Déca dos anos 1980, quando editar um livro na Bahia era uma epopéia
Tasso Franco , da redação em Salvador |
11/03/2017 às 11:56
Washington Luiz Santos Santana
Foto: Arquivo Pessoal
A foto de Washington Santana quem mandou pra mim foi o jornalista Nestor Mendes Jr, autor dos melhores livros sobre o Esporte Clube Bahia e amigo do gráfico, pequeno empresário, editor de livros e, naturalmente, torcedor do Bahêa, que partiu na última quinta-feira, aos 68 anos de idade.
Figuraço. Editei com ele um dos meus livros, "O Circulo do Poder na Bahhia', volume I, década de 1980, quando sua gráfica funcionava no bairro dos Pernambués e eu tinha uma tenda de comunicação chamada Franco Produções, no Victória Center, Chame-Chame. O livro narra o enredo do poder na Bahia a partir de 1962 e fecha com a campanha vitoriosa de Waldir Pires (PMDB), em 1986, contra Josapaht Marinho (PFL).
Washington era a nossa tábua de salvação, a válvula de escape para editar livros porque a gente pagava a encomenda de acordo com o capital que se tinha e que ia-se conseguindo. Em contrapartida, ninguém dava pressa a ele, nem ele a si mesmo, e o livro saia de acordo com os humores, a disponibilidade financeira da casa impressora e outros.
Creio que meu livro ficou morgando por lá mais de 6 meses e na medida em que ia 'pigando na moringa', dando-lhe algum 'capilé', a gráfica ia produzindo. Quando fechei o pagamento e pensei que Washington adiantaria o lado dele, ledo egano, o ritmo continuou o mesmo.
Dei umas vinte a trinta idas a gráfica e de nada adiantava. - E aí velho, cadê o livro - perguntava.
- Ho, ho, estamos fazendo meu querido, respondia.
O certo é que o livro saiu e quando lancei algumas páginas soltavam.
E agora?
Fui a gráfica na semana seguinte e disse: - Vou trazer os livros pois algumas páginas estão soltando.
- Hic! A cola é boa. Agora, pra não soltar as páginas o dorso do livro tinha que ser costurado e aí seria outro preço.
Resultado: o livro ficou assim mesmo e ainda hoje tenho alguns exemplares em casa.
É a vida. Ninguém brigava com Washington. Tinha seu estilo, seu modo de ser, sua compaixão e paixões. E no mundo gráfico, donde também venho, quem esquenta perde tempo.