Cultura

14ª CRÔNICA LIVRO TF LISBOA COMO VOCÊ NUNCA VIU É SOBRE SANTUÁRIO S.A.

Visitar o santuário é como andar pela Lisboa do século XIII época do glorioso Santo Antônio
Tasso Franco , da redação em Salvador | 09/05/2020 às 10:14
Santuário do glorioso Santo Antônio em Lisboa
Foto: BJÁ
O jornalista Tasso Franco publicou neste sábado a 14ª crônica de seu livro Lisboa como você nunca viu - a Pensão do Amor sobre o santuário de Santo Antônio e a ambientação da cidade velha no tempo em que o santo viveu em Lisboa, anos 1200 até 1210. Todas as crônicas do livro você lê gratuitamente no aplicativo literário wattpad.
                                             
Veja a crônica de hoje sobre o SANTUÁRIO DE SANTO ANTÔNIO:

Falamos na crônica anterior sobre a cripta, o quarto onde nasceu o glorioso Santo Antônio. Agora, vamos narrar o sitio histórico em Lisboa onde era o Solar dos Bulhões, hoje, o Santuário de António (no português de Portugal com acento agudo no ó) que, para nós, visitantes, se integra dentro de um contexto do próprio bairro da Sé: a igreja - local onde foi o solar -, a praça em frente ao templo e uma escultura belíssima de António, a Sé Primacial que fica um pouco acima e as ruas com seus bares, restaurantes, lojas de santos e souvenirs, ateliês de artistas e lojas de azulejaria.

Tudo parece tão integrado que, se retrocedermos à época em que Santo Antônio nasceu, em 1195, Portugal tornara-se um país independente, em 1139, após a expulsão dos mouros, anda-se na área da cidade velha que os romanos chamavam de "Felicitas Julia" e os muçulmanos de "Achbuna" como se fosse no medievo. A Catedral de São Vicente de Fora, onde Santo Antônio deu seus primeiros passos no catolicismo fica também nessa área.

Para vocês entenderem melhor esse fio da história, os povos lusitanos  existem desde o paleolítico e foram se organizando nas idades da Pedra, do Bronze, do Ferro até os dias atuais. É um processo histórico de milênios que não cabe aqui analisar em detalhes. Só em pinceladas. Os celtas são fundamentais e a Peninsula Ibérica teve dominios do Império Romano, dos godos, dos visigodos e dos árabes. Essse últimos ficaram 700 anos entre os territórios atuais da Espanha e de Portugal.

A batalha de São Mamede, em Guimarães, 1128, foi quem definiu a formação do estado português. Deu-se entre Afonso Henriques lider dos condes portucalenses vs sua mãe Teresa de Leão que se aliara ao galego Fernão Peres de Trava. Vencida a refrega Afonso I é cognominado de o "Conquistador", tornando-se primeiro Rei de Portugal, reinando de 1139 até à sua morte. Anteriormente era Conde de Portucale, de 1112 até à sua independência do Reino de Leão.

 Só 1139, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se Rei de Portugal. A independência portuguesa foi reconhecida, em 1179, pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum e ganhou o título de rex (rei).

 Com o apoio de cruzados do norte da Europa conquistou Lisboa em 1147. Os árabes chamavam-na de "Lissa-bounah" e "Ulixbona". Santo Antonio nasceu em 1195 quando o Reino tinha apenas 16 anos de existência. Seu pai, Martinho de Bulhões era oficial militar do Corpo de Tropa de Afonso Henriques, descendente do primeiro comandante de uma Cruzada, Godofredo de Bulhões (belga) e de Maria Teresa Taveira, da estripe dos reis das Astúrias.

Nasceu, portanto, num berço de ouro - como se diz no popular - num solar (casarão) de um nobre da Corte e batizado na Catedral Sé de Lisboa, próxima a sua casa. Entende-se, pois, preliminarmente, que a familia de Fernando (nome original de Santo Antônio) quisesse que ele integrasse a Corte, quiçá como militar, como seu pai e provável avô (o belga Godofredo), mas, aos 5 anos, adotou "voto de perpétua virgindade" em honra de Nossa Senhora na Escola da Sé Primacial onde estudou as primeiras letras entre 1205 e 1210.

 Aos 15 anos entra na Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho no Mosteiro de São Vicente de Fora onde noviciou e permaneceu por 2 ans. Em 1212, mudou-se para Santa Cruz de Coimbra onde completou sua formação religiosa durante 8 anos. Foi ordenado sacerdote em 1220 e troca a túnica de Santo Agostinho pela franciscana no Mosteiro de Santa Cruz. Embarca para Marrocos com missão de conversão a muçulmanos e cai doente tendo que retornar a Lisboa. Aportou na Sicília, diante tempestade, depois seguiu para Assis. Torna-se frade peregrino e pregador da palavra de deus na França e na Itália. Faleceu em 13 de junho de 1231, em Arcela, subúrbio de Pádua. É canonizado pelo papa Gregório IX, menos de 1 ano após sua morte.

Seus sermões e milagres são descritos em várias passagens e testemunhos da Igreja Católica. Como essa crônicas é sobre o seu santupario, em Lisboa, não cabe aqui falar detalhes de sua trajetória religiosa.

Então, os historiadores apontam que o solar dos nobres Martinho e Teresa foram aqquiridos pelo município lisboense e transformado em igreja entre 1326 e 1753 onde funcionou neste local o Senado Camário e dom João I (1750) recebeu a bandeira da cidade, época de Restauração da Independência da Pátria. Ignora-se o ano preciso em que o solar onde o santo viveu até 1210, quando decidiu morar no Mosteiro de São Vicente de Fora, foi transformado em igreja.

O historiador Freire de Oliveira atribui ao segundo ou terceiro quartel do século XIII. O certo é que já existia, em 1431, quando foram transladados de São Vicente de Fora para a igreja, pelo bispo de Viseu, os restos mortais de sua mãe, Maria Taveira, capela que foi destruida pelo terremoto de 1755.

Dom João II (rei entre 1481 e 1495) destinou a construção da Casa de Santo Antônio e ao novo oratório 1000 justos de ouro e dom Manuel I, século XVI, seu sucessor, foi além em generosidade em doações a essa igreja "digna de tão singular Taumaturgo e da munificiência de tão venturoso monarca". É o que se lê nos livros de tombo.

Todos os reis de Portugal até dom Pedro II (1706) contribuiram generosamente com o esplendor da igreja. Dom João V (1706/1750) converteu-a  num dos templos mais suntuosos de sua época. Com o terremoto de 1º de novembro de 1755 a igreja foi abaixo, salvo a capela mor. A igreja foi reconstruida pelo arquiteto da cidade major Mateus Vicente, em estilo barroco. Portanto, o santuário é do século XVIII.

A capela mor retangular e há quatro altares no templo além do mor, este dedicado a Santo António. Os outros altares são: do lado do Evangelho, o do Santíssimo (ultimamente integrado ao Altar Mor); o de Nossa Senhora da Conceição; do lado da Epístola, o do Santo Cristo e do Espírito Santo; e um dedicado a Nossa Senhora das Dores. Os quadros do santuário são de Pedro Alexandrino (1787).

Integram ainda o santuário a cripta (quarto onde nasceu), a sacristia com altar toda revestida de azulejos formando flores e as lápides sobre a pia batismal e uma exterior em frente à porta principal. A igreja é riquissima em mármores de Negrais, Cintra, Santa Cruz, Estremos, Morlena, Lameiras, Macieira e italiano - azul, preto, rosa, encarnado, amarelo, escuro. 

Diria que a Igreja de Santo Antônio se compararmos com templos católicos da Espanha e da Itália, não conheço a Basílica de Pádua dedicada ao santo, é singela. A igreja de São João com barroco splendor, em Valencia, é muito mais bonita e imponente. A catedral de Saragoza dedicada a Nossa Senhor do Pilar é muito mais imponente. A igreja do Monte Serrat na Catalunha do Mosteiro Beneditino de Santa Maria, que data de 1000, tem triplo de ouro e obras de arte. E a dama das catedrais para Santa Maria de Segóvia é monumental.

A igreja de Santo António e seu santuário tem essa característica do povo português, da simplicidade, de uma religiosidade mais profunda e Santo Anónio é o santo dos santos em Lisboa. Sua festa popular, em junho, mobiliza todos os bairros da cidade com um desfile monumental no centro e presenças do prefeito e do presidente da República. 

E visitar esse santuário é como andar pela Lisboa medieval, sentir o pulsar dos anos 1200, o começo do século XIII. Para quem, como nós, estamos a viver no século XXI, tem um sentimento bem profundo.