Cultura

SERRINHA: Zilda Paes Franco, em seu centenário, café com leite na sala

Ex-esposa do jornalista Bráulio de Lima Franco completaria, hoje, 100 anos do seu nascimento
Tasso Franco , da redação em Salvador | 11/05/2017 às 10:19
Em 1939, aos 22 anos, no dia do casamento com Bráulio, na sala do casarão
Foto: Arquivo TF
   Viva em corpo estivesse entre nós completaria nesta data seu centenário: Zilda Paes Franco minha saudosa mãe, esposa de Bráulio de Lima Franco, ambos serrinhenses.

   Minha mãe era filha de João Paes Cardoso e Leonor (filhinha) e viveu toda sua vida em Serrinha, seu cosmo, sua aldeia. E 60 anos de sua existência foram passados no chalé da Praça Miguel Carneiro, o antigo Largo da Usina.

   Era dona de Casa e cuidou dos 4 filhos sem nunca ausentar-se de Serrinha, salvo em pequenas ocasiões para ir a Salvador, em consultas médicas. 

   Amava Serrinha demais. Seu chão. Sua terra. E ai daquele que falasse mal da Serra em sua vista. Levava um repelão. 

   - Aqui é ruim! Então vá morar em Salvador pra você ver o que é bom pra tosse, dizia.
 
   Zildinha, como carinhosamente a chamávamos, não era sopa. O que tinha minha tia Celina, sua irmã, de calma, apaziguadora; e sua outra irmã, Dalva, de cerrada, fechada; ela era solta, livre, falava na tampa, daquelas mulheres que não levavam desaforo para casa.

   Adorva a politica local e quando não gostava de um deles falava alto: - Aquele é um discarado, um salafrario.

   Meu pai amenizava: - Não diga isso...

   - Eu digo sim... é um vagabundo ladrão - completava. 

   Tinha seu candidatos prediletos e os 'santinhos' para dar aos seus prováveis eleitores cativos.

   Nem sei onde encontrava tanta coragem. Era frágil de físico. Mas, ainda assim, já velha, descia para fazer a feira com a bolsa embaixo do sovaco e ia com Neide, sua secretaria, a busca de verduras.

   As netas hoje lembram, cada uma delas, do pavê que fazia como ninguém; da umbuzada; do doce-de-leite; e de outras iguarias nordestinas que aprendera com o rolar dos anos.

   Não era uma gourmet. Nem sabia cozinhar direito porque meu pai, vendo-a com tantos filhos num imenso casarão, a proibiu de transitar pela cozinha. No chalé sempre houve uma cozinheira contratada pela familia.

    Mas, nas horas vagas, foi aprendendo a fazer docinhos, a umbuzada, o pão com nata do leite, coisas de agrado dos filhos e dos netos.

   Meu pai partiu primeiro para um segundo planto espiriual e ela foi depois. Sentiu demais. Foi as lágrimas eternas.

   Certa ocasião, o século XX virando a página (meu pai havia falecido em 1995) e ela morando sozinha no casarão, ela e Neide, sua fiel escudeira, alguém da familia sugeriu que, por medida de segurança ela fosse morar num lugar menor ou em Salvador.

   Santo Alberto de Bérgamo neste seu glorioso dia: a casa caiu. - Não vou sair daqui pra lugar nenhum. Só pro cemitério do padre.

   Pronto. Hoje, também noutra esfera espiritual, o chalé ainda existe, as louças, as cadeiras, a mobilia, os quadros na parede e essa imensa saudade.

   Deve estar com Bráulio reclamando de alguma coisa e abençoando filhos, todos ainda vivos, netos, netas e bisnetos, bisnetas e tetraneta.

   Como para nós são pessoas imortais brindemos seu centenário, pois, viva está no casarão, na sala de jantar com seu querido Bráulio bebendo seu café com leite e saboreando o pão da Padaria de Sêo Limeirinha. (TF)