Cultura

CRÔNICA: Ramón, el mexicano, quer passar o Carnaval no Camarote 2222

Cara de peroba, el mexica, quer comer do bom e do melhor no 2222.
Tasso Franco , da redação em Salvador | 08/02/2017 às 11:06
Ramón, el mexica
Foto: Lua Gonçalas
   Estava cuidando de consertar uma torneira aqui em casa no Vilarejo quando a campainha toca. Vou atender e eis que me deparo com Ramón, el mexicano, o qual passa a temporada de verão em Lauro de Freitas e arranjou um bico para tocar no Galpão, ele que é bom de guitarra e de músicas caribenhas.

   - Buenos dias - falou-me pedindo desculpas pelo incômodo e perguntando se poderia entrar porque desejava falar algo importante comigo.

   - Você já está na beira do portão então vá entrando porque é até perigoso hoje em dia alguém ficar conversando na porta de casa, aquiesci.

   Ramón então entrou e sentamos numa varadinha que temos aqui no nosso rancho.

   - Que deseja assim de tão importante falar-me? - perguntei.

   - É que eu soube lá no Galpão que o senhor é amigo de dona Flora Gil e eu gostaria muito de passar o Carnaval na Barra, no Camarote 2222 - desembuchou.

   - Quem lhe deu a informação passou errado, pois, só conheço dona Flora de fotos e mal cumprimento Gil quando o vejo. Depois, mesmo se fosse amigo de dona Flora não iria pedir um convite para você, com todo respeito à sua pessoa, o qual sei pouco dos seus antecedentes - frisei.

   - Ora Sêo Franco! Sou um mexica do bem e quero apenas apreciar o Carnaval, pois, soube que do camarote de doutor Gil vê-se tudo da festa e dos desfiles dos trios, tem até uma varanda elétrica e come-se e bebe-se do bom e do melhor.

   - É isso que v quer. Comer e beber de graça e ainda assistir o Carnaval. O convite que posso lhe arranjar é para a Oceânica, que v também pode curtir o Carnaval numa boa - disse.

   - E onde fica esse camarote da Oceânica? 

   - Vai praticamente do Farol da Barra até Ondina e, se não tem o conforto do 2222, é mais amplo e arejado - sorri.

   - Que camarote grande é esse Sêo Franco! Deve ter o patrocínio de alguma cervejaria das melhores - enalteceu Ramón.

   - Sim, você vai encontrar cerveja em todos os pontos, em isopores, em tendinhas, em balcões e pode acompanhar os blocos de Carnaval sem corda e também os com cordas, mas, do lado de fora das cordas, na chepa, na pipoca.

   - Sêo Franco! O senhor tá é brincando comigo! Esse camarote deve ser a rua e lá não vou pois tenho medo. Tenho cara de mexicano, bigode de mexicano, fantasia de mexicano com meu inseparável sombrero e lá podem me triturar.

   - Nada! É um lugar muito agradável e v não vai pagar nada. Se quiser fazer xixi é só descer uma das escadas que dão para a praia e pronto. 

   - Mas lá não tem as comidas gostosas do 2222, ou do camarote de dona Fábio, do camarote do Além e minha situação financeira não é das melhores, daí insisto para o senhor fazer uma forcinha e conseguir meu convite para o 2222.

   - Cê compra um frango assado em Portão, onde v mora, põe numa sacola e leva com pães do MerkaAbate e pronto. E pode até levar umas 'piriguetes".

   - E que diabos são essas 'piriguetes'?

   - São latinhas de cerveja pequenas, deliciosas, pois, gelam rápido - expliquei.

   - A propósito Sêo Franco, como já estamos perto do meio dia o senhor não tem uma 'piriguete"aí pra nós?

   - Sabia seu cara de peroba que v iria me pedir uma gelada.

   Chamei dona Florzinha, minha esposa, e comentei: - Dá pra arrumar umas 'piriguetes' pra nós?

   Florzinha olhou-nos com a cara enfezada, mais emburrada do que aquela moça com cara que vai espirar que saiu do BBB: - Vou trazer porque sou uma senhora educada, mas, para malandros já estou com a cota no final para fechar o hotel.

   - Maravilha - comentou Ramón - ao abrir a latinha supergelada estilo Pólo Norte e completou: - A professora, la hermana de dona Florzinha, que o senhor disse ser abonada, poderia me ajudar a comprar esse farnel para o el Momo sugerido pelo amigo? 

   - A professora já retornou para o interior, à bendita Serra, e pra você não sair daqui me agourando vou solicitar a dona Florzinha que frite umas esphias, presentes de dona Abud, pra gente beliscar.

   - Ah! si, adoro, tapas. Si no hay jámon, que venga las esphias - comentou o mexic a essa altura já abrindo uma segunda latinha.

    Quando as esphias chegaram, dona Florzinha também colocou meia dúzia de quibes, Ramón caiu de boca e voltou a falar sobre o Carnaval.

   - Sêo Franco! Já que o senhor não consegue o convite para o camarote 2222 vou ter que me contentar com o Carnaval aqui do Vilarejo, que se chama Carnavalis, com concentração no Vilarejo Tênis Clube no próximo dia 18. O problema é que custa R$35,00 a camisa e mais 1k de alimentos não perecíveis e se o senhor poder me ajudar, esqueço de vez o 2222 e o Oceânica.

   - O mais que posso lhe arrajar é 1k de feijão carioquinha e o restante v se vira nos 30 - respondi.

   - Será que o senhor não consegue junto a professora um empréstimo para esse sofredor com o compromisso de pagar a dívida em 2018, assim que retornar novamente do México?

   - Não vou nem fazer essa proposta a professora. De toda forma, vou tentar, junto a um amigo que é conhecido de dona Flora, um convite pra você no 2222.

   - Florzinha subiu nas tamancas: se você consegui pra ele eu também quero ir para o 2222.

   Quase queimo minha boca com o quibe quente depois dessa tamancada.