Cultura

OLODUM, um passo a mais na luta dos afros, por EDUARDO SANTOS SANTIAGO

* Eduardo Santos Santiago é membro do Conselho Consultivo da Associação Carnavalesca Bloco Afro Olodum e professor de história da rede estadual de ensino, lotado na cidade de Serrinha – BA.
Eduardo Santos Santiago , da redação em Salvador | 03/04/2017 às 09:05
Olodum, 2017, o Sol Akenaton
Foto: DIV
  Há 30 anos, a revolução Egito dos Faraós, “Olodum trouxe o Egito à Bahia”, através dos ensinamentos de Cheikh Anta Diop, falecido um ano antes. A proposta de uma reflexão sobre a concepção de negritude aqui hegemonizada até aos dias atuais, sedimentada em Leopold Sédar Senghor foi um contraponto, à romper com o essencialismo, que foi estratégico naquela luta lá atrás. Mas, Olodum sentia a necessidade de novas ferramentas para melhor fazer uma leitura da movimentação dos inimigos, e uma releitura da nossa movimentação. Olodum adotou alternativas teóricas e práticas no combate a forma como a chamada economia criativa começava a tragar, a nossa força de trabalho, invertendo o valor da nossa produção.

A reflexão apresentada pelo Presidente do Olodum à Folha de São Paulo, revela a situação em que se encontra o carnaval e demais festas populares da Bahia; http://racismoambiental.net.br/2013/02/12/para-presidente-do-olodum-bahia-virou-a-terra-de-ivete-sangalo/.  Cai por terra, a falsa imagem de uma terra integrada, que é vendida da Bahia, e das festas que marcam o verão.

Sobrou para as cordas, um ser inanimado, ser a vilã do carnaval, enquanto as forças hegemônicas que vêm extorquindo a festa e fez da corda elemento de exclusão e segregação, estão vivas e precisam ser combatidas.

Sob o tema: O SOL – AKHENATON: OS CAMINHOS DA LUZ, nos 30 anos da música Faraó,  o Olodum fez um grande carnaval. Na atual campanha tombou o irmão, o amigo e não por menos Conselheiro Ubiraci Oliveira (Bira). Um mobilizador sensível e sempre atento à disseminação da informação e, ágil na busca para empoderar a todos inseridos na vida Olodum, nas ruas e até mesmo nas redes sociais. Uns contratempos e mais alguns desentendimentos que são normais na lógica da euforia provocada por várias combinações sociais que fazem a fermentação do carnaval.

As entidades que reivindicam ser afro carnavalescas, não perceberam o quanto seria estratégico entoar FARAÓ, DIVINDADE DO EGITO, música de Luciano Gomes que 30 anos depois de lançada continua fazendo enorme sucesso e, ainda, é uma das mais cantadas pela maioria dos artistas que fazem carnaval. Ter se apropriado de “Faraó” seria lutar em um momento favorável, por uma retomada de espaço para as músicas dos blocos afros e para uma reflexão sobre os caminhos que estão sendo apontados para o carnaval, mas que muitos, por miopia, não conseguem, sequer compreender como essas medidas podem lhes impactar. 
Vejo o carnaval do Olodum não como um mero espaço para o entretenimento, mas, principalmente, como um locus para a diversidade e para a ação afirmativa, em que negros e brancos ricos e pobres, nativos e gringos, percussionistas, cantores e os “pipocas” se ombreiam, desfilam, curtem e demonstram que apesar das crises, o afro do Pelô continua sendo criativo e capaz de fazer um grande carnaval, musicalmente forte, com beleza plástica, visibilidade midiática e com letras que continuam ensinando de forma lúdica, a história que as salas de aula persistem em nos negar.