Cultura

JEFFINHO, o atleta olímpico e o triplo mortal carpado, p OTTO FREITAS

Em Vida de Gordo, Otto Freitas conta as aventuras de Jeffinho e os Jogos Olímpicos
Otto Freitas , Salvador | 14/08/2016 às 11:08
A imagem de semelhança de Jeffinho assistindo os jogos Rio 2016
Foto: DIV

Depois de uma vida inteira de muito sacrifício e superação, enfim Jeffinho estava a um passo de conquistar o seu sonho: ganhar a medalha de ouro, ser campeão olímpico no esporte ao qual se dedicou desde a tenra infância. Arena lotada, a torcida gritava freneticamente o seu nome. A caminho do lugar mais alto do pódio, Jeffinho se sentia como um deus no Olimpo.

Nessa hora, um filme inteiro passou por sua cabeça. Jeffinho se transportou para a Cidade Baixa, em Salvador, onde viveu sua infância pobre e difícil. Foi nesse tempo que o velho Florêncio, seu primeiro professor de educação física, prestou atenção naquele menino magrelo, ombros largos, disciplinado, e o escolheu como guia da turma, durante as aulas. 

Mas foi outro professor, o capitão Evilásio, que o introduziu nos esportes, depois de também escalar como guia da classe aquele garoto franzino que executava com perfeição as séries de exercícios. Jeffinho era um jogador de futebol horrível, não tinha jeito para esse esporte. Mas com o capitão Evilásio aprendeu fundamentos básicos de ginástica, corridas, esgrima, basquete, volei, arremesso de peso e de dardo.
 
O capitão queria identificar a modalidade ideal para aquele garoto - e não demorou muito para descobrir sua vocação para a ginástica, principalmente no solo. Obstinado, Jeffinho se tornou um atleta de ponta, contando com o apoio do professor e a ajuda da avó Celina, que bancava as despesas. Ficou íntimo de vários aparelhos. Não tinha japonês, ucraniano ou chinês, muito menos Hypólitos, Sasakis e Zanettis que o superassem. 

Era capaz, por exemplo, de fazer uma parada de mão apenas com o dedo mindinho. Realizava um salto triplo mortal carpado para os dois lados, para frente e para trás. Até batizou o movimento com o seu nome. Aquele japonês magricela, todo metido a besta, jamais ganharia a medalha de ouro caso competisse com Jeffinho, que voava alto e pousava como uma borboleta, como falou a comentarista da TV.

                                                                         @@@@@@

A gritaria da torcida trouxe Jeffinho de volta do seu passado sofrido para o momento de glória. Ele tremia mais do que vara verde, quase se mija nas calças de tanta emoção. O locutor chamou o seu nome; a arena olímpica estremeceu. Era chegada a hora tão desejada. 

Jeffinho curvou-se, quase em choro convulso, para receber sua medalha de ouro... e caiu do sofá, abraçado a um pote de pipoca, enfiando a cara em um saco gigante de batata frita. Acordou azoado, com a boca toda suja de sorvete de chocolate; vestia o velho e surrado Colhão Solto, apelido carinhoso do seu pijamão preferido. Foi tudo um sonho, do qual despertou bem na hora em que a judoca Rafaela Silva recebia a sua medalha de ouro.

Desde que as olimpíadas começaram Jeffinho não sai do sofá; ele gosta muito de ver as competições pela TV. Assim, reforçou a despensa e a geladeira e promete ficar lá até o fim dos jogos. Quem sabe ele sonha novamente.