Cultura

ELEIÇÃO NA FACOM UFBA e a resistência da oposição, FERNANDO CONCEIÇÃO

Fernando Conceição lança candidatura de oposição a grupo dominante na FACOM
Fernando Conceição , Salvador | 06/11/2017 às 06:55
Professor Fernando Conceição e estudantes
Foto: REP
 
    FRACASSADO na desesperada tentativa de impedir a disputa e o debate, ao manobrar e manipular normas e leis para negar o registro da candidatura deste escrevinhador – Paz Sem Voz Não é Paz, é Medo! -, o grupo de mando que joga solto na Faculdade de Comunicação (Facom) teve confirmado, na tarde de 1º/11, seu controle quase total, absoluto, sobre o colégio eleitoral daquela unidade da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Não que, diante das circunstâncias e condições desiguais da disputa, houvesse a mínima chance de o resultado ser diferente.

Compareceram às urnas apenas 226 estudantes da Facom, num conjunto aproximado de mais de 600: 198 alunos de graduação e 28 pós-graduandos do Póscom. Cinco anularam ou deixaram o voto em branco. A candidata da situação obteve 186 votos, somados possivelmente os 28 dos pós-graduandos. Todos os 35 votos dessa categoria recebido pela candidatura oposicionista possivelmente vieram de estudantes da graduação, com quem tem contato direto.

Diferentemente de Suzana Barbosa, que fez mestrado, doutorado e atua no Póscom, este escrevinhador, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela ECA-USP, com “sanduíche” de um ano na NYU (New York University), sempre atuou no Poscult – programa de pósgraduação que ajudou a criar em 2005, situado hoje no Instituto de Humanidades, Artes e Ciências (IHAC) Milton Santos.

Votaram 30 professores, um nulo/branco, em universo de 41 (quatro, afastados, estão inabilitados). E 15 dos 21 técnicos-administrativos.

As razões e desrazões da irracionalidade dos detentores do poder na tresloucada sanha de impedir o debate e a disputa num ambiente acadêmico nunca foram explicitamente expressas. Todas as manobras possíveis foram utilizadas por eles desde março de 2016 visando neutralizar o direito deste que vos escreve em concorrer. Seu modus operandi de gestão da coisa pública, sem surpresa, por vício, foi o de sempre.

Algo tão frugal, inerente ao Estado Democrático de Direito previsto na Constituição brasileira, como o direito à participação política de quem se opõe ao senso comum, no ambiente paroquial da Faculdade de Comunicação da UFBA soa como heresia. Uma batalha de quatro meses se estabelece.

O fato de constar na cédula de votação o nome de dois candidatos, não apenas um, por si só é conquista incomensurável.

Stuart Mill (1806-1873) ali é completamente desconhecido. Dizer que a prática da democracia se afirma na defesa do direito do homem pensar por si, ainda que um único homem; não somente pensar mas dizer o que pensa, defender publicamente o que pensa, parece anômalo.

A ditadura da maioria rechaça a mínima divergência de opinião, vista por desagregadora ao comportamento de obediência típico de manada. Mas a opinião diversa de um e apenas um homem, ainda que possa estar errada, deve ser preservada. Até para a maioria, que frequentemente erra mais que acerta em suas decisões, poder ter um parâmetro e um motivo na afirmação de suas energias.

Proclamado o resultado, agora o próximo ritual é a composição dos nomes de lista tríplice a ser encaminhada ao reitor da UFBA para que ele escolha quem assume a direção. Quem faz a lista é a Congregação da Facom, regimentalmente o colegiado mais importante em faculdades públicas – controlado pelo status quo.

Na consulta de 2013 a Congregação desrespeitou o resultado das urnas – quando este escrevinhador levou mais de 40% dos votos válidos. Simplesmente excluiu seu nome da lista tríplice, afirmando a desobrigação formal de obedecer a vontade de quem votou. Houve protestos, e mais protestos. Mas manda quem pode…

A eleição deste 2017, feita com atraso de mais de 3 meses, fica na história como um microcosmo do quadro de deterioração ética e moral no qual alguns indivíduos, supostos arautos da moralidade e ética públicas, corporativamente se movimentam.

Este escrevinhador, voz minoritária ali e no conjunto do espírito que move articulações e interesses dos que atuam na Academia brasileira nesses tempos, concorreu isoladamente.

Ainda assim, obtivemos quase 15% dos votos válidos.

Defendendo uma compreensão crítica sobre a conjuntura do país, de impeachment e de Operação Lava Jato, distinta em grau e argumentos da visão majoritária dos quadros universitários.

Cresceu o desinteresse e abstenção de estudantes. Docentes, dos 37 aptos 28 votaram em peso e uníssono na situação. Em 2013 apenas 14 dos 35 docentes votaram, seis deles na oposição. Isso não se repetiu agora. Dois professores morreram de lá para cá, período em que o quadro docente da Facom recebeu expressivo número de novos professores, ainda em estágio probatório. O status quo é também apoiado por maioria de técnicos-administrativos.

DUAS COMISSÕES DE CONSULTA, UM SÓ PROCEDER

Todo tipo de manobra foi utilizado tentando inviabilizar a candidatura oposicionista. Leia mais abaixo. Adiante-se que a segunda comissão eleitoral, refeita com a renúncia da primeira visando anular a inscrição deste escrevinhador, pelo menos em duas ocasiões passou por cima das regras do edital sob sua própria tutela.

O calendário eleitoral estabeleceu as últimas segunda-feira (30) e terça-feira (31) de outubro para a votação, das 9h às 17h. Medida necessária. Na terça, dia 31, os três membros da comissão somente foram aparecer para instalar a mesa de votação às 10h55. Vinte minutos antes um deles, representante dos técnicos-administrativos, informou aos fiscais da oposição que as chaves de sua sala, funcionário, onde as urnas foram guardadas na noite anterior, conforme oficialmente definido, estavam com o aluno representante do Centro Acadêmico na comissão.

Na Facom, professores e alunos geralmente compõem sua grade de disciplinas e seus horários de aulas em dias não sequencias (segunda e quarta; terça e quinta), em turnos divididos das 7h às 8h50, e assim sucessivamente. Quem pega o primeiro horário não necessariamente tem aulas depois – podendo se ausentar da faculdade.

Qual o arranjo, rasgando o edital, que a comissão improvisou, em prejuízo de quem somente poderia votar nas primeiras horas da terça, último dia previsto pelo edital? Autocraticamente estendeu para a quarta-feira, 1º/11, véspera de um feriadão, o calendário de votações, das 9h às 11h. À revelia do candidato oposicionista – que em mensagem final à comissão na terça, 31, sugeriu que o pleito fosse adiante e se encerrasse naquela mesma tarde.


Registro de ocorrência às 10h24 de 31/10: membros da comissão ausentes apesar de terem determinado para às 8h o início da votação

Também para se reinscrever em nova data determinada pela comissão, o este escrevinhador e seus acompanhantes bateram com a cara na porta no horário previsto em que um membro da comissão estaria a postos. Teve de agir, solicitando providências ao presidente do trio. Até que, mais de 40 minutos depois, dois dos putativos comissionários apareceram, emburrados.

Para que a consulta se desse este ano foi preciso resiliência. No período, como não se via desde a redemocratização do país nos anos ’90, a autoridade máxima da universidade, o Reitor, teve de intervir. Foi forçado a nomear, via portaria, para um mandato tampão de diretora protempore, a partir de 16 de setembro até 30 de novembro, a mesma diretora que exercia o cargo nos últimos quatro anos, candidata a reeleição. [leia a portaria] 

Em condições adversas, enfrentamos não uma adversária apenas. Mas um conjunto de forças articuladas, azeitada estrutura de poder mantida pelo menos desde 2005.

Naquele ano assumiu a direção o professor Giovandro Marcus Ferreira. A contragosto do até então poderoso Antônio Albino Rubim. Porém com total suporte dos fidagais adversários de Albino ali entranhados e fortalecidos.

Simpatizante ligado a uma das diversas correntes ou facções do Partido dos Trabalhadores (PT), também entranhada no Diretório Acadêmico da Facom, Giovandro Ferreira é réu desde 2012 em processo por assédio moral na Justiça Federal [leia]. O processo tramita em segunda instância, no Tribunal Regional Federal da 1ª região (TRF) em Brasília.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Com outros seis professores da mesma faculdade, incluindo a diretora reeleita, em 2013 Ferreira foi submetido a inquérito por improbidade administrativa na CGU (Controladoria Geral da União), no TCU (Tribunal de Contas da União) e no MPF (Ministério Público Federal).

Conforme artigo anteriormente aqui publicado, a partir de pedido feito por este escrevinhador para análise do controverso convênio firmado com a tentacular Rede Bahia, da família do falecido Antônio Carlos Magalhães (ACM). Ter respondido por improbidade na administração pública parece irrelevante para os que escamoteiam a verdade e para os guiados por uma ética e uma moral de conveniências.

Guardadas as devidas proporções, a consulta assemelhou-se a uma pequena guerra, com o lado da força mobilizando os seus exércitos para ir para cima. Na guerra, como se sabe, a primeira vítima é a verdade. Não à-toa esta foi a principal controvérsia extraída do debate entre os candidatos.

Trapalhadas e manobras do grupo de mando deram ao processo atual de consulta dimensões que extrapolaram o simples espaço interno da faculdade, composta por 41 docentes e 21 técnicos-administrativos efetivos. Em torno de 600 estudantes, 90% ao menos de graduação, e o restante de pós-graduação, completa o colégio eleitoral.

CIÊNCIA AO CONSELHO UNIVERSITÁRIO
Inicialmente os mandarins definiram a consulta eleitoral para o período de 6 a 27/07/2017. O edital original com as normas foi publicado a 5 de julho [clique e leia]. O prazo final de inscrição, 11 de julho.

Depois de uma série de bate-papos com membros da comunidade de dentro e de fora da Facom, este escrevinhador protocolou sua inscrição. Imediatamente rechaçada pela comissão de consulta, presidida pela professora Itania Gomes.

Ante embasado recurso deste candidato, a comissão então resolveu, a 17 de julho, se autodissolver. Em “Nota”, jogou para cima a consulta eleitoral, suspendendo-a atemporalmente. [clique e leia].

Pelo inusitado, diante do silêncio dos colegas e evasivas dos mandatários da Facom, este que vos escreve reagiu levando o imbróglio ao conhecimento do Reitor João Carlos Salles. [leia documento protocolado]. Resultou no Processo 23066.041511/2017-79, encaminhado à análise da Procuradoria da República junto à UFBA.

O caso foi levado a conhecimento da instância máxima da Universidade, o Conselho Universitário da UFBA.
Em sua reunião mensal, a 15 de agosto, a pedido deste professor, o conselheiro Antônio Bonfim, representante da Assufba,apresentou e leu um documento alertando para a esdrúxula e autoritária situação da Facom. [clique e leia]

Passados mais de três meses, embora insistentemente cobrada, até o presente nada a Procuradoria declarou. Alega “a necessidade de mais tempo para nos enviar a resposta (…) face a alta demanda de processos na Procuradoria”, segundo a chefia de Gabinete da Reitoria.

Este escrevinhador discorda e pessoalmente fez saber à chefe de Gabinete. Alvo de diferentes ações de seus detratores na Facom, a Procuradoria consultada sempre agiu com diligência e rapidez quando demandada a favor das instâncias de poder aí instaladas.

PLUTOCRACIA ASSEGURADA: MAIS DO MESMO

O grupo de mando já decidira pela manutenção da professora Suzana Barbosa como candidata única para novo mandato de 4 anos. Estrategicamente, em vez de concorrer sozinha – a vacância a partir de 15 de setembro era tão-só ao cargo que ela ocupava desde 2013 -, sua inscrição se deu por chapa.


A Facom-UFBA tem um único professor finalista do Troféu Professor Imprensa “Melhor Orientador de TCC” do Nordeste do Brasil. E sua cara é preta

Leonardo Costa, seu candidato a vice com a renúncia intempestiva do ex-vice, a exemplo dela, tem toda vida e carreira como colega de graduação, de mestrado e doutorado na Facom. É um dos pupilos do proativo professor Antonio Albino Rubim, ex-Secretário Estadual de Cultura (2011-2014) do ex-governador petista Jacques Wagner. No Cult (Centro de Estudos Multidisciplinares), concebido pelo mestre, Costa exerce funções de confiança. Evidentemente, ajudou a agregar votos para a diretora.

Faz uma década Rubim, desafiado internamente por antigos aliados, depois de gerir a faculdade por anos a fio, seguindo-se a uma demorada e belicosa fase de atritos, saiu da Facom. Foi empenhar-se na bem-sucedida criação do IHAC – Instituto de Humanidades, Artes e Ciências, que concentra os Bacharelados Interdisciplinares da UFBA desde 2009. Para onde transferiu o que pode, incluindo colegas e a sede do Cult.

Pode não ter sido alguma coisa premeditada, embora na política profissional coincidências são raras. Agora, através de um dos seus discípulos Albino Rubim volta a ter influência na cúpula da Facom, dividindo com os ex-quase inimigos uma parcela do latifúndio em que o local se transformou.

A chamada “hegemonia” pseudo esquerdista, não liberal, se impõe. Com sua tendência a slogans e palavras-de-ordens tatibitabi.
Sem nenhuma máquina institucional ou político-partidária. Sem nenhum controle de cargos ou funções. Por ligado à Pós-Graduação de Cultura e Sociedade (Poscult, desde 2011 no IHAC), sem acesso ao conjunto de estudantes de pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Poscom). Enfrentando cerrada campanha difamatória, este escrevinhador buscou o tempo todo afirmar seu direito de concorrer à vaga de diretor.


Estudantes da UFBA e colaboradores em área de recepção da Facom depois do registro da candidatura que, primeiramente, foi rejeitada pela comissão

Não havia vacância do cargo de vice, prevista apenas para dezembro de 2018 já que os mandatos não eram coincidentes. Contudo, no ínterim da trapalhada, a 18 de julho o então vice-diretor renunciou. Tarde para impedir a inscrição por função e não por chapa.

O processo de inscrições for reaberto em novo edital a 31 de agosto, com inscrições possíveis depois do recesso letivo de setembro. A comissão eleitoral, dessa vez presidida pelo professor Sergio Sobreira, permaneceu totalmente em mãos de membros da situação, claramente antipáticos à concorrência.

Como afirmado no recurso deste escrevinhador, agora foi admitida inscrição no cargo, não por chapa. Suzana Barbosa e Leonardo Costa, entretanto, se apresentaram como chapa, atuando juntos no convencimento principalmente do corpo discente.

OS HERÓIS DA RESISTÊNCIA

Por serem os estudantes a categoria mais vulnerável à doutrinação e à catequese resultante da campanha de difamação contra este escrevinhador engendrada desde 2016 [leia aqui], todo o esforço foi feito para diminuir a expressiva votação deles a favor da oposição em 2013.

Ainda assim, 35 – todos, ressalte-se, provavelmente da graduação – somados a três servidores técnicos-administrativos, são uma espécie rara de “heróis da resistência”. Votaram no único docente da Facom neste momento nomeado para o Troféu do Portal Imprensa para finalista de “Melhor Orientador de TCC-Trabalho de Conclusão de Curso” 2017 em faculdades de Comunicação.

Quando na recente reforma política a cláusula de barreira  exige entre 1,5% e 3% dos votos para os partidos terem representatividade política, esses que votaram neste professor garantiram 14,8% para serem representados por uma voz que, mesmo minoritária e isolada, é uma voz que continuará sem medo.