Cultura

BANDO ANUNCIADOR abre festejos para Senhora Sant'Anna em Feira

Com informações do Grande Bahia e Feirense, portais
Da Redação , Salvador | 10/07/2016 às 15:25
Figura popular no Bando
Foto: Jânio Rego
  O Bando Anunciador desfilou neste domingo pelas ruas de Feira de Santana anunciando as cpomemorações da Festa de Senhora Sat'Anna, padroriera da cidade, festa que acontece dia 26 próximo.

Alegria, cores, música e tradição. Encontro de gente, de representantes dos diversos cantos da cidade, todos juntos anunciando o início da Festa de Sant’Ana. Neste ano, a história se repetirá durante a 10ª edição do Bando Anunciador . O evento é promovido pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), através do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca).

O cortejo teve início às 7 horas, em frente ao Cuca, na rua Conselheiro Franco. De lá seguiu até a Igreja dos Remédios, passou por trechos das avenidas Senhor dos Passos e Getúlio Vargas, da rua Marechal Deodoro, Beco do Mocó, de onde seguiu até a área externa da Catedral, com acesso ao tradicional Coreto.

Bando história

Não dá pra falar do Bando Anunciador sem antes dar uma “pincelada” sobre o começo de Feira de Santana, esta cidade nascida em uma fazenda, no início do século XVIII. O casal Domingos Barbosa e Ana Brandoa, descendentes de portugueses, comprou a Fazenda Olhos D’água das mãos do sesmeiro João Peixoto Viegas. Fazenda de Santa Anna dos Olhos D’água, assim foi rebatizada. Domingos e Ana eram muito católicos, devotos de São Domingos e Sant’Ana, e doaram à Igreja uma parte de suas terras para a construção de uma capela, que hoje é a Igreja Matriz Nossa Senhora Santana.

Naquela época (1732), a construção da capela beneficiou o surgimento de uma feira logo ao lado, que virou ponto obrigatório dos tropeiros e viajantes que passavam do sertão e de outros Estados em direção ao porto de Cachoeira. E assim começou o próspero comércio de gado.

Após 49 anos da construção da capela, ou seja, lá em 1781, o então arcebispo da Bahia autorizou a celebração da Festa de Santana, que era organizada por uma irmandade ou por comissão previamente escolhida para organizar os festejos, geralmente pessoas da elite feirense, em especial os comerciantes.

NASCIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DO BANDO ANUNCIADOR

O Bando Anunciador só veio em 1860. Era um grupo de pessoas que saía bem cedo pelas ruas do centro da cidade (assim como hoje), anunciando o início da Festa de Sant’Ana. A diferença é que isso acontecia com dois meses de antecedência, e não uma semana (como hoje). Nesse primeiro momento, o bando era composto por homens. As mulheres rezavam, ornamentavam a Igreja, promoviam o evento e encaminhavam as novas gerações para as práticas católicas. Aos escravos cabiam as atividades braçais do festejo, como a lavagem da Igreja.

Ao longo das décadas, o Bando foi mudando seus contornos. Em 1930, já com 70 anos de rua, ele já se dividia em vários bandos dentro do Bando Anunciador e ocorria (como hoje) uma semana antes da procissão de Santana. O cortejo era o momento mais disputado da Festa. 

As “mulheres de família” já participavam. E com gosto: em automóveis ornamentados com temas específicos, lá estavam elas, fantasiadas e dançando ao ritmo de samba e orquestra, distribuindo poesias e folhetos com a programação da Festa de Santana. Mesmo com a sociedade fortemente patriarcal, as mulheres conseguiram minimizar a barreira de gênero e dividir com os homens esse momento dos festejos. As pessoas menos abastadas só poderiam participar do Bando se estivessem adequadas ao padrão do desfile: com luxo e pompa. “É o poder, é o poder, é o poder da ostentação”. Brincadeiras à parte, rs, a hierarquia social seguia com força.

Estudiosos e arquivos de jornais da cidade, como o antigo Jornal Feira Hoje, apontam que a comissão organizadora era formada por 50 ou 60 pessoas financeiramente relevantes e que eram responsáveis por arrecadar fundos para os festejos. Entre os que desfilavam no Bando estavam a comissão, a agremiação feirenses dos festejos de momo e os blocos carnavalescos, como “As Melindrosas” – bloco de mulheres, em sua maioria filhas de lavadeiras do Tanque da Nação.

Na década de 40, o candomblé, que compreendia Nossa Senhora Sant’Ana como Nanã, uniu-se à festa, realizando seu culto na tradicional lavagem do adro (área externa) da Igreja, num rito de purificação que preparava o templo para os louvores da festa desde os tempos da escravidão. Além da lavagem do adro da Matriz, era feita também a levagem da lenha. Levagem era o carrego de lenha para iluminar a festa, em tempos em que não havia energia elétrica na cidade. A levagem era realizada pela população.