Cultura

Graça Machel encerra temporada do Fronteiras Braskem do Pensamento

Ativista moçambicana realiza conferência no dia 5 de setembro no Teatro Castro Alves
RV , Salvador | 04/09/2017 às 12:41
Graça Machel
Foto: Rogério Report
“Uma mulher é fonte de várias energias. Se reinventa, se posiciona muitas vezes em silêncio. Uma mulher é capaz de fazer as crianças estudarem, comerem, mesmo em situações de muita dificuldade. Elas têm que ser influenciadoras em todos os níveis”, afirma Graça Machel, uma das mais importantes ativistas africanas da atualidade. Ex-ministra da Educação de Moçambique e desde 2010 à frente do fundo internacional que leva seu nome, os projetos de Graça envolvem educação, direitos da infância e auxílio a mulheres empreendedoras no continente africano. Estes serão os temas da conferência que ocorre no dia 5 de setembro, às 20h30, no Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, s/nº), encerrando a temporada 2017 do Fronteiras Braskem do Pensamento em Salvador. Vendas: www.ingressorapido.com.br. Informações no site www.fronteiras.com/salvador ou pelo fone 4020-2050.

Nascida na província de Gaza, ligada desde muito cedo a organizações sociais para a manutenção dos direitos de mulheres e crianças, Graça Machel não chegou a conhecer o próprio pai, que morreu três semanas antes do seu nascimento. Por esse motivo, seu segundo nome, Simbine, significa “despedida”. Filha mais nova de uma família de origem humilde, cresceu e acompanhou o empenho e o esforço de sua mãe para criar sozinha os setes filhos.

Formada em Filologia da Língua Alemã pela Universidade de Lisboa, atuou como professora e lutou clandestinamente com a Frente de Libertação de Moçambique – Frelimo – durante a Luta Armada da Libertação Nacional. No início de sua vida acadêmica, Graça Machel ingressou no estudo superior em Portugal por integrar a Missão Protestante – e por estar entre os melhores alunos, para quem eram reservadas bolsas de estudo. A Frelimo, na qual ingressou em 1969, completou sua educação e chegou a ter a mesma importância da formação universitária, afirma Graça. “A Frelimo fazia muita questão de que os soldados não fossem apenas militares. Tínhamos de estar politicamente conscientes daquilo que estávamos fazendo, por que estávamos lutando, por que queríamos a independência.

 Por isso, a informação era fundamental. Por outro lado, eu dava aulas à noite para as moças do nosso grupo que não sabiam ler. Uma das minhas instrutoras, por exemplo, dava-me aulas durante o dia, mas à noite ela era minha aluna. Quando fizemos dez anos de luta armada, fui para o interior do país contar essa batalha, por meio das histórias de vida das pessoas. Recolhemos muitas informações junto dos jovens, das mulheres e dos camponeses. A Frelimo queria saber o que aqueles anos tinham significado na vida das pessoas. Era o papel do grupo do qual eu fazia parte: instruir, informar e ensinar os companheiros de luta”, conta Machel.

 
Nesse período, Samora Machel era o presidente da Frelimo e Graça um soldado raso, “mas, como eu tinha acabado de chegar da Europa, ele me procurou com o objetivo de entender o cenário de Portugal. Samora me fazia muitas perguntas, tivemos debates muito interessantes. Acho que foi ali que começamos a nos descobrir como pessoas. Foi assim que nos aproximamos”, recorda. Em 1976, os dois casaram-se e Graça se tornou a primeira-dama de Moçambique, atuando como ministra da Educação e Cultura no governo por 14 anos. Durante sua gestão conseguiu escolarizar a quase totalidade das crianças no ensino básico, num país onde 90% da população era analfabeta e menos de 10% falava português.
 
Após a morte do marido, em 1986, num acidente de avião em território sul-africano, Graça Machel seguiu com a atividade política e, em 1990, foi nomeada pela Organização das Nações Unidas para o Estudo do Impacto dos Conflitos Armados na Infância. O “Relatório Machel”, como ficou conhecido o documento, alertou o mundo para a gravidade de crimes como o alistamento de crianças soldados, sua exploração sexual e as sequelas traumáticas da violência de que participaram como autores e vítimas. O trabalho de campo realizado para a elaboração do relatório revelou o drama das pequenas vítimas de conflitos alheios às realidades africanas, na ex-Iugoslávia, Palestina, Timor e Colômbia. Em reconhecimento a este trabalho, Graça recebeu em 1995 a Medalha Nansen da ONU.