tecnologia - Google, Baidu, Alibabá, Tencent, Microsolft, Amazon e outras - praticamente todas elas entre os EUA e a China e alguma coisa na Alemanha, Japão, Reino Unido e Canadá.
E que não há mais espaços para outras empresas e países salvo se houver um retorno ao corporativismo na contrapartida ao globalismo. Diz que isso poderá acontecer, mas, dentro de algumas limitações. E também o desenvolvimento de Stratups auxiliares e complementares.
Vê-se, na prática, o que está acontecendo com a pandemia do Coronavirus, o Brasil e outros países tendo que recorrer a China para adquirir respiradores artificiais e máscaras de proteção cirúrgicas. Assim está se dando, também, em vários outros segmentos, sem a existência da pandemia, com os carros elétricos da Tesla, os sistemas de robótica usados na nova medicina, equipamentos todos importados, e uma infinidade de outros produtos e sistemas.
O livro representa um alerta e países que não embarcarem em mudanças profundas nos seus sistemas educacionais e comecem a trabalhar com conhecimento profundo ficarão para trás. Aliás, já estão atrás e não conseguirão se igualar aos desenvolvidos.
A sociedade será dominada pela IA (em parte já está sendo) e os contratos sociais vão mudar muito, também virão muitas coisas boas especialmente nas áreas da saúde e do conforto, mas, o pior será o desemprego em massa e a necessidade, até, da criação de uma RBU - Renda Básica Universal - para aqueles que estarão a margem desses processos.
Para o Covid haverá uma vacina mais 1 ou 2 anos e para a IA não. Só o estudo do conhecimento profundo e sua aplicabilidade.