Cultura

ALEXANDRE AUGUSTO estreia na fotografia com Expo MULHERES DE PEDRA

Mulheres de Pedra reúne 21 fotos em cor de cidadã sunidas por um sentimento: dignidade
Da Redação , Salvador | 08/05/2017 às 19:33
Alexandre Augusto, jornalista e fotógrafo
Foto: DIV

Trabalhadoras do campo existem milhares no Brasil. Na Chapada Diamantina, mais precisamente em Itatim e Itaetê, municípios que visitou nos dois últimos anos, o jornalista e escritor Alexandre Augusto conheceu mulheres que quebram blocos de pedras gigantes e ganham o sustento da casa em troca de R$ 55 a cada mil paralelepípedos talhados. A intimidade e convivência gerou uma exposição, que será aberta no Teatro Gregório de Mattos (Praça Castro Alves – Centro), no dia 24 de maio, às 19 horas, para convidados, e 25 para o público.

Mulheres de Pedra reúne 21 fotos em cor de cidadã sunidas por um sentimento: dignidade. Octogenárias como Dona Umbelina, que posou para a câmera, herdou o ofício dos pais, e o seu semblante é pura altivez. Os homens, que exercem o trabalho braçal de carregar as rochas nas pedreiras da região, também estão lá. Alexandre conta que numa pesquisa sobre o tema na internet, deparou-se com o quadro Stone Worker, de Diego Rivera. Uma pintura feita em 1943 de um operário esculpindo um bloco de pedra. Do mesmo jeito e com as mesmas ferramentas que ainda hoje, mais de 70 anos. A inspiração lhe rendeu uma imagem que o público verá ao vivo.

Sobre o estalo para a exposição, ele diz: “Meu primeiro sentimento foi achar aquilo tudo uma exploração. Foi quando uma das senhoras mais velhas da pedreira me disse: ‘Moço, meu pai foi cortador de pedras e eu faço isso desde menina. Agradeço a Deus todos os dias pela pedra. Foi com a pedra que criei meus filhos. É com a pedra que hoje eles criam meus netos’”. 

E prossegue: “As mulheres da Chapada trabalham de sol a sol para botar comida na mesa. Mesa que de noite elas vão arrumar para os maridos e filhos. É isso que quero mostrar com as minhas fotos. Foi isso que os meus olhos viram. A dignidade dessas mães, esposas e filhas. Mulheres de Pedra tanto no sentido mais literal quanto no mais poético. Força, beleza, aridez, delicadeza... tudo junto”.

CONTADOR DE HISTÓRIAS 

 Em seu primeiro projeto como fotógrafo profissional, Alexandre se lançou com a bagagem de quem escreveu a biografia do sambista carioca Moreira da Silva (O Último dos Malandros, Editora Record, 1996) e produziuuma série de reportagens durante os cinco anos que viveu em Angola. O interesse pelas lentes se aprofundou quando morou em Londres, onde comprou equipamentos e frequentou várioscursos. Admirador de Pierre Verger e Sebastião Salgado, prefere não rotular seu estilo, e diz que o mais importante é saber contar histórias. 

Em Mulheres de Pedra, os visitantes serão convocados a fazer uma trilha visual por cidades perdidas no meio do nada. Chuva não cai, e as cores no cinza quem dá são as mulheres com camisas enroladas no rosto e no pescoço, esmaltes nos pés descobertos e combinações de roupas que soariam fashion em qualquer editorial de moda mais despojado. As crianças e os homens compõem a cena porque fazem parte da família. Assim como a casa, com seus quartos, mosquiteiros e altares revestidos de imagens de santos e Yemanjá. 

A exposição Mulheres de Pedra é dedicada à avó de Alexandre. “A mulher mais forte que conheci. Sertaneja que morou numa colônia rural do Incra, na cidade de Santa Brígida, nos anos 60. Teve de ficar quase uma década morando longe dos filhos. Lembrei dela muitas vezes durante esse projeto. As mulheres têm importância extrema na minha vida. Além da minha avó, tenho o exemplo da minha mãe. Viúva que criou os cinco filhos sozinha. Ela foi mãe, pai, chefe de família. É mais uma mulher de pedra na minha vida”.

O texto de apresentação da mostra ficou a cargo da jornalista, escritora e atual curadora da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), Joselia Aguiar.

SERVIÇO

O QUÊ: Exposição Mulheres de Pedra, de Alexandre Augusto
QUANDO: Abertura dia 24/5, às 19h, para convidados. Visitação de terça a domingo, das 14 às 19 horas. Até 30/7.