Cultura

Exposição Armadilha das Nuvens - Andrea Fiamenghi na Galeria Acbeu

Andrea Fiamenghi em 21 fotos é a exposição na Galeria Acbeu
Tiago Nery , Salvador | 03/06/2016 às 18:59
Exposição Armadilha das Nuvens - Andrea Fiamenghi na Galeria Acbeu
Foto: Divulgação

Sentindo a fotografia como objeto de comunicação com o mundo, uma conexão com as pessoas e neste o sentido de desejar levar a mobilização para o inesperado, para o poético, para uma realidade da fantasia, Andrea Fiamenghi busca nesta linguagem não simplesmente o estético, o bonito, mas uma ação que retrate a sua subjetividade. “Quero que minha fotografia seja o inesperado, o subjetivo, o não obvio a surpresa de enxergar em outros paramentos. Desconstruir uma fotografia lógica. A possibilidade de conseguir abstrair do mundo prático e ir para um mundo sensível, sem muitas explicações, onde as coisas falem por si só”.

Afirmando que foi fazer fotografia porque esta consegue absorver instantes mínimos, que se formam no universo por somente uma vez, porque sua sensação diante das fotos é a de um registro que torna eterno o instante decisivo. “Fotografar para mim é como recurso que utilizo ou para documentar algo importante ou um recurso que utilizo mobilizar o outro com a minha maneira de olhar o mundo. Descobri através da minha fotografia que as pessoas enxergam o mundo de formas completamente diferentes. Como cada um de nós enxerga? Através da sua sensibilidade e repertório de vida. Uma série de componentes genéticos, históricos, ancestrais, culturais. A fotografia possibilita mostrar a minha forma sensível de ver o mundo, as pessoas”.

A partir do dia 17 de JUNHO, na galeria do ACBEU (Av. Sete de Setembro, 1883 - Corredor da Vitória) Andréa Fiamenghi apresenta a mostra Armadilha das nuvens, com 21 fotografias em processo digital, formato 1 m x 66 cm, realizados na técnica pigmento mineral sobre Canson Museu Pro Canvas 385 mg mais tensionamento em chassis, com temporada até 9 DE JULHO, visitação aberta ao público de segunda a sexta das 14h às 20h / Sábados das 9h às 13h. A exposição tem como temática o mar, um mar cinza, um mar de chuva, um mar agressivo, com texto de apresentação e curadoria de Claudius Portugal.

 

O tema da mostra: O mar

O que me levou a temática do mar foi um sonho que tive. Deveria fotografar o mar. Achei estranho. Porque o mar? Pensei em um mar de Dorival, que é lindo, muito luminoso... Mas nesse momento estava mais propensa ao um lado sombrio, com muitos questionamentos sobre busca de sentido para aceitação de muitas inquietações sobre a existência, busca do sentido da vida. Disto veio a identificação com a turbulência do mar selvagem, com nuvens. Um mar que me representasse profundamente. Queria compreender a angústias da vida através da natureza.

O mar desta mostra aflorou o meu silêncio que tanto procurava, me enfeitiçou, foram horas observando calada. E descobrir que ele berra, e nunca ouvimos porque estamos deslocados do nosso próprio entendimento. Figuras abstratas começaram aparecer, fenômeno quando o mar se cruza entre ondas uma única vez e nunca mais. O resultado são imagens quase abstratas de movimentos das ondas formando figuras que jamais se formaram novamente.

Enfim, o mar desta mostra representa para mim um movimento de oscilações nervosas tempestivas e suaves, onde a natureza tem permissão de gritar mesmo que em silêncio e avançar os espaços em que muitas vezes não são convidados. É bom ficarmos atentos à natureza porque fazemos parte desse movimento de oscilações constantes.

 

Apresentação: Armadilha das Nuvens, p/Claudius Portugal

Mar gris, mar cinza/negro, mar chumbo, espumas alvas, nos seus movimentos a bruteza a violência a força ao bater na pedra, no concreto, no ferro, tormenta das águas configurando outros significados a este mar.

Andréa Fiamenghi configura nestas imagens outros significados fixando uma natureza indomável quando esta vive a ausência solar e a distância do azul, bem longe da terra-verão, mar de cartão postal tão visto e reproduzido.

 Estamos diante de fotos que inscrevem sobre a superfície das águas a revolta das águas, um mar agressivo em sua imagem silenciosa. Aliás, seria bom reconhecerdefinitivamente que o silêncio não existe. Ouçamos as batidas do coração.  

Estas imagens existem apenas para os que não são capazes de mergulhar o abismo. Traduzido aqui na beleza do mistério de ser, todo ele movimento ao bater e ecoar no sólido de corpos mesmo quando estes desejam perceber a vida através apenas do afeto.

Ao apresentar o registro de um mar bravio que ressoa ecoa em suas águas o mistério do existir, estas fotos nos oferecem o que se forma através de uma Armadilha das Nuvens que passam ou param ou pairam para espalhar e transformar nossos sentidos (seria melhor dizer sentimentos?) sobre o mar, este mar da Bahia.

 

Andrea Fiamenghi: Trajetória

Andréa Fiamenghi  nasceu em São Paulo. Vive na Bahia desde os quatro anos. Ao encantar-se com a obra de Pierre Verger, deste encontro surge toda uma influência que converge inicialmente em procurar retratar o povo nas ruas da Bahia - olhar com este seu olhar o rosto desta gente - quando passa em seguida a desenvolver pesquisas e a ter como mestre, com este já vivenciando a amizade e a convivência, e dele ouvindo, não conselhos, pois não era chegado a isto, mas uma precisa e exata leitura dos seus trabalhos. Este mestre é Mario Cravo Neto. Depois vem, por assim dizer, o momento dos cursos e estudos técnicos com Walter Firmo e Marcelo Reis, onde aprende principalmente a utilização das cores.  Em maio de 2016 realiza em Portugal, no Porto, o Workshop “Platinium Paladium Printer” com Manuel Gomes Teixeira.

  Sua primeira mostra individual foi em 2004, na Sala de Arte do Bahiano de Tênis, em Salvador/Bahia.  Em 2012, nova exposição, desta vez em São Paulo/SP, com o nome “Salve babá, salve odoyá, festa de santo na Bahia”, com apresentação de José Carlos Capinam. Neste mesmo ano lançou o livro de fotografias "Paredes planas", com textos de Claudius Portugal, na série Comparsas, da editora P55. Participou, entre outras, desde 2003, das seguintes coletivas: “Olhares Baianos”, galeria Acbeu - com Valeria Simões, Mario Neto, Célia Seriano (2006); “Minas com Bahia” na loja Líder (2011); "Corpo imagem dos terreiros", Caixa Cultural - Galeria Acervo, Brasília/DF (2014). Recentemente mostrou um ensaio “Olhares de Criança” no site www.ibahia.com, coordenado por Marcelo Reis; participou pela quarta vez, em 2014, da Casa Cor Bahia, e em 2015 do Circuito das Artes, com mostra na galeria Cañizares.