Cultura

TEMPO DE VINHO: O baiano se rende aos bons vinhos, p MAURICIO FERREIRA

*Maurício Ferreira é bacharel em direito, professor universitário, sommelier profissional filiado a ABS-SP e colaborador do Bahia Já, onde assina a coluna Tempo de Vinho.
Maurício Ferreira , Salvador | 10/07/2017 às 17:18
Evento em Salvador
Foto: MF
  Quem diria, que o baiano, povo apaixonado pela cervejinha gelada, roskas exóticas e uma boa cachacinha envelhecida em barril de umburana, fosse um dia se render ao vinho...

Novos tempos, novos dias, diria o rei Roberto Carlos, mas o fato é que a Cidade de Salvador abriu as portas para a bebida ancestral, e hoje recebe enólogos de todas as partes do mundo para concorridos eventos, com direito a aulas, exposições degustações assistidas e tudo o mais.

No início deste ano, recebemos a visita de nomes como os portugueses Antônio Saramago e Nuno Falcão Rodrigues, trazidos pela Viníssimo Importadora, responsáveis por rótulos como o Ilógico, A.S., Moscatel de Setubal e Casal de Coelheiros, dentre outros.

No início de julho, foi a vez do Bistrot du Vin receber a simpática embaixadora da gigante Concha Toro para a América Latina, a enóloga Loreto Andrea Ritz, que veio diretamente do Chile para o lançamento do pontuado Don Melchior 2013, em ua noite memorável, que contou com um charmoso jantar harmonizado em um ambiente finamente produzido para um público altamente selecionado, conforme comentaremos mais adiante.

O curso de Sommelier Profissional da Faculdade DeVry Rui Barbosa, também não tem ficado fora dessa onda e, sob a coordenação da professora Anaildes Cruz, tem promovido concorridas degustações temáticas, onde estudantes do curso, ex-alunos, jornalistas e aficionados embarcam em “grandes degustações” (é assim que o evento se chama), de vinhos consagrados como Almaviva, Purple Angel, Pio Cesare Barolo e o Brunello de Montalcino Caprilli, vinhos que facilmente são encontrados com valores na casa dos quatro dígitos, sempre acompanhadas de um experiente sommelier, que orienta a degustação e profere uma aula temática sobre a região escolhida.

No próximo dia 13/07 é a vez do Restaurante Amado do renomado chefe Edinho Engel, promover um jantar magno harmonizado por um dos mais importantes produtores da atualidade, o enólogo português Paulo Laureano, uma referência quando se fala em vinhos do Alentejo.

Agrónomo, enólogo formado entre Portugal, Austrália e Espanha, professor da Universidade de Évora durante 10 anos, o winemaker Paulo Laureano, decidiu dedicar-se exclusivamente a “desenhar” vinhos a partir 2003, alcançando rapidamente estrondoso sucesso por apostar exclusivamente nas castas portuguesas, encarando o vinho como factor de cultura e civilização. O que tem demonstrado em rótulos como Paulo Laureano Reserve, Paulo Laureano Premium Tinto e o refinado Paulo Laureano Dolium Reserve, com tiragem de pouco mais de 6000 garrafas, para um mercado que disputa sofregamente cada exemplar. O Dolium Escolha, produzido com a branca Antão Vaz é ainda mais raro e especial, com apenas 3200 garrafas produzidas (estamos falando de um país onde são produzidas mais de 890 milhões de garrafas por ano).

Para o leitor da coluna Tempo de Vinho, trazemos para ele o lançamento da Safra 2013 do icônico Don Melchor da Concha Toro, um dos mais tradicionais representante dos Cabernet Sauvignon de excelência produzidos no Chile (Puente Alto - Vale do Maipo), se bem que hoje o dia, uma pequena parcela da casta Cabernet Franc também integra o blend original ( o Don Melchor é o resultado da mistura de Cabernets de 7 lotes diferentes, todos com características organolépticas distintas e complementares).

Como já falamos no início da nota, o evento foi no Bistrot du Vin e contou com um requintado jantar harmonizado com vinhos da própria Concha Toro, é claro. A estrela da festa, o Don Melchor estava esplêndido, apesar da sua inquestionável juventude, afinal de contas um vinho como ele precisa de pelo menos 10 anos de guarda para estar em sua plenitude, mas para que esperar tanto, caro leitor, afinal de contas as taças nos esperavam.

De cor rubi intenso e halo púrpura, fundo de taça profundo e enegrecido, é ao primeiro momento másculo e austero, como nos anos anteriores, com notas minerais e terrosas, que se alternam com um típico aroma de terra molhada, instigando uma certa herbacidade, que logo cede espaço para notas de frutas vermelhas maduras, mas não em ponto de calda, licor de cassis, alcaçuz, especiarias gentis, café, achocolatado, couro e tostados, que marcam as narinas. Chama atenção um certo e natural desequilíbrio alcóolico em razão de juventude, afinal de contas a safra que estamos degustando é de 2013, um verdadeiro bebê. Além disso, o Dom Melchor sempre se caracterizou por ser um vinho potente e essa safra não fugiu à regra.

Na boca, frutas maduras, licor de cassis, pimenta negra, café e chocolate, sempre combinando com um fundo alcóolico e instigante. Taninos macios e bem resolvidos revelam sua excelente estrutura e uma permanência em boca invejável. 

É um vinho que emociona a cada gole, provando porque reiteradamente aparece na lista dos 100 melhores vinhos do mundo nas mais diversas publicações especializadas, como a britânica Wine & Spirits. Com pontuação sempre acima  dos 90 pt (93 RP, 97 JS e 97 Tin Atkin), se destaca pela regularidade.
As próximas safras prometem trazer mais novidades, como a introdução de outras castas como o Petit Verdot e o Merlot, na elaboração do consagrado blend bordalez utilizado pelo produtor, sem conduto descaracterizar a formula vencedora experimentada pelo Dom Melchor, o excepcional Cabernet Sauvignon de Puente Alto. O enólogo Henrique Tirado, responsável pelo rótulo, recomenda a decantação por no máximo 20 minutos, para que não se retire o frescor e a tipicidade da safra, surpreendentemente fria para aquele ano, e que deu configurações para este vinho.
 
*Maurício Ferreira é bacharel em direito, professor universitário, sommelier profissional filiado a ABS-SP e colaborador do Bahia Já, onde assina a coluna Tempo de Vinho.
 
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