Cultura

NILO destaca que São João é maior do que Carnaval na festa de Zelito

Aconteceu nesta noite de quinta-feira no Restaurante Grande Sertão, em Salvador
Tasso Franco , da redação em Salvador | 19/05/2016 às 22:09
Marcelino Nilo com o autor e deputados durante o lançamento
Foto: BJÁ
  Durante o lançamento nesta noite de quinta-feira, 19, no Restaurante Grande Sertão, em Salvador, do livro do forrozeiro Zelito Miranda editado pela Assembleia o presidente da Casa classificou o São João como a festa mais importante e mais abrangente da Bahia, "muito mais do que o Carnaval porque está presente em 417 municípios da Bahia" e disse que a lei aprova pela ALBA proteje os forrozeiros pés-de-Serra e grupos menores com o apoio de contratações oficiais".

   O lançamento contou com as presenças dos deputados Jorge Solla, Marcelino Galo e Davidson Magalhães, dos vereadores Euvaldo Jorge e Claudio Tinoco e de vários cantores forrozeiros, entre eles, DelFeliz e Cicinho de Assis. Zelito estava emocionado e disse que se sentia muito feliz pelo apoio da ALBA e recompensado pelo trabalho realizado em produzir um livro contando sua história.

   O livro integra a Coleção Gente da Bahia da Assembleia Legislativa. A autobiografia de Zelito Miranda é o 45º livro do acervo e traz a história do Rei do Forró Temperado narrada a partir da sua própria perspectiva. História iniciada em 30 de agosto de 1953 na fazenda São Miguel a sete léguas da sede de Serrinha, município localizado a 173 km de Salvador, onde Zelito mora atualmente.

 A biografia é um passeio pela segunda metade do século XX e início deste século XXI que entrou, como o próprio Zelito afirma, arrojado feito um tsunami. “De longe, lá do mato, sem me dar conta, passei por um golpe militar no país, a dita revolução de 1964. Um pouco antes, Fidel e Che Guevara conquistavam o poder em Cuba derrotando o tirano Fulgêncio Batista. As inquietações eclodiam: guerra no Vietnã, contracultura, Leila Diniz, napalm, coisas do século XX. E eu, estava lá no sertão, enclausurado no meio da caatinga, enquanto a pequena Serrinha caiu no ostracismo como todo o país caiu. Ainda garoto não entendia o que se passava”, escreve o cantor, compositor, escritor e forrozeiro já no início do título.

 Cordelista e amante da arte em todas suas vertentes, como também se autodefine, Zelito coloca os pés no chão ao antecipar aos leitores que não pretende fazer uma “análise cultural dos anos 70 para cá, mesmo porquê, por mais simples que fosse esse intuito, não caberia em apenas um livro, seria no mínimo uma série. Peço licença a todos que participaram dessa viagem através do tempo e aqui foram citados ou não. Os brothers, loucos, lunáticos, poetas, compositores, literatos, políticos, pintores, enfim, amigos que encheram meio aió e o borná com histórias que o tempo não pode esquecer. Espero que cada um de nós escreva mais sobre nossa época”.

O jornalista Sérgio Matos, a quem coube escrever o prefácio da autobiografia, ressalta que Zelito demonstra seu saber de articulador, lançando mão de elementos narrativos, revelando a força e consistência de todas as suas experiências e saberes adquiridos ao longo da vida, uma espécie de autoconhecimento. Ao relatar suas lembranças, compartilhando seus segredos, Zelito deixa seu esconderijo individual, para se expor num mundo compartilhado e coletivo, que é a vida, com suas alegrias e tristezas, vitórias e derrotas”.

Ainda neste prefácio, Matos destaca que Zelito é o resultado de suas escolhas, de suas experiências no contexto socioeconômico, cultural e político no qual está inserido. Com magia, ele soube sonhar e construir o seu presente e, no seu imaginário sociocultural, muito ainda está por ser realizado no amanhã. Ao recordar sua história de vida voltando ao passado, ele bebe na fonte a água poderosa de Serrinha para realimentar seu imaginário, seu poder criativo, sem o qual sua vida não teria sentido.

 Amigo de Zelito Miranda, Claudius Portugal, revela que a leitura da tradição que Zé Miranda – como chama a Zelito – trazia da sua terra, Serrinha, interior da Bahia, expandia-se, e dela edificava, por uma trajetória que passa pelo teatro, um caminho pelo mundo, onde passava a adquirir um olhar que, em lugar de deixar o passado para trás, o colocava no futuro, abarcando temas, suas letras são narrativas e reportagens sobre uma situação, uma circunstância, um fato, como sempre fez e faz um bom cordelista (arte que conhece profundamente) ou um cantador nas suas pelejas. Ao lado disto, nada de não ver a cidade abarcar o urbano, a metrópole, com toda sua desigualdade e suas idiossincrasias”.

HOMENAGENS


Através da coleção “Gente da Bahia”, a Assembleia Legislativa homenageou mestres de capoeira (Pastinha e Bimba); alfaiates (Spinelli); cangaceiras (Maria Bonita); artistas plásticos (Juarez Paraíso, Calasans Neto e Hansen Bahia); escritores (Guido Guerra); médicos (Aristides Maltez e Juliano Moreira); cientistas (Elsimar Coutinho e Milton Santos);  compositores populares (Riachão e Gordurinha).

 E também músicos eruditos a exemplo de Carlos Lacerda, Walter Smetak e Lindemberg Cardoso; políticos como Chico Pinto e Nélson Carneiro. Além de personagens como o cartunista Lage, o arquiteto Sílvio Robatto, o abade Dom Temóteo Amoroso, cineastas como Roberto Pires; jornalistas como Jorge Calmon e Simões Filho; e até a doce louca da rua Chile, a Mulher de Roxo.