Cultura

Braço de Radiola sofre muito para usar smarphone p/ OTTO FREITAS

O jornalista Otto Freitas escreve toda quinzena a coluna "Vida de Gordo" (Otto.freitas@terra.com.br)
Otto Freitas , Salvador | 22/01/2017 às 19:42
Só um dispositivo para ajudar o gordo
Foto: DIV

Um acidente de moto ainda na adolescência o deixou com o braço esquerdo ligeiramente torto. Por conta disso, lá na Ribeira, onde nasceu e vive até hoje, ninguém o conhece pelo nome próprio, mas todo mundo sabe quem é Braço de Radiola. Ele já está beirando os 60, carrega muitos quilos extras, e sua autoestima é tão alta quanto a igreja do Bonfim. 

Coroa solteirão convicto, como se dizia no século passado, recentemente começou a malhar, passou a cuidar dos longos cabelos anos 1970 e se veste melhor. Virou, praticamente, um gatão feroso; quando vê uma mulher bonita fica mais agoniado que o jegue de Amoreira. Já se livrou de alguns quilos, mas ainda permanece nos três dígitos. Tal e qual Narciso, Braço de Radiola só acredita no que vê em seu espelho - e assim vai vivendo feliz ao seu modo.

Para alimentar a alegria, cai no reggae com fervor: domingão é com Margareth no Mercado Iaô, na Ribeira; segunda é no ensaio do Harmonia e terça no Olodum; quinta no Psirico e sexta no Santinha, com Leo Santana. Com seu bracinho torto, o gordo dança e descansa, suando feito cuscuz, mas não perde a pose de gostosão. 

Vive atrás da sua crush, como se chama a paquera de hoje. Chegado a u’a moça estilosa, busca aquela pessoa que acredita estar à sua procura. Braço de Radiola acha que amor não tem idade. Nem só Temer, com quase 80, pode ter u’a Marcela tão linda e tão jovem para chamar de sua. Braço de Radiola, muito mais novo que o presidente, está convencido de que também pode. 

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Para completar o perfil perfeito de juventude e modernidade, Braço de Radiola trocou seu celular peba de museu por um avançadíssimo smart fone. Entrou nas redes com dedos e alma por necessidade estratégica: aproximar-se do mundo de hoje e chegar mais perto das moças, que já não conversam cara a cara, não usam telefone normal, nem se correspondem por e-mail. É tudo via celular - quase tudo, pelo menos. Braço de Radiola já estava se sentindo um dinossauro gordo e inadequado.

É certo que ainda vai demorar um tempo para o velhinho modernoso dominar completamente essa ferramenta. Ate porque, com as limitações impostas pelo seu bracinho torto e os dedos grossos das mãos gordas, ele zapeia naquele tecladinho de nada parecendo um urso tocando piano de criança; e desliza o dedão indicador sobre a tela com gestos tão largos como se estivesse empinando arraia lá na Ribeira. 

Como aprendiz afoito, Braço de Radiola já tem um time de amigos e seguidores maior do que a torcida do Bahia, em todas as redes sociais. O bicho ficou doido com tanta coisa para ler, tanto comentário a fazer e tanta resposta a dar. Está todo atrapalhado, mas um mistério já desvendou: com tanta foto, reza, corrente, piada, abobrinhas e papo furado, agora compreende porque os meninos passam dias e noites ao celular. 

De tanto digitar do mesmo jeito, vai todo mundo ficar com L.E.R. nas articulações dos polegares. Quanto a Braço de Radiola, pouco importa. A essa altura da vida, ele só quer se deitar nas redes...