Cultura

Gordo é quem sofre mais com a crise de desemprego. POR OTTO FREITAS

Otto Freitas escreve quinzenalmente para o Bahia Já a coluna "Vida de Gordo" otto.freitas@terra.com.br
Otto Freitas , Salvador | 08/01/2017 às 21:45
Até pra Rei Momo a onda agora é escolher magros
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Não adianta querer se enganar: com crise o sem crise, gordo tem mais dificuldade para arranjar emprego do que as pessoas comuns. Na seleção, já sai perdendo de cara com aquela exigência sub-reptícia escrota de boa aparência. Tem que ser branco, cabelos lisos, magro, saudável e bem vestido. Entre a gordinha feiosa competente, pós-graduada, e a magrinha linda, loura, gostosa, burra e de escolaridade baixa, fica a gostosa e fim de papo. Infelizmente ainda é assim, em pleno século XXI. 

Mesmo em raros tempos de fartura, gordo sofre para conseguir qualquer vaga no mercado de trabalho, seja qual for o nível. Além dos obstáculos a vencer por qualquer desempregado, o gordo sofre discriminação e preconceito, como todas as minorias, principalmente negros e homossexuais. Se for gordo, negro, gay, pobre e sem estudo, aí mesmo é que está fudido e passado o recibo. 

Derramando cinismo, as divisões de recursos humanos recorrem à desfaçatez como argumento. Justificam que se trata de uma questão de saúde e não de simples rejeição pela aparência física. Mesmo sem comprovação científica, alegam que trabalhadores gordos ficam doentes com mais frequência e apresentam baixa produtividade; rendem menos por falta de um bom condicionamento físico. Sem contar a velha lenda de que todo gordo é preguiçoso. 

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Daí que gordo não serve nem para call center, emprego onde ele fica invisível, trabalha o tempo todo sentado, e absorve gente sem experiência e com baixa qualificação. Gordo também não serve para a área de tecnologia da informação, ocupada pela garotada genial - talvez porque, mesmo sendo genial, o gordinho não consiga andar de skate, patins ou patinete. 

Quem está acima do peso também não pode se tornar um executivo, porque geralmente o gorducho é todo malafrojado e sua em bicas; executivo tem que passar o dia todo enfatiotado, sequinho, em ternos impecáveis, feito o novo prefeito de São Paulo, João Doria Júnior, que parece um boneco de cera. 

Enfim, nem para tocar no Olodum o gordo serve, pois não vai ter fôlego para cumprir todo o percurso do Carnaval, e muito menos fazer como aquele negão, que joga o surdo para cima com u’a mão só. Nem mesmo se presta para Rei Momo, que até já foi magro, mas voltou a ser gordo - mas só um pouquinho, que é para “dar exemplo”.

Resta, então, virar pagodeiro ou cantor sertanejo. Tem um monte de gordinhos e gordinhas fazendo sucesso e faturando alto neste segmento do show business. É aproveitar a onda, até que o Brasil aprenda a tratar gordos, velhos, deficientes, negros, índios e homossexuais com respeito e dignidade.