Cultura

VIDA DE GORDO: COLUNA faz 6 anos em defesa dos gordos, OTTO FREITAS

Vida de Gordo não é fácil, diz o colunista
Otto Freitas ,  Salvador | 05/03/2017 às 12:02
Otto Freitas em momento de aperitivos
Foto: BJÁ

Em 10 anos de existência do Bahia Já, Vida de Gordo completa agora em maio seis anos de postagens ininterruptas. Em 2017, a coluna entra no seu sétimo ano de combate à discriminação e o preconceito contra homens, mulheres e crianças que sofrem de obesidade, doença crônica cientificamente comprovada. Em 140 crônicas quinzenais, vem denunciando as mazelas de uma pessoa obesa, do gordinho ligeiramente acima do peso até o grande obeso. 

Com muita invenção e criatividade, a coluna abusa da licença poética e do bom humor. Este cronista que vos fala - ele próprio um grande obeso, é bom que se diga - se inspira na vivência pessoal, de amigos e de conhecidos, além das muitas histórias que ouviu na vida e dos casos que testemunhou ao longo do tempo, inclusive na labuta diária da sua profissão de jornalista. As crônicas são, enfim, um exercício de jornalismo literário. 

Logo no primeiro texto, postado no começo de maio de 2011, o autor apresenta Jeffinho. Junto aos outros personagens, masculinos e femininos, ele representa todos os gordos desse mundo, de todas as idades e gêneros. “Jeffinho atingiu os limites perigosos da obesidade mórbida e precisa de ajuda - venha de onde vier, até de centro espírita”, diz o texto inaugural. 

As crônicas contam sua história, desde o tempo da infância e adolescência, quando ainda era magro. Relata seu calvário, na maior parte da vida, “entre tentativas e desistências em dietas mal sucedidas, enquanto a balança avança mais veloz do que os dias”. Falam sobre o cotidiano do gordo, demonstrando como é difícil e cheio de sofrimento e sacrifícios, até mesmo em ações simples do dia a dia, como tomar banho e se vestir. 

Mais do que lutar contra a balança, Jeffinho e seus amigos enfrentam a discriminação e “o preconceito do mundo que só valoriza os vencedores e trata o obeso com desprezo, motivo de piada, como se fosse um glutão preguiçoso, passivo, com todas as culpas e sem força de vontade”. 

“Mas, afinal, o que se pode esperar de uma sociedade que ignora os velhos e os portadores de deficiência física, é intolerante e violenta com as minorias”, afirma o autor, ainda na primeira crônica, anunciando a que a coluna se propunha e vem realizando ao longo dos anos - fato que uma simples visita aos arquivos do Bahia Já pode comprovar.  

Sem proselitismo e sem qualquer intenção de se tornar um paladino da causa, o autor reafirma sempre que é preciso superar os desafios e nunca desistir da luta. Com uma visão escrachada e relaxada das situações, insiste que o gordo não pode e não deve deixar de viver e se divertir; beber bebida boa e comer sem exageros comida verdadeira, feita em casa, que não faz mal e não engorda - ao contrário de alimentos processados e industrializados, atolados por aromatizantes e conservantes. Por fim, nunca abrir mão da autoestima, do prazer, do riso e da gargalhada. 

A intenção da coluna, portanto, é clara e reafirmada a cada linha postada: combater, denunciar, sem “jamais perder o bom humor e as chances de rir primeiro de si mesmo, como fazem as pessoas inteligentes. Afinal, quem ri primeiro ri melhor”, como está dito ao final da primeira crônica.