Cultura

INSOSSO E SEM GRAÇA, frango jamais será galinha, por OTTO FREITAS

Para falar com Otto: otto.freitas@terra.com.br
OTTO FREITAS , Salvador | 17/04/2016 às 16:00
A galinha da vovó Celina
Foto: DIV
Vovó Celina criava galinha com afeto e prazer. Eram todas batizadas com nomes próprios - Rosa, Anabela, Boneca, Angela Maria, Cristina... No galinheiro quem mandava era Cauby, com sua crista vistosa. Era o que se chama hoje de galinha de quintal, caipira ou orgânica, que a gente só encontra em feiras livres ou no interior, e olhe lá!

Mas o mundo mudou. Antigamente as galinhas viviam comendo e ciscando no terreiro durante o dia e à noite dormiam no poleiro. Hoje são prisioneiras. Vivem tristes, enclausuradas em gigantescos galpões com iluminação artificial controlada, nunca veem o sol. A alimentação mecanizada inclui farelo de milho, muita química misturada, e água em gotas, jamais diretamente da natureza.

Quando Jeffinho ainda era menino, o ciclo natural da cantora era ovo, pinto, frango e galinha (ou galo, naturalmente). Hoje em dia o frango jamais chega a ser galinha. Tem muito menino por ai que nunca viu uma galinha na vida e frango só na TV ou assando na televisão de cachorro. 

Frango de corte cresce mais rápido do que pipoca; é o chamado pintinho inchado, todo parrudinho, entupido de hormônios. Praticamente não curte a infância e a adolescência, nem sabe o que é família. O coitado nasce, cresce junto com uma multidão e morre em apenas 40 dias, mais ou menos. 

Nessa pressa e nessa agonia toda, o Brasil se tornou o segundo maior produtor de frango do mundo, depois da China, com mais de 13 milhões de toneladas/ano. O país produz atualmente 45% de carne de frango, 36% de boi e apenas 12% de porco. 

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Esse desempenho ajudou a baixar o preço final para o consumidor brasileiro. É a carne mais barata disponível no mercado - barata, mas sem atrativos. É sem graça, sem a umidade e maciez que tornam as carnes naturalmente saborosas e atraentes ao paladar. 

Como o frango morre cedo não tem tempo de virar galinha; sua carne não pega tempero direito, não ganha personalidade, muito menos textura, cor e sabor dignos de uma canja substantiva, ou de uma suculenta receita ao molho pardo, daquelas de deixar um apreciador gabaritado como Don Franquito com água na boca. Esse frangote metido a gato mestre tampouco serve direito a um xinxin decente, com dendê e camarão seco, para enriquecer o caruru de São Cosme.

Talvez por isso dietas de doente ou para emagrecer sempre incluam essa carne branquela com gosto de nada. Os fundamentalistas magrelos gostam de tirar onda, exaltando um falso prazer de comer “franguinho” com rúcula, como se fosse uma alimentação light e saudável. 

Sabem de nada, esses inocentes! No fundo, no fundo, esse prato pobre em gorduras e calorias é uma bomba de venenos variados, entre hormônios e agrotóxico. Tudo disfarçado de comida saudável em forma de carne branca insossa e folha amarga.