Cultura

CRÔNICA: Mexicano Ramón volta a Merida e quer mamar no Carnaval 2018

É cada coisa que se vê que se duvida
Sêo Franco , da redação em Salvador | 01/03/2017 às 12:34
Gringo diz que se tá todo mundo mamando ele também quer mamar
Foto: Lua Gonçalves
    Nessa ressaca momesca fui comprar uns acarajés no crente Natanel, aqui em Vilas do Atlântico, Lauro, e deparo-me com o mexicano Ramón, abatido, triste, por não ter ido passar o Carnaval em Salvador, como gostaria.

    Carnaval chegou ao fim e infelizmente não consegui um convite para o camarote de dona Flora, como ele havia me pedido, e o jeito foi Ramón contentar-se com o Momo de Lauro da prefeita Gramacho. 

   - Que se passa, estás acabrunhado? - perguntei.

   - Sí! Estoy abalado, porque além de não ter ido ao Momo da capital baiana, o verão está chegando ao fim e tengo que retornar a Merida, confessou.

   - Não irias ficar até a Semana Santa? - questionei.

   - Essa era minha intenção, pero, mi nieta Romanita não pode vir, a esposa está com saudade de Ramón, e tengo que retornar antes da hora, frisou destacando que alguns dos seus shows no Galpão foram cancelados por falta de público.

   - O Carnaval sempre atrapalha, comentei.

   - É, mas o dono do galpão disse-me que foi a crise, que a população está sem dinheiro, tem muita festa na Bahia, daí que houve cancelamentos e como já estou quase sem dinheiro tenho que partir.
-
    É uma pena. Gostaria que o amigo ficasse um pouco mais. Gosto de sua presença e até se pudesse ajudar lhe ajudaria, disse.

   - Ano passado o senhor ainda conseguiu um trabalho para mim de auxiliar de pintura em vossa residência, mas, este ano não rolou nada.

   - Ora, meu caro, casa pinta-se de 3 em 3 anos, com a crise, põe 5 em 5 anos nisso, relatei.

   - E não tem nenhum trabalho para mim por lá? Qualquer coisa serve para eu complementar a renda?

   - Bem, só se o amigo quiser dar banho no meu cachorro tifão, pode ser?

   - Sêo Franco, o senhor quer me criar problema. Vai que o cachorrro me abocanha e olha o pior.

   - O cachorro é amestrado e se tiver qualquer coisa consigo, lhe levo pro Menandro numa boa, garanti.

   - Que tal de Menando é esse?

   - É o nosso hospital público de emergência aqui de Lauro.

   - Ah! Já ouvi falar nele. Teve um garçom lá no Galpão que foi ferido com uma garrafa e ficou foi 4 horas na fila de espera para ser atendido nesse tal Menandro.

   - É um caso isolado. O Menando é o melhor hospital emergência de Lauro e atende os baleados de Vida Nova e da Itinga, quase todos os dias, na 'guerra' do tráfico de drogas, narrei.

   - Fico até com medo de passar por lá. Agora, se o senhor me pagar 50 dólares, um prato de pescada amarela e duas piriguetes lavo seu cão.

   - Que é isso cavaleiro Ramón, 50 dólares são 150 pilas, um prato de pescada de dona Florzinha R$45,00 e duas piriguetes R$4.60. Que zorra de carestia é essa?

   - Sei que o preço tá alto, mas, é uma ajuda que o senhor dá-me e isso não vai alterar sua fortuna - aquiesceu.

   - Bem, posso lhe pagar R$50,00 e mais a comida e as piriguetes, sendo que não tem pescada e sim um sarapel que a mãe da professora deixou ai na geladeira. Se você topar negócio fechado.

   Ramón astuciou bem, choromingou, pero, topou e faz um serviço direito deixando meu cachorro limpo e escovado, trabalho que durou mais de hora e meia e depois bateu um prato de sarapatel requentado e as duas piriguetes.

   E agradecido ficou: - Nesse momento de cinzas agradeço ao amigo e a Nossa Senhora de Guadalupe, confessou após dado o serviço como encerrado.

   - Não há se der nada. Pena que o amigo retorne ao México, o que vai deixar saudade.

   - Tenho que voltar, infelizmente, Mas, vou deixar um agente, uma promoter aqui na Bahia pra vê se ela consegue um patrocínio do governo para eu tocar com minha banda no Carmaval de 2018.

   - Peraí, você tambem está querendo mamar nas tetas do governo? - admirei-me.

   - Ora, Sêo Franco, se tá todo mundo mamando, e têm até aqueles que mamam e ainda protestam contra o governo, nada demais eu também participar dessa folia, frisou.

   - É, acho melhor v partir logo para Merida, aconselhei.

   - Vou, pero, volto. Senti que essa crise de vocês, acá, é pra uns; pra outros, fartura e bonança. E também quero participar.

   - Mas você é estrangeiro, não dá.

   - E onde está a diversidade que vocês tanto falam. Faço parte dela, da globalização, sem fronteiras, e já coloquei um nome bem brasis na banda: Ramón e os meninos de Portão.

   - É, pode ser, Deus lhe abençoe nessas cinzas e até 2018.