Cultura

Alagoinhas:Solo de Nando Zâmbia,GBAGBE se apresenta dia 24 de agosto

A montagem faz parte do Natas em Solos – Seis Olhares Sobre o Mundo
Rafael Brito , Salvador | 10/08/2017 às 18:58
GBAGBE
Foto: Andréa Magnoni
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Já ouviu falar da Baobá? No “Ritual da Árvore do Esquecimento”? Esse ritual foi feito por séculos pelos colonizadores para que homens e mulheres que seriam escravizados, antes de serem retirados de África. Os homens eram forçados a dar nove voltas e as mulheres sete para deixarem suas origens, culturas e religiosidade.

Esse é o ponto de partida para GBAGBE, título do trabalho cênico desenvolvido por Nando Zâmbia, com direção de Fábio Vidal e texto de Daniel árcades, que estará em cartaz no dia 24 de agosto, no Centro de Cultura de Alagoinhas, pelo projeto OROAFROBUMERANGUE, do Núcleo Afro Brasileiro de Teatro de Alagoinhas - NATA.

GBAGBE é uma palavra em yorubá e quer dizer esquecimento. O solo é uma provocação ao sujeito negro, fazendo-o pensar no que é ser negro na contemporaneidade e o “que quiseram que esquecêssemos”, elaborando um pensamento sobre os rituais contemporâneos impetrados em nosso cotidiano que continuam a nos propor o abandono das nossas raízes. O espetáculo estabelece ligações com o ritual da "Árvore do Esquecimento" e traz à cena reflexões sobre o tempo, memória, ancestralidade e contemporaneidade, afirmação e afro-brasilidade.

 

Concepção

Gbagbe nasce após o ator Nando Zâmbia ter contato com uma exposição da artista plástica Tina Mello, que tinha como tema "Árvore do Esquecimento". “O contato com esse ritual levou-me ao seguinte questionamento: de onde vim?. Somado a isso, morei por dois anos em Portugal e lá tive contato com famílias que refaziam suas árvores genealógicas sem muita dificuldade. Fiquei a me perguntar se conseguiria fazer a minha. A resposta foi: Nâo!”, recorda Zâmbia.

A "Árvore do Esquecimento" é localizada como um ritual, um dos primeiros, que tendem o esquecimento do povo africano, para posteriormente se ter a sobreposição de uma cultura pela outra, africana pela europeia. Zâmbia conta que, no Brasil, os sobrenomes dos afro-brasileiros não são de descendência, mas sim de posse.

Sendo assim em uma regressão na sua árvore genealógica “o máximo que consegui chegar foi até meus bisavôs. Com essas duas inquietações, comecei a pesquisar a relação de pertencimento e raízes. Cheguei até ao candomblé e ao ritual do Orukó, onde encontramos uma forma de repatriamento e conexão com tempos remotos”, desta o ator.

Tendo em vista que era muito amplo o caminho até o "repatriamento", Nando Zâmbia, Fábio Vidal, Daniel Arcades e a equipe de Gbage buscam colocar em cena o esquecimento como metáfora para localizar o nosso atual momento, friccionando os atuais rituais de esquecimentos que são impostos. A peça fala principalmente de ancestralidade e de como ela salta de “você rumo a você mesmo”.

O espetáculo se constrói na relação entre "cotidiano" e "ritual/encontro", entre o personagem e a "árvore das memórias". Esses dois planos seguem em paralelo até que se torna inevitável o afunilamento e eles se cruzam provocando uma revolução no personagem que começa a ter contato com sua história, a partir de uma nova relação consigo mesmo.

 “A nossa história continua viva, mesmo que não percebamos. Gbagbe pretende ser uma alerta para que tenhamos cuidado também com a vida contemporânea. Nossos inimigos hoje estão para além do racismo, a globalização europeizada e americanizada também nos leva a não querer mais entender o tempo, a filosofia, os preceitos e valores através de um mergulho na ancestralidade africana”, descreve Daniel Arcades.

 

Baobá

O único que observa a árvore “Baobá” como sendo a do "esquecimento" é o europeu, para o povo africano o Baobá, árvore que chega a durar 1500 anos, é na verdade uma grande "Árvore das memórias". Pensando dessa forma é que o espetáculo pretende escavar essas memorias e tocar mais fundo nas raízes dos nossos antepassados.

 

OROAFROBUMERANGUE

GBAGBE faz parte do projeto Natas em Solos – Seis Olhares Sobre o Mundo, que consiste na investigação, montagem e apresentação de seis solos concebidos e realizados pelos intérpretes/criadores do NATA a partir das pesquisas cênicas individuais destes artistas. As temáticas abordadas por estas investigações surgiram através de experimentos cênicos e inquietações artísticas realizadas em paralelo as construções dos espetáculos do grupo.

As montagens ficam em cartaz de 18 a 27 de agosto, às 20h, com ingressos a R$ 10 e R$ 5,00. O público poderá conferir no Centro de Cultura de Alagoinhas os solos Iyá Ilu de Sanara Rocha (18 - sexta-feira), Mundaréu de Thiago Romero (19 – sábado), Impopstor de Daniel Arcades (20 - domingo), Gbagbe de Nando Zâmbia (24 - quinta), As Balas Que Não Dei Ao Meu Filho de Antônio Marcelo (26 - sexta-feira), e Rosas Negras de Fabíola Julia (27 – domingo).

As apresentações fazem parte do projeto OROAFROBUMERANGUE, que tem o apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura da Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, aprovado no Edital Setorial de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb), com produção da Modupé Produtora.