Cultura

CARURU DE COSMINHO: O quiabo e a liminar, por ZUGGI ALMEIDA

O motivo: o avanço das igrejas evangélicas nas periferias, a perseguição à religiosidade afro e a proibição das crianças de participar da festa.
Zuggi Almeida , Salvador | 28/09/2017 às 16:34
Caruru para os meninos e meninas
Foto: Correio
   "São Cosme mandou fazer
Duas camisinha azul
No dia da festa dele
São cosme quer caruru
vadeia cosme, vadeia
To vadiando na areia"

O mês de setembro aproxima-se do final e um dia emblemático vem me causando inquietação, insatisfação, insonia...porque não dizer, incoformismo.

Não existe razão suficiente para me convencer ao longo dos dias passados e do 27 de setembro, a falta de  um convite para comer um prato de caruru.

Poderia se alegar como um dos motivos a crise. Qual crise? Jamais haverá crise quando se tem a fé, então creia.
E justo inspirado pelá fé que os devotos de São Cosme e São Damião mantiveram o hábito da oferenda do caruru  e asseguraram a tradição rfeligiosa.

Mas caruru não dá nome apenas à receita específica. É também a composição das diferentes formas de agradar os diversos  orixás com suas comidas prediletas.

Cada prato simboliza a preferência de um orixá. O caruru, prato principal  é apreciado não só pelos Ibejis, os Êres, mas também por Xangô e Iansã. Lá está a farofa de Exu, o feijão fradinho, o milho, o dendê de Oxum, a pipoca de Obaluaê e  o milho branco de Oxalá. O caruru está ligado diretamente às religiões de matrizes africanas.

Então comecei a desatar o nó. Nos anos mais recentes tenho percebido certa dificuldade encontrada por quem oferece o caruru , em bairros populares. Torna-se uma gincana conseguir reunir sete crianças para comungar diante de um prato da oferta. O motivo: o avanço das igrejas evangélicas nas periferias, a perseguição à religiosidade afro e a proibição das crianças de participar da festa.

O fundamentalismo religioso decidiu abrir suas asas sobre a sociedade brasileira e tomado pelo radicalismo quer consertar corpos e mentes propondo as curas mais exóticas ou absurdas. Obrigação do ensino religioso nas escolas sem partido, procedimentos de psicologia para tratamento da opção sexual são sinais de propostas de retrocesso que atingem, também, as práticas culturais.

As invasões aos terreiros  a as agressões físicas aos adpetos do candomblé e da umbanda indicam um quadro da absurda intolerância religiosa num estado instituído como laíco, mas que se omite diante dessas barbáries cometidas.
Há um forte poder político amaparado por bases que se denominam cristãs, mas direcionado para instalação de um estado totalitário c de regras medievais.

Evangélicos vendendo 'o acarajé de Jesus" já indicam a apropriação violenta das práticas e dos rituais afro-sacros , na busca por lucro e pela descaracteriação do povo de santo.
A ousadia das igrejas pentecostais,logo ofertará um  'quiabo abençoado" irrigado com as águas do Rio Jordão.

Ou um parlamentar representante dessa  bancada apresentar um projeto proibindo a comercialização do quiabo no mês de setembro, em todo o país. Imagino precisar  ter que apresentar uma liminar pra poder comer um prato de caruru. 

Não, sem antes arriar o meu amalá pra Xangô.
Kaô Kabecilê!